Petrolíferas europeias avançam na verticalização do gás natural

O gás natural no Brasil tem se tornado uma fonte energética cada vez mais estratégica para complementar a produção das hidrelétricas, além de se tornar uma alternativa para a geração de energia em indústrias, inclusive via o gás natural liquefeito (GNL). Essas oportunidades ocorrem no momento em que há uma tendência de expansão da oferta de gás natural no Brasil, no pré-sal. Com o aumento da oferta e do uso de termelétricas, companhia europeias, como Galp, bp e TotalEnergies, estão de olho nesse novo mercado, aumentando a integração entre a exploração e produção com outros elos da cadeia produtiva do gás. Há investimentos de diferentes naturezas pelas petrolíferas, mas todas buscando explorar esse novo nicho que tem grandes perspectivas de crescimento no médio e longo prazo.

Em 2021, apenas das restrições para elevar o uso do gás natural produzido no país e do Gasbol, houve aumento considerável do consumo do produto no Brasil em razão das importações de GNL.

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Ao longo de todo o ano, a oferta nacional de gás natural oscilou de 57,2 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia) para 52,3 milhões de m³/dia. No mesmo período, as importações do Gasbol ficaram estáveis num patamar de 20,4 milhões de m3/dia. Dessa forma, o uso do gás brasileiro e boliviano diminuiu quase 5 milhões de m³/dia.

Foto: Tom Fisk / Pexels.

Todavia, as importações de GNL garantiram uma expansão da oferta de gás para atender a crescente demanda das termelétricas brasileiras. Entre janeiro e outubro de 2021, a aquisição de GNL cresceu 81,7%, saindo de 20,8 milhões de m3/dia para 37,7 milhões de m3/dia e 34,7% nos doze meses anteriores a outubro de 2021. Essas importações foram realizadas pelos três terminais de GNL da Petrobras (Pecém, Baía de Guanabara e Bahia) e mais dois da iniciativa privada que iniciaram suas operações no último biênio (Celse e GNA). Esses dois terminais, em outubro de 2021, foram responsáveis por importar 6,96 milhões de m3/dia, o que corresponde a 18,5% de todo o GNL adquirido do exterior.

Além das importações de GNL por terminais, o Brasil também retomou a compra de gás da Argentina para complementar a oferta da commodity no país. Em setembro, os argentinos anunciaram uma licitação para a compra de GNL em busca de quatro carregamentos para o terminal Escobar, que foram regaseificados e entregues por gasoduto ao Brasil” para abastecer a Usina de Uruguaiana que estava inoperante desde 2009, relatou uma matéria da Bloomberg.

Esse quadro mostra que o Brasil conseguiu expandir a diversificação da oferta de gás natural. Todavia, mais importante é que há uma perspectiva desse processo se consolidar nos próximos por conta da expansão da produção do pré-sal, das novas oportunidades existentes no segmento de gás natural onshore, bem como o crescimento dos terminais para importação de GNL. Essas possibilidades de aumento da comercialização do gás natural produzido no pré-sal, bem como de expansão das importações têm atraído investimentos de diferentes petrolíferas.

A portuguesa Galp, que atualmente está entre uma das maiores produtoras de óleo e gás natural, pretende aproveitar a produção que deve crescer nos próximos anos para ingressar na comercialização do gás natural. Atualmente, a empresa tem oito blocos de exploração na área do pré-sal da Bacia de Santos que espera servir como alavanca para monetizar os negócios em gás natural.

O presidente global da Galp Andy Brown disse recentemente em entrevista:

“Temos nossa própria produção associada de gás nessas áreas e também temos acesso ao gás de outras companhias. Queremos ser líderes na comercialização. Houve secas recentemente e há aumento na demanda por energia elétrica. Se as hidrelétricas continuarem com fraca geração, o país vai precisar de muito mais gás do que está produzindo”.

Nos últimos leilões de petróleo e gás natural, a TotalEnergies também ampliou sua atuação no mercado de exploração de petróleo e gás natural do Brasil. Atualmente, a empresa possui um portfólio robusto e diversificado, com foco em águas profundas, composto de 12 blocos de E&P, sendo 5 deles como operadora. A meta da companhia é elevar sua produção local para 150.000 barris/dia até 2025, tendo em vista o portfólio de E&P construído nos últimos anos. Além disso, no segmento de gás natural, a empresa está iniciando o ingresso no setor por intermédio da participação no setor de logística.

Recentemente, a petrolífera francesa, junto com a Compass e a YPBF, assinou um memorando de entendimento para avaliar a possibilidade de criação de uma aliança estratégica que viabilize a comercialização de gás natural no mercado brasileiro. O diretor de Gás Eletricidade Brasil da Totalenergies Thibault Sabatier disse:

“É muito importante iniciar esse relacionamento com a YPFB. O gás boliviano tem seu lugar na matriz brasileira e vamos todos trabalhar juntos para comercializar o gás boliviano da melhor forma no Brasil”.

A TotalEnergies já possui um setor específico para trabalhar com Gás & Eletricidade que, além do Gasbol, também está envolvido em negócios no gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre e na comercialização de gás natural, cuja autorização foi solicitada em 2019. Esses movimentos devem acelerar a capacidade da companhia de alavancar o segmento de gás natural.

Outra empresa que pediu autorização para comercializar gás natural foi a bp. Além disso, a empresa já é parte da joint venture GNA, junto com a Prumo Logística, Siemens e SPIC. A GNA está construindo o maior parque termelétrico a gás natural da América Latina, localizado no Porto do Açu – RJ, cujo fornecedor será a BP, que informou:

“O projeto compreende a implantação de duas térmicas movidas a gás natural (GNA I e GNA II) que, em conjunto, alcançarão 3 GW de capacidade instalada, além de um terminal de regaseificação de GNL, de 21 milhões de metros cúbicos/dia”.

Além disso, a empresa também assinou um memorando de entendimento com o Governo do Ceará para avaliar a implementação de um hub de gás natural no Pecém que tem um potencial gerar mais de 2 GW, segundo o presidente da BP Brasil, Mario Lindenhayn.

Todos esses movimentos deixam claro que as petrolíferas estão buscando verticalizar sua atuação no gás natural, deixando de se concentrar apenas na exploração e produção. A estratégia de verticalização do gás, além de gerar mais valor para seus negócios, deve servir como ponte para novos negócios em geração de energia elétrica, principalmente por fontes mais limpas. É o gás natural como um canal para transição e o estabelecimento desses players no Brasil.

Artigo publicado originalmente no Broadcast Energia.