A crise hídrica dificulta a vocação brasileira de produtora de energia limpa

Rodrigo Leão
Canal My News
A crise hídrica dificulta a vocação brasileira de produtora de energia limpa

Em 2015, o Acordo de Paris foi ratificado por 195 países consolidando uma posição sobre a necessidade de enfrentamento das mudanças climáticas e do aquecimento global.

 

 

O Brasil definiu uma meta de redução na emissão dos gases do efeito estufa de 37% até 2025 e de 43% até 2030. Para atingir este objetivo, o país se comprometeu a alcançar a participação de 45% de energias renováveis na matriz energética, aumentar a participação da bioenergia sustentável para 18% e obter 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico.

 

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A matriz energética brasileira já é considerada uma das mais limpas do mundo. Embora o consumo de energias não renováveis seja maior do que o de renováveis, usamos mais fontes renováveis do que no resto do mundo. A soma de hidráulica, cana, lenha e carvão vegetal e outras renováveis totalizam 46,2% de nossa matriz, quase a metade, enquanto na média mundial esse número cai para 13,8%.

 

A crise hídrica dificulta a vocação brasileira de produtora de energia limpa

Torres de transmissão de energia. Foto: Agência Brasil.

 

Nesse sentido, as duas primeiras responsabilidades energéticas assumidas pelo Brasil em Paris seguem administradas dentro das metas. A despeito disso, a redução das emissões de GEE não está sendo cumprida. Segundo o Relatório do Observatório do Clima, nos últimos anos o Brasil se tornou o quinto maior emissor de gases poluentes, respondendo por 3,2% das emissões globais e ficando atrás apenas de China, EUA, Índia e Rússia.

 

 

Além dos problemas associados à atividade agropecuária que elevam a emissão de gases do efeito estufa por conta dos desmatamentos, queimadas e dos impactos inerentes à pecuária, o contrário desses países, a ausência de planejamento energético também prejudica o alcance da meta de GEE. Isso porque, a fim de evitar um apagão do fornecimento elétrico, o país fica obrigado a utilizar suas usinas termelétricas que funcionam a partir de gás natural – uma energia mais suja em comparação à hidrelétrica.

 

 

Esse maior uso das termelétricas se deve ao período de maior estiagem, mas também à gestão realizada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Como mostram os especialistas do Grupo Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela UFRJ, Dalila Calixto e Gilberto Cervinski, o órgão tem priorizado o despacho para maximizar os retornos de curto prazo ocasionado um esvaziamento dos reservatórios das usinas. Eles citam o caso de Itaipu, onde “foi autorizada a abertura das comportas até afundar o lago a 80% da sua capacidade. Com isso, a usina teve a pior geração de eletricidade dos últimos 20 anos, com 25% a menos (2.500 MW médios)”.

 

 

A ausência de um planejamento adequado para os reservatórios das usinas hidrelétricas não apenas compromete o abastecimento de energia elétrica no país, como também vai na contramão de uma das nossas maiores vocações: ser um grande produtor de energia limpa.

 


 

 

Artigo publicado originalmente no Canal My News.

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