Resultados insatisfatórios da Petrobras? A comparação com outras majors de petróleo mostra outra realidade

André Leão
Jornal GGN
Imagem da frente da sede da Petrobras, localizado no Centro do Rio de Janeiro. Foto: Celsopupo/Getty Images.

A decisão da Petrobras de não pagar dividendos extraordinários para os acionistas da empresa ganhou enorme repercussão na opinião pública. Diversos atores manifestaram-se a respeito do anúncio. O mercado foi quem reagiu mais fervorosamente, derrubando o valor de mercado da companhia em aproximadamente R$ 55 bilhões.

 

Imagem da frente da sede da Petrobras, localizado no Centro do Rio de Janeiro. Foto: Celsopupo/Getty Images.

Com exceção da Saudi Aramco, Petrobras foi quem pagou os valores mais altos a seus acionistas. (Foto: Celsopupo/Getty Images)

 

A imprensa enfatizou o suposto conflito entre o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o presidente Lula. Inicialmente, Prates afirmou que Lula não havia interferido na tomada de decisão. No entanto, posteriormente, disse que a orientação de retenção dos dividendos havia partido do Palácio do Planalto, ponderando que não se tratava de uma intervenção, mas de um exercício soberano dos controladores da empresa. Afinal, o Governo Federal é o acionista majoritário.

 

Para acalmar os ânimos do mercado, os ministros da Fazenda e de Minas e Energia, respectivamente, Fernando Haddad e Alexandre Silveira, afirmaram que o governo poderia rever a decisão futuramente. 

 

Toda essa celeuma pretendeu expor resultados aparentemente negativos da Petrobras. Entretanto, quando se analisam os números divulgados comparativamente a outras majors de petróleo, a companhia brasileira foi quem pagou os valores mais altos a seus acionistas, com exceção da Saudi Aramco, que desembolsou US$ 97,78 bilhões.

 

Imagem retangular com fundo branco e bordas azuis; o texto chama o público a se inscrever na lista de transmissão do Ineep no WhatsApp.

 

Mesmo apresentando queda de quase 50% em relação a 2022 e sem distribuir os dividendos extraordinários, segundo dados da Economática, em 2023, a Petrobras pagou US$ 20,28 bilhões, bem à frente das norte-americanas ExxonMobil (US$ 14,94 bilhões), Chevron (US$ 11,34 bilhões) e ConocoPhillips (US$ 5,58 bilhões), da britânica Shell (US$ 8,39 bilhões) e da italiana Eni (US$ 3,39 bilhões).

 

Além disso, os resultados no setor de exploração e produção de petróleo e gás natural também evidenciam a resiliência da Petrobras. De acordo com dados divulgados pela companhia, em 2023, a produção aumentou 3,7% em comparação ao ano anterior, já que foram extraídos 2,78 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), superando os 2,68 milhões de 2022. 

 

Impactos da conjuntura global de petróleo

Diante de uma conjuntura global bastante desafiadora – permeada por dois conflitos em curso e por ataques a embarcações no Mar Vermelho, que é uma importante rota de transporte de petróleo – e em face a um cenário de queda de 18% dos preços internacionais (brent) do barril do combustível em 2023 (em comparação ao ano anterior), todas as majors supracitadas não suportaram essas dificuldades impostas pelo turbulento cenário global, tendo apresentado redução do lucro líquido.

 

Embora a Petrobras tenha divulgado resultado inferior (lucro líquido de R$ 124,6 bilhões em 2023, contra R$ 188,3 bilhões em 2022, constituindo uma diminuição de 33,8%), ainda assim foi o segundo melhor desempenho da história da companhia. 

 

A Saudi Aramco reportou uma queda no lucro de aproximadamente US$ 40 bilhões (US$ 121,27 bilhões em 2023, contra US$ 161,06 bilhões em 2022), o dobro da ExxonMobil, cujo lucro encolheu em US$ 20 bilhões (US$ 36 bilhões em 2023, contra US$ 55,7 bilhões em 2022); a Chevron divulgou redução de US$ 14 bilhões (US$ 21,4 bilhões em 2023, contra US$ 35,4 bilhões em 2022); a Shell apresentou uma diminuição de pouco mais de US$ 11 bilhões (US$ 28,2 bilhões em 2023, contra US$ 39,9 bilhões em 2022); a ConocoPhillips teve queda de US$ 7,7 bilhões (US$ 11 bilhões em 2023, contra US$ 18,7 bilhões em 2022); e o lucro da Eni decaiu em torno de € 5 bilhões (€ 8,29 bilhões em 2023, contra € 13,3 bilhões em 2022).

 

Observando todos esses dados, as críticas à decisão do Conselho de Administração da Petrobras de não distribuir, ao menos neste momento, dividendos extraordinários aos acionistas mostram-se exageradas e infundadas.

 

 

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A análise sobre a situação da companhia deve ter sempre como parâmetro a conjuntura global de petróleo, tendo em vista que os preços do combustível são norteados pelo cenário internacional, que a empresa compete com outros grandes players no mercado, e que outros fatores da geopolítica mundial – como os conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio – afetam todos os atores envolvidos na cadeia de produção de petróleo e gás natural.

 

Desse modo, perante esse quadro que se apresenta atualmente, a Petrobras demonstra solidez em seus resultados e oferece uma perspectiva de que é possível ter como primazia o desenvolvimento do Brasil, em vez de apenas preocupar-se com a remuneração dos acionistas.

 


 

Artigo publicado originalmente no Jornal GGN.

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