O quadro internacional e os preços dos combustíveis no Brasil

Entre os diversos elementos que atuam na formação dos preços internos dos derivados de petróleo, um dos mais importantes é o quadro internacional. Esse fator é economicamente sensível, já que o petróleo, como a base da matriz energética mundial, é um produto estratégico com preços fortemente regulados por grupos de países compradores e vendedores, grandes empresas cartelizadas e investidores de peso do mercado spot e do mercado futuro.

Carro enchendo o tanque em posto de gasolina. Foto: KCKATE de Jookiko/Canva.

Cenário da política de preços no Brasil

Considerando que o Brasil é autossuficiente na produção de petróleo cru e conta com uma empresa estatal de grande porte, a Petrobras, pode-se supor que a influência do quadro internacional na definição dos preços internos poderia ser relativizada.

Entretanto, entre 2016 e 2022, para garantir espaços de operação e rentabilidade no país, priorizando interesses de curto prazo de investidores e operadores internacionais, a empresa passou a vincular diretamente os preços dos derivados no Brasil ao Preço de Paridade de Importação (PPI).

Em maio de 2023, a Petrobras anunciou a reorientação em sua política de preços. Contudo, como uma maior autonomia na formação de preços depende de mais investimentos no setor de refino e da remontagem da logística de distribuição, existem fortes limitações estruturais que dificultam o distanciamento da referência do PPI em um primeiro momento, especialmente no caso do diesel.

O futuro do petróleo na matriz energética mundial

Dado que os preços no Brasil continuarão a ser balizados pelos movimentos internacionais, é fundamental compreender as tendências desse mercado nos próximos anos. Nesse sentido, o primeiro ponto diz respeito às apostas sobre o futuro do petróleo na matriz energética mundial.

Impactos da crise climática

Devido à crise climática global, observa-se uma maior resistência ao uso de combustíveis fósseis e uma busca pela transição energética. Na COP26 em Glasgow, em 2021, houve a primeira menção oficial à redução de subsídios aos combustíveis fósseis. Entretanto, os desdobramentos posteriores da geopolítica internacional levantaram sérias dúvidas sobre a viabilidade de uma descarbonização mais acelerada.

A partir da guerra na Ucrânia, em especial, e das modificações dos fluxos de abastecimento internacional de óleo e gás, passou a predominar um certo pragmatismo nas políticas nacionais de abastecimento energético e, inclusive, a própria redução do consumo de carvão começou a ser questionada.

Hoje, os governos têm apostas muito diferentes sobre a velocidade da redução do consumo de fontes fósseis e não há consenso sobre quando o petróleo deixará de ser a base da matriz energética.

Fortalecimento da cartelização no setor

Além disso, observa-se uma crescente tendência de fortalecimento da cartelização nesse setor. Desde meados de 2023, a OPEP e outros grandes produtores (capitaneados pela Arábia Saudita e a Rússia, respectivamente) reduziram a oferta de petróleo e provocaram o aumento dos preços. Com isso, após um período de estabilização em torno de US$ 70,00 o barril, os preços do petróleo voltaram a subir.

Apesar das incertezas acerca do desempenho futuro da economia global, os produtores sinalizam que pretendem manter os preços aquecidos e estão dispostos a alcançar tal objetivo reduzindo a produção. Esse movimento tem limites, mas na ausência de uma aguda queda da demanda, esses atores demonstraram que têm capacidade de impor sua influência.

Mudanças na estrutura de produção de derivados

Outro aspecto relevante é a significativa alteração na estrutura de produção de derivados.

China e Índia

Atualmente, a China e a Índia estão investindo em projetos para ampliar seu parque de refino. No começo dessa década, a China tinha a expectativa de ultrapassar a capacidade de refino dos EUA (a maior do mundo até então), e a Índia planejava dobrar seu potencial de refino.

No caso da China, a maior parte do aumento da produção de derivados estará destinada a atender o crescimento da demanda interna, mas existem cotas possíveis de exportação desses produtos – o próprio Brasil, por exemplo, importou diesel chinês em 2023.

No caso da Índia, o aumento da capacidade de refino visa melhorar sua competitividade no mercado internacional de derivados, mas, sobretudo, se destina a abastecer o mercado chinês. A ampliação da capacidade de refino mundial deve expandir a oferta internacional de derivados e pode ser um elemento importante para conter ou reduzir os preços desses produtos.

Implicações das tensões no Oriente Médio

As incertezas quanto aos impactos das tensões no Oriente Médio, com a invasão de Gaza pelo exército israelense, ainda não se refletiram nos mercados de óleo e gás. Avalia-se que apenas o envolvimento de grandes produtores da região, em especial do Irã, poderia fazer os preços oscilarem de forma aguda. Nesse caso, há projeções que apontam para uma potencial duplicação dos preços do petróleo.

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Alterações no mercado internacional e a política nacional de preços

O mercado internacional apresenta vários elementos que devem ser acompanhados continuamente.  Os mercados de óleo bruto e de derivados são suscetíveis a muitas alterações, algumas das quais podem ser bastante agudas.

Uma política nacional para ampliar a produção de derivados poderia atenuar a influência direta dos preços internacionais no país. Nesse sentido, o Plano Estratégico (PE) da Petrobras para o período 2024-2028+ prevê um aumento de 80,8% dos investimentos em “Refino, Transporte e Comercialização (RTC)” – do total de US$ 17 bilhões previstos para o segmento, US$ 5 bilhões estão em implantação e US$ 12 bilhões, em avaliação.

No entanto, a maturação de novos projetos de investimento que expandem a capacidade produtiva leva tempo, além de sua capacidade de atender a demanda seguir dependendo do ritmo de crescimento da economia. Ou seja, a tendência para os próximos anos é que as flutuações internacionais sigam influenciando fortemente os preços no Brasil.

Artigo publicado originalmente no Poder360.