Os diferenciais de preços de derivados no Norte do país

Adhemar Mineiro
CartaCapital
Imagem de um posto de combustível; em primeiro plano, uma tabela de preços dos combustíveis. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado.

A Região Norte enfrenta um diferencial significativo de preços dos derivados de petróleo no Brasil. Em relação aos preços finais ao consumidor, verifica-se que tanto a gasolina comum quanto o diesel S10 apresentaram valores aproximadamente 5% superiores em comparação com outras regiões ao longo dos últimos 12 meses.

 

Imagem de um posto de combustível; em primeiro plano, uma tabela de preços dos combustíveis. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado.

A situação é particularmente preocupante no caso do GLP, um insumo tão necessário à população mais pobre. (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

 

Destaca-se que, no caso da gasolina, esse diferencial chegou a atingir mais de 8% em novembro do ano passado. Tal comportamento de preços diferenciados também se estende ao gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido como gás de cozinha.

 

Gráfico de comparação do preço médio da revenda ao consumidor. Fonte: ANP. Elaboração: Ineep.

 

A segunda região com menor renda per capita do país, superada apenas pelo Nordeste, arca com os maiores preços dos combustíveis no âmbito nacional. Esta situação é particularmente preocupante no caso do GLP, um insumo tão necessário à população mais pobre.

 

Ao avaliar a questão, existem alguns pontos importantes que devem ser levados em consideração. O primeiro deles diz respeito às distâncias na Região Norte. Essa região é extensa, com dificuldades de deslocamento na maior parte de seu território, sendo parte dele acessível apenas por transporte fluvial, o que pode ser ainda mais complicado nos períodos chuvosos.

 

 

Imagem retangular com fundo branco e bordas azuis; o texto chama o público a se inscrever na lista de transmissão do Ineep no WhatsApp.

 

Assim, de um lado, temos um custo de transporte que deve ser considerado; de outro, uma proteção natural contra a concorrência na formação de preços. Quem abastece determinada área da região passa a usufruir de uma vantagem significativa na formação dos preços, sendo protegidos dos concorrentes pelas grandes distâncias.

 

Vale observar também que a região conta com apenas uma refinaria, a antiga Refinaria de Manaus (de 1957). Originalmente privada (Refinaria Isaac Sabbá), passou à Petrobras (REMAN) nos anos 1970 e foi privatizada novamente ao apagar das luzes do governo Bolsonaro, em novembro de 2022, sendo adquirida pelo grupo Atem e renomeada como REAM (Refinaria da Amazônia).

 

A partir de meados dos anos 1990, essa refinaria foi modernizada e teve sua capacidade de processamento ampliada de 5 mil para 47 mil barris/dia. Inicialmente, a refinaria foi concebida para abastecer todos os estados da Região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima), com exceção do Tocantins. No entanto, sua produção atual mal atende à demanda do Amazonas, e uma parcela considerável do consumo regional continua a ser suprida por meio de importações.

 

O grupo Atem, que assumiu a refinaria, manteve seu centro de atividades no transporte e na comercialização de derivados na região. Como resultado, grande parte do consumo regional é complementada por importações, e o grupo aparenta ter pouco interesse em fazer os investimentos necessários para ampliar sua capacidade de produção.

 

A proximidade da Região Norte com a área produtora do Golfo do México, nos EUA, facilita a importação de derivados. No entanto, é relevante destacar que, durante o surto de importações em 2023, o porto de Manaus registrou uma entrada significativa de diesel russo, apesar da distância percorrida.

 

E esse processo seguiu em 2024. Entre janeiro e abril de 2024, o Brasil registrou importações totais de aproximadamente US$ 2,74 bilhões. Deste montante, US$ 1,75 bilhões (64,1%) foram provenientes da Rússia.

 

O Porto de Manaus desempenhou um papel significativo, sendo a porta de entrada para US$ 474 milhões em importações de diesel russo, o que corresponde a 17,3% do total geral das importações e a 27,0% do total de diesel russo importado pelo Brasil, de acordo com os dados disponíveis no Comex Stat do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

 

A REAM, ao importar derivados, mira fortemente o Preço de Paridade de Importação (PPI) como principal referência para determinar seus preços.

 

Contudo, desde que a Petrobras adotou uma política mais ativa para estabilizar os preços da gasolina (a partir de outubro de 2023) e do diesel (a partir de dezembro de 2023), a REAM passou a reduzir os seus diferenciais de preços em relação ao PPI, especialmente no caso do diesel.

 

Gráfico de comparação do preço praticado pelo produtor. Fonte: ANP. Elaboração: Ineep.

 

Possivelmente, para diversos estados como Pará e Amapá (que recebem suprimentos via transporte marítimo) e Rondônia e Acre (abastecidos pelo Centro-Oeste), a Petrobras oferece uma capacidade competitiva significativa, levando a REAM a moderar seus diferenciais de preços.

 

Entretanto, os demais estados do Norte estão dependentes da oferta da refinaria de Manaus, ou seja, de um quase monopólio regional privado.

 

A questão do abastecimento regional a preços menores é fundamental para o desenvolvimento da Região Norte.

 

A operação com preços mais baixos exigiria, em alguma medida, o suprimento da demanda local a partir da própria região, devido aos elevados custos de transporte e às grandes distâncias envolvidas. Isso também pressupõe a ampliação da capacidade de refino local e a implementação de uma política de preços nacionalizada que não permita a exploração das distâncias para práticas monopolistas de preços na região.

 

Assim, o planejamento do abastecimento regional, especialmente em relação à demanda futura, exige a articulação de uma política de desenvolvimento regional com uma política que garanta a provisão de derivados de petróleo para o Norte do país.

 

Essa política, além de assegurar o fornecimento de tais produtos, deve garantir a estabilidade dos preços, evitando flutuações bruscas e margens de rentabilidade que comprometam a viabilidade econômica de outros negócios dependentes desses insumos. Isso só poderia ser alcançado de forma efetiva por uma empresa que garanta o fornecimento à região, embasada em uma visão estratégica e de longo prazo.

 

 

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Entretanto, essas questões estão ainda em fase preliminar de discussão e exigem uma combinação coerente entre uma estratégia nacional de produção e abastecimento de derivados de petróleo e uma política de desenvolvimento regional.

 

É essencial que o objetivo de ampliar a capacidade local de refino esteja nitidamente delineado na formulação dessas políticas; contudo, hoje, podemos observar que isso ainda não é uma realidade. E essa integração de políticas públicas não é tão simples, dado que requer necessariamente uma concertação efetiva entre agentes públicos e privados, levando em consideração uma gama de fatores de ordem regional, nacional e internacional.

 


 

Artigo publicado originalmente na CartaCapital.