A questão energética na crise Rússia e Ucrânia e a frágil posição européia

Rodrigo Leão
Broadcast Energia
A questão energética na crise Rússia e Ucrânia e a frágil posição européia

A crise geopolítica envolvendo Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ainda parece estar longe de terminar. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou, em rede nacional, que havia recebido informações de que a Rússia atacaria a Ucrânia no dia 16 de fevereiro. O porta-voz do Pentágono, John Kirby, disse que não poderia comentar informações sigilosas, mas que o governo dos Estados Unidos estava ciente das ameaças. No entanto, paralelamente à essa possível escalada militar, os esforços diplomáticos realizados principalmente pela França e pela Alemanha – responsáveis pelo arranjo chamado “formato da Normandia”, que desde 2015 busca mediar a crise entre Rússia e Ucrânia – têm surtido efeito, ao menos no curto prazo. Tanto o presidente da França, Emmanuel Macron, quanto o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, viajaram até Moscou para se reunirem com o presidente russo, Vladimir Putin, visando encontrar soluções para a crise.

 

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No encontro com Macron, ocorrido no dia 7 de fevereiro, Putin disse que as ideias apresentadas pelo presidente francês poderiam servir de base para avanços, enquanto Macron afirmou que deveria haver maior participação russa nos debates sobre a segurança na Europa. No mesmo dia, o chanceler alemão reuniu-se com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca. Biden foi taxativo ao dizer que, em caso de invasão russa na Ucrânia, o gasoduto Nord Stream 2 – que conecta os campos de produção russos à Alemanha através do Mar Báltico – não entraria em operação. Na visão de Biden, a entrada em operação do Nord Stream 2 pode resultar, para a Europa, em um aumento de dependência energética do gás russo. Entretanto, essa não é a única motivação para a posição contrária dos Estados Unidos, tendo em vista o interesse do governo em aumentar as exportações de GNL para o continente. A posição de Scholz tem sido cautelosa, já que a Alemanha é a segunda maior parceira comercial da Rússia, de modo que a imposição de sanções poderia trazer consequências econômicas negativas para o país.

 

O chanceler alemão reuniu-se com Putin no dia 15 de fevereiro. Por ora, ambos preferiram seguir o caminho da diplomacia para resolver a crise. O presidente russo afirmou não desejar iniciar uma guerra, estando aberto a negociar com os Estados Unidos e a OTAN sobre temas como a instalação de mísseis e transparência militar, e anunciou a retirada de parte das tropas que estavam concentradas na fronteira com a Ucrânia. Scholz afirmou que essa medida era um bom sinal e que não existe um plano imediato para que a Ucrânia ingresse na OTAN.

 

Do lado russo, a questão energética também pesa a favor de uma solução pacífica. No encontro com Scholz, Putin defendeu o papel da energia russa, relembrando a importância do fornecimento tanto de gás quanto de petróleo para a Alemanha e a manutenção dos preços mesmo diante de um período de escassez de oferta na Europa. Ele também defendeu o gasoduto Nord Stream 2, afirmando ser importante para a segurança energética europeia, mas que ainda depende da aprovação de órgãos regulatórios alemães. A Ucrânia não é favorável ao gasoduto, tendo em vista que também abriga gasodutos oriundos da Rússia em seu território, o que gera ganhos ao país por meio de taxas de trânsito do gás. Nesse caso, a entrada em operação do Nord Stream 2 poderia reduzir esses ganhos.

 

 

A questão energética na crise Rússia e Ucrânia e a frágil posição européia

Termoelétrica. Foto: Johannes Plenio / Pexels.

Evidentemente, a complexidade das tensões entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos engloba inúmeras para questões, para além da energética, mas essa última não pode ser negligenciada. No caso dos principais consumidores europeus, como a Alemanha, há um interesse em diversificação das fontes energéticas, mas ainda não é viável fisicamente e, muito menos, economicamente abrir mão do gás russo. Apesar disso, não restam dúvidas que o atraso da operação do Nord Stream e a manutenção das tensões entre europeus e russos favorece uma maior entrada do GNL americano na Europa.

 

Recente estudo dos pesquisadores da Universidade de Old Dominion, Jesse Richman e Nurullah Ayyılmaz, mostram que, em qualquer cenário, uma substituição do gás russo pelo GNL americano seria mais cara para os países europeus.

 

O estudo dos pesquisadores de Old Dominion conclui:

É difícil dissuadir totalmente a politização russa de seu mercado de gás natural para a Europa, mesmo no contexto de um mercado global de GNL grande e a preços competitivos. Na maioria dos cenários, a Europa poderia satisfazer seu fornecimento de gás natural com GNL, mas é provável que seja mais caro do que o gás de gasoduto russo. O gás russo terá custos menores e, portanto, os russos poderiam ganhar uma guerra de preços se assim o desejassem. (…) Mesmo com o boom da produção do gás de xisto dos EUA restrinjam a politização e o poder de fixação de preços da Rússia, o gigante do Leste Europeu mantém uma certa capacidade para explorar sua poderosa posição como principal fornecedor do mercado europeu de exercícios episódicos de politização.

 

Além disso, como bem lembrou o professor da UFRJ e também pesquisador do Ineep, José Luis Fiori, no atual cenário de crise da oferta de energia, o papel da Rússia para a Europa adquire uma importância estratégica ainda maior. O professor Fiori afirma:

O que é certo é que neste momento, em plena crise energética, pandêmica e inflacionária europeia, só a Rússia tem capacidade imediata de aumentar a oferta do gás que os europeus necessitam para esquentar suas casas, baixar seus custos de produção e recuperar a competitividade de sua indústria, diminuindo o grau de insatisfação de suas populações. E é esta excepcional posição excepcional da Rússia que explica o seu empoderamento e sua decisão de avançar suas peças no tabuleiro do xadrez geopolítico da Europa, colocando sentados à mesa de negociações, os EUA, a OTAN e todos os demais países europeus, para discutir a sua própria proposta de redefinição pacífica dos parâmetros estratégicos impostos à Rússia, pela força dos fatos e das armas, durante a década de 1990.

 

Se a questão energética é apenas mais um elemento do conflito russo e ucraniano, sem dúvidas, ela terá um aspecto central para restringir um possível apoio dos europeus a medidas mais beligerantes contra os russos. Por isso, atualmente, parece cada vez mais distante um isolamento da Rússia neste conflito, tendendo a tornar infrutífero o esforço de Biden de colocar o ônus do conflito do colo de Putin.

 


Artigo publicado originalmente no Broadcast Energia

Comentários:

  • Renata

    A Otan é uma organização criminosa. A União Européia foi idealizada por Hitler e a Otan é seu braço armado fascista. Os financistas globais fazem dos EUA marionete para serem os capatazes da Europa e da humanidade. Usam a Europa de escudo para suaa ambições de dominio. E de ofensivas à Rússia.
    Parecem ter inveja da Rússia e do seu Presidente Putin o tempo todo, o que me parece doentio, psicopático.
    É preciso que os EUA parem de ser os capatazes do império economico dis Rothschild e dos donos do dinheiro do planeta que fazem de Bruxelaa a sede dos obedientes comandados, mesmp contra os interesses de seus povos na Europa. Só para beneficiar uma elite económica por trás. Esta OTAN é uma organozação criminosa e precisa ser extinta. Terrorista e os EUA seguem no comando dos crimes usando a UE de servos obedientes. .
    Os povos destes países precisam exigir a extinção desta Otan da guerra e do crime o sr Biden neste momento está roubando o dinheiro do Afeganistão, 7 milhoes de dólares, . Metade de suas reservas de 14 milhões. Perguntem para ele. Prendam este ladrão.

  • tichensnickke1971

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