A tentativa dos consumidores de influenciar no preço dependerá de ações mais efetivas

Rodrigo Leão
Broadcast Energia
A tentativa dos consumidores de influenciar no preço dependerá de ações mais efetivas

Na penúltima semana de outubro deste ano, o preço do barril de petróleo atingiu seu valor médio mais alto (US$ 85,82) desde a primeira semana de outubro de 2018 (US$ 86,29). Esse movimento de expansão dos preços do petróleo, associado a uma rápida recuperação da demanda global por conta do fim das medidas restritivas da Covid-19, tem gerado um forte efeito inflacionário em vários países e, em alguns casos, com dificuldades para manter o abastecimento energético.

 

Esse cenário tem sido mais dramático para alguns dos principais consumidores de energia do mundo. No caso da Europa, por exemplo, as altas de preços vieram acompanhadas do atraso do fornecimento do gás russo. A fim de pressionar o uso do recém-construído Nord Stream 2, os especialistas acreditam que o governo russo tem se aproveitado das dificuldades de abastecimento para postergar as vendas de gás para a Europa Ocidental. Além disso, em algumas localidades, como no Reino Unido, a falta de vento tem reduzido significativamente a produção de energia eólica.

 

Já no caso da China, o aumento do barril tem pressionado os valores do carvão importado pelo país asiático. Como há regulação do preço final da energia vendida ao consumidor chinês, os produtores têm dificuldade de repassar os aumentos de preços, o que pressiona a manutenção margens de lucro necessárias.

 

Nos EUA, embora a situação seja menos crítica, o combate à inflação já se tornou uma prioridade do governo Biden. “A inflação prejudica o bolso dos americanos e reverter essa tendência é uma das principais prioridades para mim”, afirmou o presidente americano, em um comunicado, logo após o anúncio de que a inflação país alcançar um aumento anual de 6,2%, o maior valor desde 1990.

 

 

A tentativa dos consumidores de influenciar no preço dependerá de ações mais efetivas

Foto: Connor Forsyth / Pexels.

Essas tensões motivaram os países consumidores a se organizar para frear o aumento dos preços do barril do petróleo. Um primeiro movimento, liderado por EUA e Japão, foi de solicitar aos produtores da Opep+ (grupo que envolve a Opep e outros grandes produtores como Rússia e Omã) uma volta mais agressiva da oferta de petróleo, fazendo declarações públicas sobre o tema, inclusive.

 

O governo japonês, que não participa desse tipo de movimento desde o período pré-crise financeira de 2008, está “pedindo aos países produtores de petróleo do Oriente Médio que aumentem a produção”, afirmou Tsutomu Sugimori, presidente da Associação de Petróleo do Japão.

 

Todavia, a resposta da Opep+ foi bastante tímida. Em reunião realizada no início do mês de novembro, o grupo decidiu limitar o aumento da produção de petróleo a um ritmo de 400 mil barris por dia até o fim deste ano. E a tendência é que esse quadro não deve se modificar no curto prazo. Na visão de Opep+, de acordo com a declaração do representante do grupo, o ministro saudita de Energia, Abdulaziz bin Salman, “a crise continua, por isso devemos prestar atenção e não achar que tudo acabou”.

 

Esse valor é insuficiente para atender o aumento do consumo por petróleo, uma vez que, no terceiro trimestre deste ano, a demanda global ainda estava 2 milhões de barris por dia mais alta do que a oferta.

 

Essa ação considerada tímida pelos grandes consumidores manteve pressões dos grandes consumidores, sobretudo de países como os Estados Unidos, a Índia e o Japão, nos quais a demanda por combustíveis segue crescendo. Segundo estimativas da Agência de Informações de Energia do EUA, a expectativa é que a produção de petróleo dos países da OCDE e da China deve crescer um pouco menos de 3 milhões de barris por dia até o quatro trimestre de 2022. Tal aumento deve ser puxado pelos EUA com menor contribuição de Canadá, China e Europa.

 

Além disso, esses países anunciaram que devem fazer um esforço conjunto para liberar barris de petróleo das suas reservas estratégicas a fim de esfriar os preços após produtores da Opep+ ignorarem apelos por mais oferta. De acordo com informações da Forbes:

“o anúncio de que os EUA vão liberar 50 milhões de barris foi feito depois que uma autoridade disse que Washington tinha abordado os principais consumidores de energia asiáticos para ajudarem a reduzir preços do petróleo de máximas de quase três anos. A Índia disse em um comunicado que liberaria 5 milhões barris, enquanto a Grã-Bretanha disse que permitiria a liberação voluntária de 1,5 milhão de barris de petróleo de reservas privadas. A Coreia do Sul disse que detalhes sobre a quantidade e o momento da liberação das reservas de petróleo seriam decididos após discussões com os Estados Unidos e outros aliados. A mídia japonesa disse que Tóquio iria anunciar seus planos na quarta-feira”.

 

Essas ações dos países consumidores, apesar de ter um efeito geopolítico relevante, devem um impacto relativamente pequeno no curto prazo. Primeiro, porque o aumento da produção desses países deve ocorrer no médio prazo de forma relativamente gradual e, segundo, porque as reservas estratégicas que os países estão sinalizando utilizar representa muito pouco sobre o consumo global de petróleo. O volume anunciado do uso de reservas representa um pouco mais de metade do consumo diário de petróleo no mundo.

 

Sem dúvidas, esses esforços sinalizam uma intenção de EUA, Europa e China de influenciarem no futuro dos preços do barril, mas, por enquanto, há uma grande incerteza quando essa intenção terá efeito prático no mundo do petróleo.

 


 

 

Artigo publicado originalmente Broadcast Energia.

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