O pré-sal e as possibilidades de novas trajetórias de sucesso

Francismar Cunha Ferreira
Jornal GGN
Imagem aérea da plataforma FPSO Guanabara. Foto: Agência Petrobras.

O pré-sal representa uma trajetória de sucesso e ainda guarda importantes possibilidades para o futuro da indústria de petróleo e gás, a segurança energética nacional e a transição energética.

 

Imagem aérea da plataforma FPSO Guanabara. Foto: Agência Petrobras.

Imagem aérea da plataforma FPSO Guanabara. Foto: Agência Petrobras.

 

No entanto, para que esse potencial se converta em benefícios concretos, é importante que a Petrobras adote uma visão estratégica de longo prazo. Isso inclui abdicar da manutenção da distribuição de elevados dividendos, visando a retomada dos investimentos em petróleo e gás associados e articulados à transição energética.

 

Após mais de 15 anos, a produção no pré-sal continua em ascensão, impulsionando a produção nacional, mesmo com o amadurecimento de outras bacias. No primeiro trimestre de 2024 (1T24), segundo a ANP, a produção na região foi de 3,36 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), valor que representa 76,7% da produção nacional.

 

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A Petrobras, como operadora produziu, 3,31 milhão de boe/d no pré-sal no 1T24, o que representa cerca de 98,8% do volume total de petróleo e gás produzidos na região e 85,5% da produção operada pela companhia, que foi cerca de 3,88 milhões de boe/d no período, segundo a ANP.

 

Além da produtividade, o pré-sal se destaca pelo seu baixo custo de extração. Segundo a Petrobras, o custo médio de extração no pré-sal é próximo de US$ 3,7 por barril de óleo equivalente (boe), valor que é inferior ao custo médio da própria companhia que é próximo de US$ 6 por boe. Esses números indicam a grande importância não somente energética, mas também financeira da produção do pré-sal para a Petrobras.

 

Apesar de fundamental, o pré-sal não é eterno. A produção na região deverá atingir o seu auge no início da década de 2030 e passará a apresentar tendência de declínio, segundo a Empresa Brasileira de Energia (EPE). Dessa forma, considerando a necessidade de reposição das reservas nacionais e a importância do petróleo nas próximas décadas para a segurança energética, torna-se crucial a realização de investimentos exploratórios em direção a novas fronteiras no país.

 

As atividades exploratórias no Brasil apresentaram uma brusca redução na última década. Entre 2014 e 2023, houve uma redução de cerca de 82,3% na perfuração de poços pioneiros no mar comparado ao período entre 2004 e 2013. Essa redução se relaciona, entre outros fatores, com as mudanças estratégicas adotadas pela Petrobras que, visando maior rentabilidade no curto prazo, reduziu seus investimentos, passou a priorizar os ativos de alta rentabilidade no pré-sal e a distribuir elevados dividendos, o que implicou no aumento da dependência do pré-sal e dificultou os avanços exploratórios para novas áreas.

 

Recentemente, a Petrobras sinalizou uma retomada das atividades exploratórias. Em seu atual Plano Estratégico, a empresa planeja investir US$ 7,5 bilhões no segmento exploratório até 2028, especialmente nas bacias do Sudeste e na Margem Equatorial. Esse valor é 25% maior que o estimado no plano anterior (PE 2023-2027).

 

Além disso, a Petrobras adquiriu 29 blocos exploratórios na Bacia de Pelotas no último leilão da ANP em 2023. No entanto, a estatal manteve em 2023 sua política de elevada distribuição de dividendos. Ao todo, serão distribuídos R$ 93, bilhões, cerca de 70,6% do lucro líquido, o que acaba deixando dúvidas quanto à retomada dos investimentos, em especial os exploratórios que acompanha.

 

Segundo a Petrobras, cerca de 73% do seu lucro bruto em 2023 foi proveniente do E&P, que possui como protagonista o pré-sal. Logo, a manutenção da estratégia focada em rentabilidade e na alta distribuição de dividendos indica que parte significativa dos recursos do pré-sal está sendo utilizada para atender às demandas do mercado, em vez de ser direcionada para o futuro energético e econômico do Brasil.

 

É importante que a Petrobras revise essa abordagem, visando utilizar os recursos do pré-sal para financiar uma transição energética justa e garantir a soberania energética do país no futuro.

 

Olhar para o pré-sal implica, também, associá-lo à transição energética. Seus recursos são e serão essenciais para subsidiar novos projetos e rotas tecnológicas que ampliem e diversifiquem o portfólio da Petrobras. Essa diversificação inclui o segmento eólico onshore e offshore, a produção de H₂V, o biorrefino, entre outros.

 

Vale ressaltar que as operações da Petrobras no pré-sal já se destacam por apresentar menor pegada de carbono, com emissões de CO₂ inferiores à média do setor devido ao programa de captura de carbono (CCUS) que promove a reinjeção do CO₂ de volta ao reservatório. Esse processo contribui para a descarbonização das operações e ainda auxilia na manutenção da pressão interna dos reservatórios, aumentando a produtividade. 

 

 

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Segundo a Petrobras, em 2023, foram reinjetados nos reservatórios do pré-sal 13 milhões tCO₂, o que corresponde a cerca de 27% da capacidade global reportada.

 

Em suma, os recursos do pré-sal podem pavimentar o caminho para novas trajetórias de sucesso no segmento exploratório e para a transição energética, o que, associado a política industrial nacional, poderá garantir não apenas a segurança energética, mas o desenvolvimento industrial e econômico do país. Contudo, é importante que a Petrobras busque equilibrar os ganhos econômicos, especialmente do pré-sal, com a sustentabilidade operacional e financeira da companhia no longo prazo.

 


 

Artigo publicado originalmente no Jornal GGN.