O maior resultado da história da Petrobras oculta a venda da empresa

Foto: Sérgio Moraes / Reuters.

 

A Petrobras divulgou ontem (19/02) os resultados operacionais e financeiros do balanço anual de 2019. Segundo a companhia, o lucro líquido foi de R$ 40,1 bilhões, o que representa um crescimento de 55,7% na comparação com o ano anterior. É o maior resultado da história da empresa.

 

Um dos fatores que contribuiu para esse lucro extraordinário consiste na venda de ativos da companhia. Em 2019, a Petrobras se desfez de subsidiárias como a TAG e a BR Distribuidora, além de alienar ativos como os campos em águas rasas nas Bacias de Campos e Santos, entre outros. Somente com essas vendas, a Petrobras conseguiu em um ano auferir R$ 41,0 bilhões.

 

Outro fator que corroborou para o bom resultado financeiro da Petrobras em 2019 foi a significativa redução nas despesas operacionais da companhia. Com os custos de produção 29,6% menores aos registrados em 2018, essa diminuição se deu tanto pela redução no custo médio de extração de petróleo quanto pelo ganho com alienação de ativos.

 

Ao todo, o lucro da estatal antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida ajustado) chegou a R$ 129,2 bilhões, aumento de 12,5% em relação a 2018. Já a receita total líquida, apresentou 2,6% menor ao registrado no ano anterior, fechando 2019 em R$ 302,2 bilhões. Segundo a empresa, isso aconteceu em virtude da redução do preço do Brent em reais, o menor volume de derivados vendidos a preços menores aos praticados em 2018; e, por fim, a queda de receitas das unidades do exterior, resultado da política de desinvestimentos.

 

A redução na receita total líquida é reflexo das mudanças estratégicas na Petrobras, que tem atuado para se desfazer de alguns ativos do Sistema Integrado para se concentrar quase exclusivamente na exploração e produção de petróleo (E&P), com enfoque no pré-sal. Um exemplo disso é a diferença nos resultados por segmento: enquanto a área de E&P registrou crescimento de 12,9% no lucro operacional, com R$ 75,0 bilhões, o setor de Refino apresentou queda de 39,5%, com R$ 6,4 bilhões.

 

Uma das explicações para essa diferença está no salto produção de petróleo – que em 2019 registrou uma média de 2,7 milhões de barris diários (bpd) – ocasionada pela entrada em operação de 8 novas plataformas. Por conseguinte, o aumento da produção petrolífera também impulsionou expansão das exportações, fazendo com que a receita nesse segmento saltasse dos R$ 56,1 bilhões, em 2018, para R$ 71,6 bilhões, em 2019, representando um crescimento anual de 27,6%.

 

Já pelo lado do Refino, a diminuição no fator de utilização das refinarias para 77% fez com que a produção de derivados da companhia fosse reduzida em 2,5% – o que combinado com a redução relativa dos preços no período, fizeram com que a receita de vendas de derivados obtivesse uma queda geral de 4,5%. Esse resultado negativo foi puxado especialmente pela queda de vendas na gasolina, óleo combustível e nafta, que só em 2019 registraram uma retração de, respectivamente, 9,4%, 11,1% e 27,0%.

 

Vale lembrar que essa queda acontece em um contexto no qual o mercado brasileiro de derivados registrou crescimento de 2,9%. Isso evidencia, portanto, a redução do market share da Petrobras no mercado de derivados, fruto de sua política de preços alinhada com preço internacional (PPI) que favorece a entrada de importadores ao mesmo tempo em que mantém preços elevados para os consumidores. Uma situação que pode se agravar ainda mais com a decisão da Petrobras em vender 50% do seu parque de refino, uma vez que com a saída da empresa de regiões como Norte e Nordeste, o risco é que as refinarias compradas acabem por se tornar monopólios privados regionais de derivados, o que pode descontrolar ainda mais os preços.

 

Sob a justificativa de que a venda de ativos tem por objetivo principal reduzir o alto endividamento da companhia, os dados do último balanço põem em dúvida essa realidade. Em 2019, o endividamento líquido da companhia apresentou crescimento de 4,6%. Dessa forma, o índice relação dívida líquida/Ebitda ajustado subiu de 2,20, em 2018, para 2,41, em 2019. De acordo com a Petrobras, essa alavancagem da dívida ocorreu devido ao uso de recursos para pagamento de bônus referente ao leilão do excedente da Cessão Onerosa.

 

Esse movimento confirma a necessidade de a Petrobras retomar os seus níveis de investimentos. Embora a política de desinvestimentos garanta uma geração de receita quase imediata, ela tende a comprometer a geração de caixa operacional da companhia nos próximos anos. Tendo em vista que a atual gestão da Petrobras pretende concentrar seus ativos na exploração e produção do pré-sal, essa decisão corre o risco de tornar a empresa mais suscetível às oscilações internacionais do petróleo, uma vez que os seus ativos no refino são aqueles capazes de gerar resultado mesmo quando ciclo do barril do petróleo está em baixa.

 

Além disso, cabe considerar o fato de que grande parte da dívida estar sendo quitada por meio da geração de receitas operacionais comprova, na prática, que a Petrobras tem plenas condições de recuperar sua saúde financeira sem a necessidade de vender ativos. Contudo, caso a empresa continue a se desintegrar por meio da venda de suas subsidiárias, no longo prazo, a companhia terá maiores dificuldades para gerar recursos para investir em novos projetos.

 

 

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