Preços dos combustíveis podem sofrer pressão da alta das commodities

Carla Borges Ferreira, William Nozaki
Preços dos combustíveis podem sofrer pressão da alta das commodities

O coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombutíveis (Ineep) William Nozaki previu ontem que o mercado brasileiro de combustíveis deverá passar por novas turbulências, ao longo deste ano, em função da alta das commodities no mercado externo. “Isso vai impor novos desafios para a atual gestão da Petrobras”, comentou ele, adiantando que sem uma solução definitiva para a atual política de preços o cenário previsível é de novos sobressaltos, tensões entre atores sociais e econômicos e ameaças de greve.

 

Preços dos combustíveis podem sofrer pressão da alta das commodities

Ilustração: Ineep.

As previsões de Nozaki foram feitas ao longo do webnário realizado pelo Ineep, na noite de ontem (04/05) sobre “Queda na isenção de impostos federais do diesel”, do qual também participou a pesquisadora do Instituto Carla Ferreira. Ao longo do evento, eles apresentaram a estrutura dos preços do diesel e da gasolina, analisaram a atual política de preços adotada pela Petrobras e apontaram soluções para os reajustes dos combustíveis.

 

Na opinião da pesquisadora, a política que tem sido implementada é de “desresponsabilização”, de tentativas paliativas, que não resolvem o problema e que não têm uma coordenação geral de todos os atores envolvidos na cadeia de preços dos combustíveis. “Diante de um cenário de aumento de commodities, isto talvez venha a piorar”, disse Ferreira, referindo-se a possíveis turbulências no mercado de combustíveis, com reflexos econômicos e sociais.

 

Para ela, o processo de privatização das refinarias da Petrobras, se for de forma contínua, poderá tornar este quadro ainda mais complexo. “São novos atores que vão pressionar a política de preços”, comentou, levando em conta a manutenção da política atrelada aos preços internacionais.

 

Isenção inócua

Cálculos realizados pelo Ineep revelam que a decisão do governo do presidente Jair Bolsonaro de zerar, nos meses de março e abril, a alíquota do PIS/Cofins incidente sobre o diesel na tentativa de reduzir o preço do combustível foi inócua. Na composição do preço do diesel, este tributo possui um valor fixo de R$0,3314. Porém, esta redução não foi sentida no preço final em função de aumentos ocorridos nos outros itens que também compõem o preço.

 

Considerando o preço médio da revenda na última semana de abril em relação a última semana de fevereiro, houve aumento na realização da Petrobras de 4,8% (ou R$ 0,13), no ICMS em 13,01% (R$ 0,07), no biodiesel em 12,5 % (R$ 0,07) e nas margens da distribuição e da revenda em 51 % (R$ 0,07). Desta forma, o preço médio final nos postos saiu de R$4,184 no período imediatamente anterior à aplicação da medida para R$ 4,196, na última semana de sua vigência. Portanto, a expectativa de redução dos preços com a medida não ocorreu.

 

Na avaliação dos pesquisadores do Ineep, este cenário mostra que, sem um olhar mais amplo sobre o processo – que não coloque apenas os tributos como vilões do preço – e, sem a estruturação de uma política coordenada entre os vários atores que compõem a cadeia do diesel, será difícil alcançar algum êxito na redução dos preços do diesel ao consumidor final.

 

 

 

Assista na íntegra ao programa

Comunicação Ineep

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