O que são impairments e o que eles dizem sobre os resultados da Petrobras

Foto: André Motta de Souza / Agência Petrobras.

 

Com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2020, a Petrobras anunciou um prejuízo inédito de R$ 48,5 bilhões. Esse resultado negativo foi em grande medida fruto da baixa contábil de R$ 65,3 bilhões (ou US$ 13,4 bilhões), decorrente do reconhecimento de perdas da recuperabilidade econômica de seus ativos (os chamados impairments). O Ineep agora explica o que são impairments e o que eles representam na estratégia da Petrobras.

 

Ferramenta contábil utilizada pelas empresas do setor petrolífero para avaliar o grau de recuperação econômica dos seus ativos, o impairment mede a expectativa de geração de caixa ao longo do tempo levando em conta itens como a projeção futura do preço do barril de petróleo, mudanças na taxa de câmbio, revisões no volume de reservas de petróleo, entre outros. Dessa forma, a empresa consegue tanto estimar quais são as suas expectativas de lucro baseados no valor de seus ativos como também explicita ao mercado a necessidade (ou não) de vender seus ativos em caso de desvalorização. 

 

No caso da Petrobras, a estatal alega que a redução drástica nas expectativas de recuperabilidade dos ativos está condicionada, dentre outras coisas, à mudança na previsão dos preços de longo prazo do barril do petróleo, de US$ 65 para US$ 50. 

 

Segundo o diagnóstico da petroleira, a redução no valor do barril deverá seguir acompanhada por uma lenta recuperação da demanda internacional, também ocasionada por uma mudança de hábitos em economias desenvolvidas, no qual acredita-se que a procura por fontes de energia limpa possa criar, para os combustíveis fósseis, um patamar de demanda menor ao projetado nos últimos anos.

 

Tendo esse cenário em vista, a Petrobras justifica a depreciação dos seus ativos, sobretudo aqueles relacionados ao segmento de E&P (exploração e produção de petróleo), que dentre os R$ 65,3 bilhões anunciados, cerca de R$ 64,2 bilhões vieram exclusivamente desse setor.

 

Embora reversões de impairments tenham ocorrido em praticamente todos os balanços das majors do setor petrolífero no primeiro trimestre, chama a atenção o fato de que o volume realizado pela Petrobras foi muito superior ao de suas concorrentes. Entre as empresas analisadas pelo INEEP, nenhuma delas teve uma desvalorização de ativos próxima à da estatal brasileira, sobretudo quando comparado em proporção ao quadro geral de seus ativos não-correntes.

 

Tabela – Impairments de cinco petrolíferas selecionadas (1T2020)

Observando o volume excepcional de impairments da Petrobras, portanto, há de se considerar que esses números revelam algo além da expectativa de recuperabilidade econômica nos ativos da companhia.

Em primeiro lugar, conforme já salientou o INEEP em sua análise trimestral sobre os dados da Petrobras, os impairments serviram para ocultar o excelente desempenho operacional que a empresa apresentou no trimestre, que obteve lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida ajustado) contabilizado em R$ 37,5 bilhões, resultado 36% maior ao registrado no mesmo período do ano passado. Na mesma tendência veio a receita total de vendas, que encerrou o trimestre em R$ 75,5 bilhões, um aumento de 6,5% comparado a 2019.  Ou seja, ainda que os impaiments não tenham efeito de caixa, eles foram o principal responsável pelo crescimento extraordinário das despesas operacionais no trimestre, que registrou um aumento de 569% em comparação ao mesmo período do ano anterior, saltando para R$ 75,6 bilhões no trimestre.

 Dessa forma, o efeito virtualmente negativo proporcionado pela baixa contábil dos impairments ajuda a Petrobras a preservar o caixa da empresa nos próximos meses, tendo em vista que o lucro transformado em prejuízo reduz o pagamento de dividendos para acionistas, bem como diminui o pagamento de impostos.

Para além dos efeitos imediatos, porém, há de se considerar os impactos estratégicos desses impairments, uma vez que, com a depreciação dos ativos, a empresa justifica os programas de privatização e desinvestimentos, da mesma maneira em que torna justificáveis programas de demissão em massa e redução de salários.

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