Vale tudo para dizer que os investimentos em refino da Petrobras são ineficientes

Eduardo Costa Pinto
Folha de S.Paulo
Vale tudo para dizer que os investimentos em refino da Petrobras são ineficientes

O economista Samuel Pessôa publicou na Folha (20/08) a coluna “Por que é tão caro construir refinarias no Brasil?”, que analisa o quanto o investimento em refino feito pela Petrobras impactou, entre 1954 e 2020, na ampliação da capacidade das refinarias de processar petróleo.

 

Entre 1954 e 2002, segundo a análise, teriam sido investidos em expansão do refino US$ 27 bilhões, ao passo que, entre 2002 e 2016, os investimentos teriam somado US$ 101 bilhões. Com isso, no primeiro período, o custo da capacidade de refino por barril de petróleo processado por dia foi de US$ 13 mil e, no segundo período, de US$ 264 mil, ou seja, 20 vezes superior ao período anterior e 13 vezes acima do custo internacional de US$ 30 mil.

 

» Leia também outros artigos sobre Estratégia produtiva e tecnológicaClique aqui.

 

A coluna conclui: “Talvez seja mais eficaz alterar toda a regulação do setor para que a construção de refinarias, se e quando for rentável, fique a cargo de empresas privadas”. Os dados utilizados pela coluna foram extraídos do estudo A ineficiência do investimento em refino da Petrobras nos anos 2000, e Pessoa é um dos seus autores.

 

Vale tudo para dizer que os investimentos em refino da Petrobras são ineficientes

Eduardo Costa Pinto, representando o Ineep, em audiência pública no Congresso em 2019. Reprodução: YouTube / Câmara dos Deputados.

Os argumentos da coluna estão apoiados em resultados equivocados do estudo, que apresenta erros conceituais que afetaram a definição de sua principal variável: os investimentos em expansão do refino. Esse fato distorce os resultados superestimando os investimentos.

 

Explico: o estudo utilizou o Capex do refino, transporte e comercialização da Petrobras (deflacionando-o) como se fosse o investimento em expansão de capacidade do refino da Petrobras. Não é.

 

Nesses US$ 101 bilhões estão incluídos os investimentos em transporte (cerca de US$ 13,6 bilhões com expansão de dutos e compra de navios, entre outros). Também inclui os investimentos em refino de modernização, conversão e outros (US$ 35 bilhões) e em qualidade dos combustíveis (US$ 27,4 bilhões).

 

O estudo somou jaca com banana. Na verdade, os investimentos da Petrobras em expansão do refino, entre 2002 e 2016, não foram de US$ 101 bilhões, conforme coluna, mas sim de cerca de US$ 24 bilhões.

 

O colunista teve acesso às minhas críticas e afirmou, em sua coluna de domingo último (22/08), que “em ambos os períodos houve investimento para expandir a capacidade, em transportes e em modernização e melhora da qualidade”. É evidente que em ambos os períodos ocorreram esses tipos de investimentos, mas em qual a proporção? Sem isso não dá para comparar períodos, muito menos com os custos internacionais. O colunista insistiu em somar jaca com banana.

 

Me surpreenderam os erros do estudo. Fiquei ainda mais surpreso com o argumento de defesa após as críticas. Depois disso, caiu minha ficha. Não, não é uma questão de dados ou números. Na verdade, o estudo, tem como premissa a defesa do não investimento no refino da Petrobras (ideologia neoliberal) transvestida de tecnicalidade.

 


 

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo.

Comentar