Bacia de Campos: a queda da produção e o futuro, em análise do Ineep

João Montenegro, Rodrigo Leão
Os 44 anos da Bacia de Campos e o Ineep na TV Record

A Bacia de Campos, que viveu seu apogeu na história do petróleo no Brasil, nos anos 2000, e vem registrando sucessivas quedas de produção, terá, no médio e longo prazo, uma recuperação deste desempenho. Mas será uma Bacia de Campos reconfigurada pelo ingresso gradual e pulverizado de novas empresas nas atividades de exploração e produção. Este quadro, muito diferente do que existiu nos 44 anos que se seguiram à primeira produção de óleo na bacia, durante os quais a Petrobras atuou praticamente sozinha, exigirá também uma atenção especial das autoridades para a regulação da indústria de petróleo no país.

 

 

Bacia de Campos: a queda da produção e o futuro, em análise do Ineep

Ilustração: Comunicação Ineep.

A análise foi feita, na noite da última terça-feira (06/03), por Rodrigo Leão e João Montenegro, respectivamente, coordenador técnico e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), em webnário sobre a queda da produção da Bacia de Campos. O papel da Petrobras na indústria do petróleo offshore no Brasil, seus avanços tecnológicos, suas associações com o capital privado como indutora do desenvolvimento, e os resultados positivos na Bacia de Campos, que viabilizaram mais tarde as descobertas no pré-sal da Bacia de Santos, foram também temas do webnário realizado pelo Instituto.

 

“Precisamos entender a natureza deste processo de redução da produção da Bacia de Campos. A Petrobras vinha apostando, desenvolvendo programas para tentar aumentar o fator de recuperação das reservas da bacia, criou programas neste sentido, mas a partir de 2014 adotou uma estratégia de reduzir investimentos na área”, destacou Leão, ao referir-se aos resultados dos últimos anos.

 

Segundo Montenegro, a Bacia de Campos atingiu o pico de produção por volta de 2012, quando registrou pouco mais de dois milhões de barris de óleo equivalente (boe)/dia, que inclui óleo e gás natural. Até 2016, a produção se manteve em torno de 1,5 milhão de boe/dia e a partir de 2017 ela se reduziu gradualmente até os 920 mil boe/dia contabilizados em janeiro último.

 

“A minha pergunta é se esta queda deveria ter sido tão abrupta. Precisávamos passar por uma redução de um milhão de barris por dia? Poderia ter sido adotada uma estratégia gradual que tentasse preservar mais a produção”, comentou Leão, recorrendo aos números divulgados pelo Dieese, em 2019, sobre investimentos na Bacia de Campos para mostrar o quanto a redução foi significativa. Em 2013, a Petrobras investiu US$ 9 bilhões, valor que caiu para US$ 3,5 bilhões, em 2018. As empresas que adquiriram campos maduros da estatal (Perenco, PetroRio, Trident, BW e Dommo), anunciaram até agora somente US$ 3 bilhões de investimento para explorar, informou.

 

Motivos

Na avaliação de Montenegro, vários fatores contribuíram para a redução da produção de petróleo e gás na Bacia de Campos, além do fato de a Petrobras ter dirigido seu foco para o pré-sal da Bacia de Santos. De um lado, o declínio natural da produção dos reservatórios. De outro, o tempo necessário para que as empresas (em geral de pequeno porte) que adquiriram campos maduros realizem seus investimentos e vejam os resultados.

 

“A Bacia de Campos é um ativo bastante importante, não vai morrer”, comentou Montenegro, que justifica com o fato de a estatal ter investimentos significativos na área – US$ 13 bilhões para o período de 2021 até 2025 – e de as empresas privadas estarem adquirindo ativos e apostando na área. Como exemplo, citou o movimento de grandes empresas privadas, como a British Petroleum, Shell, Exxon, Total e Repsol que investem em ativos exploratórios, quer poderão resultar em novos campos produtores na próxima década.

 

Segundo o pesquisador, a produção da Bacia de Campos, poderá sair dos 920 mil boe por dia para algo em torno de 1,5 milhão de boe/dia, em dez anos, já levando em conta os planos de desenvolvimento da Petrobras e das operadoras privadas, além de declarações de comercialidade a partir dos blocos adquiridos nas últimas rodadas de licitação realizadas pela ANP.

 

Nova Realidade

O fato é que, independente do cenário econômico atual, dos preços do petróleo no mercado internacional, de condições geopolíticas e da forma como estão sendo realizados os movimentos das novas entrantes ou mesmo do tempo em que terão retorno, os investimentos e projetos para a área se refletirão de forma diferente do que aconteceu no passado sobre os municípios do entorno da Bacia de Campos, que têm perdido negócios, empregos e reduzido seus impostos. Acrescentou Leão:

As empresas que estão adquirindo as áreas da Petrobras, além de terem investimentos mais reduzidos, não devem montar uma grande infraestrutura de apoio nos municípios da Bacia de Campos, o que deve dificultar a recuperação de emprego e renda na região.

 

Leão e Montenegro alertam também para a necessidade de se atentar para a parte regulatória das atividades da indústria do petróleo, tendo em vista as características do mercado que se organiza, com variados e diferentes players, num universo que até então tinha a Petrobras como principal protagonista. Leão comentou:

Precisamos avaliar urgentemente uma série de aspectos da regulação da indústria brasileira para que se minimizem eventuais problemas. É um tema que está posto, independente do know how das empresas que chegam. É uma nova realidade que vai exigir uma nova estrutura da indústria do petróleo no Brasil.

 

Assista ao programa

 

Comunicação Ineep

Comentários:

Comentar