Declínio acentuado na produção terrestre ameaça futuro da indústria

Antônio Rivas
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A exploração dos reservatórios não-convencionais, notadamente o shale oil/gas, e o pré-sal, são exemplos bastante significativos da reversão da tendência inicial

Em geral, toda bacia sedimentar produtora de petróleo e gás natural, segue um ciclo de crescimento da produção após a descoberta, atinge o pico desta produção e entra em um período de declínio natural, quando toda tecnologia disponível deve ser utilizada para minimizar os efeitos danosos da redução da produção, que impacta diretamente a geração de caixa das operadoras.

Há alguns exemplos marcantes de reversão do declínio, voltando a bacia a alcançar um novo pico de produção que pode ser ainda maior que aquele primeiro evento, que marcaria o início da fase de declínio. A exploração dos reservatórios não-convencionais, notadamente o shale oil/gas, e o pré-sal, são exemplos bastante significativos da reversão da tendência inicial.

Nas bacias terrestres brasileiras, pioneiras na produção de petróleo e gás natural, o processo se repete, cada bacia com sua característica, estando todas em franco processo de declínio da produção, enquanto, por exemplo, a prática de explotação dos folhelhos (shale oil/gas) e arenitos com baixa permeabilidade (tight sands) ainda não está sendo aplicada em território nacional, por diversas razões.

Deste modo, tomando como exemplo a Bacia do Recôncavo, produtora de petróleo há 76 anos, desde o ano de 1941, os ciclos de crescimento, pico e declínio são muito claros, demonstrando, inclusive, uma pequena reversão no declínio quando foi descoberta uma nova área produtora na década de 80, o chamado Compartimento Nordeste, que só ficou visível aos intérpretes após a incorporação de novas ferramentas de aquisição e processamento sísmico.

Investimentos em tecnologia

Além da incorporação de novas tecnologias, uma condicionante fundamental à conformação do perfil de produção é o nível de investimento alocado em cada bacia, notadamente aquele relativo ao número de poços perfurados e à implantação de projetos de recuperação assistida, o que tem como resultado esperado a redução da taxa de declínio ou, até mesmo, a reversão deste, permitindo alcançar nível de produção maior que o período anterior, no melhor dos casos.

A falta de incorporação de tecnologias, ou, ainda mais simplesmente, a falta de investimentos necessários para novas perfurações, seja para adensamento de malha, injeção de água, ou mesmo apenas para recompletações que colocam em atividade reservatórios com maior potencial de produção, necessariamente vai provocar a acentuação do declínio da produção, o que retira a condição natural deste declínio, substituindo por uma condição de declínio artificialmente aumentado, como resultado da falta de uma boa prática gestão de reservatórios.

Bacias maduras, com tendência a elevação da produção de água, com pressão original depletada e possível formação de capa de gás secundária, devem ter seus reservatórios gerenciados de modo a minimizar os efeitos deletérios destas combinações, as quais, fatalmente, resultam em diminuição do fator de recuperação final, com impactos negativos na economicidade dos projetos de produção, além de causar prejuízos extra empresariais, com reflexos na sociedade e na matriz energética nacional, pela redução da arrecadação de royalties, de impostos e de geração de emprego e renda e pela indisponibilidade do recurso energético.

Infelizmente, este é o caso das três bacias terrestres maduras situadas no nordeste brasileiro, Recôncavo, Sergipe-Alagoas e Potiguar, as quais tem experimentado significativa redução do nível de investimentos nos últimos anos, o que está claramente refletido na significativa acentuação do declínio da produção.

Queda no Recôncavo

Pelos dados do Boletim Mensal de Produção da ANP, referentes aos meses de maio de 2017 e 2018, tivemos na Bacia do Recôncavo produção de óleo de 31.825 e 28.440 barris por dia, respectivamente, o que implica em um declínio da ordem de 10,6% em apenas um ano, taxa exageradamente elevada, quando se verifica que o declínio desta bacia, entre 2003 a 2013, foi pouco mais de 1% ao ano, quando na Bahia eram investidos, em média, mais de R$ 1,0 bilhão por ano, entre 2008 e 2014.

Com a acentuação do declínio nos últimos anos, é possível que já haja comprometimento no fator de recuperação final das bacias terrestres maduras, o que ameaça o desempenho futuro da indústria de petróleo e gás terrestre, com todas as consequências indesejáveis.

É necessário que a ANP, responsável pela garantia de aplicação das melhores práticas de gestão de reservatórios, intervenha junto à Petrobras, no sentido de assegurar o retorno dos investimentos necessários à manutenção da produção, seja através de investimento direto ou mesmo por intermédio de parcerias com operadoras privadas, mas que os processos sejam conduzidos com a urgência que que a gravidade da situação está exigindo.

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