Redução dos investimentos da Petrobras: um balanço das perdas

Eduardo Costa Pinto, Esther Dweck
Carta Capital

O emprego e a renda foram devastados. Os setores produtivos que mais perderam foram: extração de petróleo e gás, máquinas e equipamentos. Outros equipamentos de transporte e serviços prestados às empresas

Com a descoberta do pré-sal, o setor de petróleo e gás ganhou crescente importância para a economia brasileira. A descoberta transformou o País em um ator potencialmente relevante, bem como como uma nova fronteira de investimentos.

Entre 2003 e 2013, a expansão dos investimentos da Petrobras, tanto na E&P (exploração e produção) do pré-sal como no refino (e sua cadeia logística), proporcionou um expressivo dinamismo para a indústria de petróleo e para a cadeia de fornecedores nacionais.

Aquela estratégia refletiu, por um lado, a busca por mais lucros e, por outro, um projeto em curso de desenvolvimento centrado no fortalecimento da indústria brasileira.

Os investimentos estimularam a geração de renda e emprego nos setores de petróleo e gás e refino como também em outros setores da economia brasileira em virtude das relações intersetoriais tanto a montante como a jusante dos investimentos.

Com a crise do setor que se instalou no fim de 2014 – fruto da queda do preço do petróleo, das dificuldades financeiras Petrobras e dos efeitos da Operação Lava Jato (que desestruturou a cadeia de fornecedores nacionais com as recuperações judiciais e o fechamento de diversas empresas) –, a companhia adotou a partir de 2015 uma estratégia de venda de ativos e de drástica redução dos investimentos.

Pedro Parente, ao assumir a presidência da Petrobras em 2016, durante o governo Michel Temer, refez o plano de negócios da empresa, mudando os seus eixos estratégicos que passaram a ter como objetivos: (i) a concentração de atividades em E&P no pré-sal, reduzindo o seu papel nas outras áreas; e (ii) a redução acelerada do nível de endividamento por meio do desinvestimento e da redução dos investimentos.

Cálculos

A queda dos investimentos da Petrobras impactou negativamente no PIB e no emprego brasileiro entre 2016 e 2017. Buscando estimar esses impactos o Ineep realizou uma pesquisa, denominada Impactos Econômicos do Investimento da Indústria de Petróleo, que construiu os vetores de investimentos (Petróleo e Gás e Refino) – utilizando o método da Matriz de Absorção do Investimento (MAI) desenvolvido pelo Grupo de Indústria e Competitividade do IE/UFRJ – para em seguida estimar os impactos econômicos.

Os resultados dessa pesquisa mostraram que o investimento: 1) de 1 bilhão de reais realizado no E&P impacta na geração de 1,28 bilhão no PIB e de 26.319 ocupações; 2) de 1 bilhão de reais realizado no refino implica na geração de 1,27 bilhão no PIB e de 32.348 ocupações. Esses resultados levam em consideração apenas os encadeamentos produtivos na cadeia de fornecedores dos investimentos, sem incluir o efeito renda sobre o consumo.

A partir desses resultados estimou-se as perdas decorrentes da queda dos investimentos de 27 bilhões de reais da Petrobras no E&P e no Refino.

Entre 2016 e 2017, os investimentos caíram 23 bilhões de reais na produção e 4 bilhões no refino. Perderam-se 605 mil empregos no primeiro segmento e 134 mil no segundo. As perdas para o PIB foram, respectivamente, de 29 bilhões e 5 bilhões de reais.

Os setores produtivos que mais perderam foram: extração de petróleo e gás (fabricação de máquinas para perfuração e sondagem); máquinas e equipamentos; Outros equipamentos de transporte (fabricação de embarcações); e serviços prestados às empresas (projetos, construção, montagem, etc.). Em termos de emprego as perdas foram de 55 mil, 86 mil, 52 mil e 232 mil, respectivamente.

Esses resultados evidenciam os impactos negativos da redução dos investimentos da Petrobras tanto sobre a renda e o emprego da economia brasileira quanto sobre a cadeia de fornecedores nacionais dos setores que fabricam equipamentos para o setor de petróleo e gás.

Artigo publicado na Carta Capital.

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