Venda da RLAM produz efeitos negativos para Petrobras

Mahatma dos Santos, Rafael Rodrigues da Costa
Venda da RLAM produz efeitos negativos

Venda da RLAM produz efeitos negativos na capacidade produtiva da Petrobras neste 1° trimestre de 2022.


Em um trimestre marcado pela antítese entre os superlucros alcançados pela Petrobras em 2021 e aceleração do índice geral de preços e, em especial, dos preços dos derivados no Brasil, o relatório de produção e vendas da estatal do 1º trimestre de 2022, divulgado ontem (27/04) apresentou aumento na produção de petróleo e gás natural, queda na produção de derivados e manutenção da tendência de crescimento no volume de vendas de derivados no mercado interno.

 

No primeiro trimestre de 2022, a produção média de óleo, LGN e gás natural cresceu 1,4%, saindo de 2,72 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) no 1T21 para 2,75 milhões de boe/d no 1T22. A produção média de derivados, por outro lado, registrou queda de 5,2% no mesmo período, passando de 1,82 milhão de barris diários (bpd) no 1T21 para 1,72 milhão de bpd no presente trimestre.

 

A elevação da produção de petróleo e gás natural foi impulsionada por três fatores: (i) pela a alavancagem (ramp-ups) da produção no campo de Sépia (FPSOs Carioca) e nos campos de Berbigão e Surucu, todos localizados no pré-sal da Bacia de Santos; (ii) pelo início da operação de novos poços no pós-sal da Bacia de Campos e; (ii) pela retomada da produção em algumas unidades após paradas para manutenção ao longo de 2021.

 

O pré-sal foi o principal vetor do crescimento da produção de óleo e LGN neste trimestre, com variação positiva de 7,3% em relação ao 1T21. A produção saltou de 1,56 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) em 1T21 para 1,68 milhão de boe/d em 1T22. A produção no polígono do pré-sal representou 72% da produção total da Petrobras em 1T22, contra 69% registrados no 1T21. O desempenho atual é reflexo da estratégia da Petrobras, que concentrou seus investimentos quase exclusivamente no desenvolvimento da produção do pré-sal e optou por abandonar áreas de produção no norte e nordeste brasileiro, assim como em águas profundas.

Venda da RLAM produz efeitos negativos

A Refinaria Landulpho Alves (RLAM), hoje privatizada, está localizada no Recôncavo Baiano, sua operação possibilitou o desenvolvimento do primeiro complexo petroquímico planejado do país e maior complexo industrial do Hemisfério Sul, o Pólo Petroquímico de Camaçari. Foto: Agência Petrobras.

No segmento do refino, observou-se uma queda de 5,2% na produção de derivados no presente trimestre, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. A produção total de derivados caiu de 1,82 milhão de barris por dia (bpd) no 1T21 para 1,72 milhão de bpd no 1T22. Essa redução está diretamente relacionada à venda da RLAM, atual Refinaria Mataripe (BA), que detém a segunda maior capacidade de refino do país.

 

Nem mesmo operando com sua capacidade “máxima possível dentro de condições seguras” a Petrobras conseguiu compensar o efeito negativo da sua decisão política de sair do refino na Bahia. No 1T22, a estatal elevou para 87% o fator de utilização (FUT) médio de seu parque de refino, 5 pontos percentuais superior ao observado no 1T21. Na última semana de março a Petrobras atingiu um FUT de 91%.

 

O crescimento de 2,0% do volume de derivados comercializados no mercado interno neste trimestre segue pressionando a capacidade de oferta de derivados da estatal. Esse aumento foi impulsionado pela forte demanda por gasolina, derivado cujas vendas subiram 17,5% no 1T22 (402 mil bpd), quando comparado a 1T21 (342 mil bpd).

 

As vendas de diesel e óleo combustível, por outro lado, registraram queda de, respectivamente, 2,2% e 33,9%, neste trimestre, em comparação com 1T21. A redução sazonal na demanda por diesel explica parcialmente a queda no seu volume de vendas, ao passo que a ampla queda das vendas no mercado interno de óleo combustível deveu-se a menor demanda para geração termelétrica, dado a recuperação do nível dos reservatórios hídricos no país.

 

Vale ressaltar que o bom desempenho das exportações líquidas, que registram crescimento de 18,4% no 1T22, em comparação ao 1T21, se deveu a dois motivos, primeiro, a redução das importações totais em 10,5% e, em segundo lugar, ao crescimento das exportações de petróleo (6,3%) e óleo combustível (6,5%).

 

O desempenho operacional da empresa nesse primeiro trimestre de 2022 reafirma a importância do segmento do refino para Petrobras e lançam dúvidas sobre a política de desinvestimentos em curso. Apenas em 2021 a estatal vendeu três refinarias (RLAM, REMAN e SIX). De acordo com o Plano de Negócios e Gestão 2022-2026, a companhia pretende vender outras 3 refinarias nos próximos anos – a REFAP, REPAR e RNEST. Se concluídas, essas vendas diminuiriam, segundo a própria Petrobras, a capacidade de seu parque de refino dos atuais 2,2 milhões de barris de petróleo por dia (MMbpd) para cerca de 1,2 MMbpd. Essa estratégia deve expor ainda mais a empresa a maior volatilidade em relação aos preços internacionais, além de ampliar os riscos de desabastecimento do mercado interno e, por conseguinte, elevar os preços médios para o consumidor final, como já acontece na Bahia.

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