Ineep aponta erros na venda da RLAM e espera reversão do processo

Eduardo Costa Pinto, Henrique Jager

A venda da refinaria Landulpho Alves (RLAM) para o Mubadala, fundo árabe de investimentos, é ruim para a Petrobras, para o nordeste do país, para a população brasileira e para a Bahia, onde está instalada, e também para o acionista da empresa, no médio e longo prazo. No curto prazo, vai gerar resultados para os acionistas, mas no futuro vai implicar em menor geração de valor, se revelando um equívoco.

 

 

Ineep aponta erros na venda da RLAM e espera reversão do processo

Card de divulgação do webnário. Ilustração: Ineep.

A avaliação é dos pesquisadores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (Ineep), Eduardo Costa Pinto e Henrique Jäger, que em webnário, na última terça-feira (30/03), analisaram os impactos para o país do negócio, aprovado semana passada, pelo Conselho de Administração da estatal; mostraram como o Instituto concluiu que o preço negociado é cerca de 50% abaixo do seu valor; e revelaram acreditar na reversão do processo de venda, no médio e no longo prazo, tendo em vista as denúncias contra esta privatização no Tribunal de Contas da União (TCU), no Cade e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de ações nas justiças da Bahia e de Brasília.

 

“Vamos mostrar com fatos e dados internacionais que foi um equívoco da empresa. Foi muito mais uma decisão ideológica de um gestor com perfil ultraliberal do que uma decisão estratégica baseada na geopolítica do petróleo”, comentou Jäger, para quem a decisão do Conselho, tomada às vésperas da chegada de uma nova diretoria vai na contramão de uma boa governança corporativa. “Mas estas pessoas serão responsabilizadas se forem identificados problemas. E, ao que tudo indica, há”, acrescentou ele.

 

Para Costa Pinto, diante de tantas dúvidas, fica uma pergunta: “Por que o Mubadala não desistiu do negócio?” E comentou: “Em meio à troca de presidente da Petrobras, de possíveis mudanças na política de preços da empresa, no quadro em que o país vive hoje, o Mubadala não desistiu do negócio. Ao contrário, está correndo para comprar logo”. Para o pesquisador a resposta está no fato de o preço da RLAM estar muito baixo para uma refinaria com capacidade para processar 333 mil barris por dia de derivados, preparada e modernizada para exportar óleo combustível e bunker, além de atender a um mercado regional. Segundo o pesquisador, a unidade de refino deve representar um investimento de no mínimo US$ 6 bilhões.

 

 

Seguem alguns comentários feitos pelos pesquisadores ao longo do webnário sobre a venda da RLAM

 

– Esta é uma primeira decisão do Conselho de Administração da Petrobras, talvez a pior da história da Petrobras. É o começo de um processo, e ainda vai haver muita luta para que seja revertido;

 

– Estudos na Petrobras indicaram que o preço de venda deveria ser superior ao negociado;

 

– A RLAM é um ativo estratégico importante para a segurança energética, para o abastecimento interno e importante no desenvolvimento local, regional, na geração de negócios e na capacidade de geração de ICMS. Nada garante que o Mubadala vá adotar o nível de produção atual. Ano passado, com a queda do consumo no mercado interno, estava preparada para exportar óleo combustível e bunker;

 

– O que está à venda é a refinaria e toda a sua estrutura logística (dutos e terminais), que ligam a refinaria ao interior da Bahia. Diante da sua configuração no abastecimento da região, a privatização vai gerar um monopólio regional, pois cada refinara do país tem uma lógica de distribuição nacional, tem um papel específico no processo;

 

– A Petrobras está indo na contramão de outras empresas de petróleo do mundo. É a única com um movimento extremamente agressivo na venda de suas unidades de refino em seu próprio país. Das 26 refinarias que foram vendidas pelas grandes empresas integradas de petróleo no mundo, somente uma delas foi vendida na matriz daquela empresa. As outras foram vendidas fora;

 

– As empresas integradas de petróleo têm risco menor do que uma empresa de petróleo de exploração e produção, por causa da volatilidade do preços. Quando se juntam as duas atividades, o risco diminui;

 

– A Petrobras está apontando, cada vez mais, para um segmento de risco maior, e aí não há mágica: risco em economia significa aumento de custo do capital. A Petrobras argumenta que está vendendo o refino para diminuir o seu endividamento e assim diminuir a taxa de juros que paga para os seus investimentos. Mas ao sair das atividades do refino e focar na exploração e produção está fazendo o movimento inverso;

 

– Esta venda significa a saída de um monopólio de estado para o monopólio privado e não se sabe qual será o comportamento do comprador. Toda a logística de distribuição, de armazenagem, de tancagem estará na mão de uma empresa, e ela pode simplesmente tomar a decisão de não produzir mais na Bahia e abastecer aquele mercado todo com importações;

 

– A venda deste ativo tem um impacto ínfimo na redução da dívida da Petrobras e isso traz incertezas para o país, para o nordeste, região mais pobre do pais, que precisa de investimentos de geração de emprego de qualidade. A estratégia desta refinaria não será mais decidida no Brasil, mas na Arábia Saudita;

 

– A teoria da economia do petróleo, ao longo do século XX e XXI – técnica e não ideológica -, mostra que a redução dos riscos da empresa integrada é um fator econômico;

 

– Os cálculos realizados pelo Ineep para a venda da RLAM tiveram como base o método de Assef Neto, de Fluxo de Caixa Descontado (FCD). O estudo trabalhou com três cenários, chegando a resultados que variaram de US$ 3,1 bilhões a US$ 3,9 bilhões.

 

 

Assista o programa na íntegra:

 

Comunicação Ineep

Comentar