BP aposta em startups para retomar liderança mundial na geração solar

Rodrigo Leão
Broadcast Energia
Localizada na Inglaterra, a maior fazenda solar flutuante da Europa é da Lightsource BP. Foto: Lightsource BP.
Localizada na Inglaterra, a maior fazenda solar flutuante da Europa é da Lightsource BP. Foto: Lightsource BP.

Localizada na Inglaterra, a maior fazenda solar flutuante da Europa é da Lightsource BP. Foto: Lightsource BP.

Em agosto de 2020, a BP anunciou que pretende, até 2030, reduzir 40% sua produção de produção de petróleo e gás natural e, ao mesmo tempo, multiplicar por dez seus investimentos em baixo carbono. Para alcançar esse objetivo, a petrolífera deve expandir seus negócios em renováveis, como na energia solar.

 

A atuação da BP no mercado solar começou há mais de três décadas. Mesmo assim, a companhia ainda busca um modelo mais adequado de se consolidar como um grande player do setor. Desde o final de 2016, quando adquiriu uma parcela da start-up Lightsource (que agora se chama Lightsource BP), os investimentos da BP em energia solar passaram a ser realizados por essa joint-venture. É, por meio da Lightsource BP, que os britânicos parecem orientar sua estratégia no mercado fotovoltaico, pelo menos no curto prazo.

 

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Em 2019, os investimentos da BP em baixo carbono totalizaram US$ 500 milhões, segundo informações da própria empresa. A meta para 2025 é alcançar algo entre US$ 3 e 4 bilhões e, para 2030, US$ 5 bilhões. Com esse aumento, a petrolífera almeja aumentar sua capacidade de geração de energia renovável dos atuais 2,5 gigawatts para 50 gigawatts em 2030. De acordo com a BP, grande parte dessa capacidade adicional de energia gerada deve vir da Lightsource. Em setembro de 2019, a start-up anunciou que deve gastar US$ 8 bilhões para gerar 10 gigawatts de energia solar já em 2023.

 

Apesar do futuro aparentemente promissor, ainda é cedo para determinar que a estratégia da BP em renováveis tem como centro a energia solar e se isso vai ser consolidado por meio da Lightsource. Primeiro, porque a aquisição da start-up aconteceu apenas há três anos e, segundo, porque empresa britânica tem um longo histórico no segmento de energia solar, com muitas “idas e vindas”, inclusive com momentos de saídas desse mercado.

 

A trajetória da BP em energia solar se iniciou, na primeira metade da década de 1980, quando formou joint-ventures para a fabricação de módulos fotovoltaicos na Índia, na Tailândia e na Arábia Saudita. Esse movimento ganhou força no final dos anos 1990 pela definição de um plano de ação que visou ampliar os investimentos em P&D e em operações de renováveis, principalmente de energia solar. Nesse plano de ação ocorreu a compra da empresa Solarex em 1999, que era a maior fabricante de módulos fotovoltaicos do mundo na época. No começo dos anos 2000, a BP alterou o nome da Solarex para BP Solar e, a nova empresa, foi integrada ao negócio de Gás, Energia e Renováveis da BP.

 

Desde então, a empresa britânica acelerou seus investimentos em energia solar visando ampliar sua capacidade de fornecimento em escala global, principalmente na Califórnia onde concentrou a maior parte da sua expansão. Com essa estratégia, a BP Solar se estabeleceu como uma grande fornecedora de células fotovoltaicas nos anos 2000.
Ao longo daquela década, a BP alavancou seu volume de vendas e investimento no segmento. Em 2004, passou a gerar o maior lucro nessas operações após 30 anos de mercado. Entre 2006 e 2010, a vendas de energia solar saltaram de menos de 100 megawatts para 325 megawatts. Naquele período, a empresa despendeu cerca de 6% (US$ 4 bilhões) de seus investimentos com energias renováveis, grande parte em solar.

 

Essa expansão de investimentos e das vendas permitiu a consolidação de um modelo de negócio próprio, que possuía cerca de 1.700 funcionários e atendia não apenas aos mercados residenciais, mas também comerciais e industriais ao redor do mundo.

 

Todavia, em 2009, no seu Relatório Anual, a petrolífera britânica informou que, por conta da queda de demanda, os preços das vendas de módulos solares registraram quedas de 40%. Ao final daquela década, o setor voltou a apresentar resultados negativos, mesmo com a expansão das vendas. Foi isso que fez, segundo o Diretor Executivo da BP Solar à época, Mike Petrucci, com que a BP saísse do negócio solar em 2011:

“os desafios globais tem impactado significativamente a indústria solar, tornando difícil sustentar retornos para a companhia no longo prazo. (…) Nós não conseguimos mais fazer dinheiro com a BP Solar. O setor se tornou commoditizado. Não há mais espaço para empresas especializadas”.

 

A notícia na época levantou dúvidas sobre a postura da BP em relação ao segmento de renováveis, uma vez que o setor solar tinha sido o maior e o mais antigo investimento da empresa, com 40 anos de existência. Anos depois dessa saída, a BP reingressou no mercado, a partir de um novo modelo de negócios. Em vez de uma filial própria, a empresa apostou na aquisição de uma start-up solar.

 

Em dezembro de 2016, a petrolífera britânica adquiriu 43% de participação da empresa Lightsource, por US$ 200 milhões, uma start-up de energia solar com os maiores projetos de desenvolvimento desse segmento na Europa. Em 2019, a BP anunciou que deve aumentar sua participação no capital acionário da companhia para 50%.

 

Até o final de 2019, a atuação da Lightsource BP estava concentrada somente na Europa, mas novos investimentos já têm sido direcionados para mercados fora do continente europeu. No Egito, a empresa fez uma parceria com a empreiteira local Hassam Allam para instalação de projetos solares com uma capacidade de gerar 100 megawatts. No mesmo período, foi anunciado um investimento de uma usina solar na Austrália com capacidade de 200 megawatts que terá como parceira a empresa Snowy Hydro. No Brasil, a Lightsource BP adquiriu um pacote de empreendimentos capaz de gerar 440 megawatts de energia solar em grandes projetos e 180 megawatts em projetos de pequeno porte.

 

Apesar disso, a internacionalização é relativamente recente e os projetos no exterior devem continuar representando uma fatia pequena da energia gerada pela Lighsource BP. Assim como esse processo, o retorno da BP em energia solar também foi recente, o que indica que há um longo caminho a ser percorrido para sabermos se, de fato, a petrolífera britânica será um líder global no mercado solar.

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