Petróleo ainda terá papel importante na matriz mundial por décadas

José Sérgio Gabrielli
Petróleo ainda terá papel importante na matriz mundial por décadas

Haverá transição energética e progresso ecológico, sem sombra de dúvida, mas não será na velocidade que se preconiza, e durante muito tempo o petróleo terá um papel forte nas matrizes energéticas do mundo. Essa é a opinião do pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que participará, amanhã (09/11), do Webnário COP26: das boas intenções à dura realidade, que o Instituto realizará, às 19 horas, em seu canal do Youtube.

 

 

Petróleo ainda terá papel importante na matriz mundial por décadas

Reprodução: YouTube TvPT.

Em entrevista, sexta-feira (05/11), ao jornalista Paulo Moreira Leite da TvPT, Gabrielli comentou os movimentos da Conferência das Nações Unidos sobre Mudança Climática (COP26), que acontece em Glasgow (Escócia) desde 1º de novembro. Com números, mostrou que a substituição do petróleo e do gás natural por outras fontes energéticas não ocorrerá de um dia para o outro.

 

Segundo Gabrielli, atualmente, o petróleo representa de 36% a 37% das fontes primárias de energia do mundo. As previsões para 2050 indicam que essa participação deverá cair para patamares de 28% a 30%. O consumo de carvão também se reduzirá, enquanto o de gás natural poderá até aumentar, pois ainda que seja um combustível fóssil é mais limpo do que os demais, assumindo papel importante na transição energética.

 

Enquanto isso, fontes de energia como solar, eólica, geotermal e das ondas que hoje representam entre 6% e 7% da fonte primária do mundo terão participação ampliada. No entanto, ainda que cheguem aos 20%, o petróleo e o gás natural continuarão sendo importantes. “O fato é que vamos ter alteração nesse conjunto”, comentou Gabrielli, levando em conta que avanços tecnológicos também poderão viabilizar a entrada do hidrogênio na matriz energética.

solar

Considerando que as mudanças serão gradativas, o pesquisador do Ineep fez, durante a entrevista, um exercício sobre a produção de petróleo e gás natural nos próximos anos: os reservatórios em produção têm um declínio médio anual em torno de 5% ao ano. Como o consumo médio mundial é de 96 a 97 milhões de barris por dia, será necessária a reposição de quantidade superior à atual produção brasileira (três milhões de barris por dia, em setembro, segundo a ANP) para garantir a oferta mundial nos níveis atuais.

 

No entanto, como destacou, “crescimento econômico, distribuição de renda e inclusão social, que são tendências a caminho no mundo, aumentam o uso dos combustíveis”, o que poderá resultar no aumento do consumo mundial de petróleo.

 

Gabrielli também lembrou que os fundos de investimento têm se movimentado para que as empresas de petróleo aumentem seus investimentos em projetos renováveis, o que tem se refletido nas administrações de algumas das majors e anúncios da desaceleração de pesquisas exploratórias de outras. E esse é mais um fator para que mudanças sejam feitas na produção de combustíveis fósseis.

 

“Várias empresas estão se adaptando à pressão do mercado financeiro para reduzir a exposição aos combustíveis fósseis”, comentou ele, lembrando que não é, porém, o que acontece com grandes produtores, como Arábia Saudita, Irã, a Rússia e Brasil, o que poderá provocar tensões no mercado, com aumento do custo do petróleo e, consequentemente, da gasolina e do diesel.

 

Comunicação Ineep

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