Transição energética é tema do Ineep em congresso dos petroleiros no ES
A transição energética é um desafio para o mundo inteiro, e todo o mundo tem de caminhar para a transição energética, mas isso não significa o fim da indústria do petróleo. O comentário foi feito pelo pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) Henrique Jäger, em palestra no 30º Congrepes – Congresso Estadual dos Petroleiros do Espírito Santo, durante a qual ele falou do papel do petróleo no desenvolvimento mundial a partir da década de 1950 e da importância das fontes renováveis.
“Fala-se muito de transição energética, mas o mundo tem uma dependência muito grande das energias não renováveis, do petróleo, e não se muda isto de uma hora para a outra”, afirmou Jäger, alertando que há muitos fatores que vão prolongar a vida do petróleo como principal fonte energética no mundo. Para ele, a transição energética é importante, tendo em vista o papel das energias não renováveis na mudança climática, mas se dará com a utilização de várias energias complementares.
O pesquisador do Ineep falou, no último sábado (10/07), no painel que tratou de “Energia para o futuro: o fim do petróleo ou o fim da Petrobras?”, do qual também participaram o diretor do Sindipetro-MG Alexandre Finamori, o doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Francismar Cunha; e o diretor do Sindipetro -ES Etory Feller, que coordenou os trabalhos. Cunha fez um histórico da Petrobras, destacando para o processo de desinvestimentos e de privatização da estatal, e Finamori concentrou-se na vendas dos ativos da empresa voltados para a produção de biocombustíveis, como das unidades da Petrobras Biocombustível (PBIO).
Carvão, petróleo e renováveis
Jäger voltou à década de 1950 para justificar a sua opinião de que o petróleo e o gás natural ainda terão peso na matriz energética mundial por longo tempo e de que a transição se dará com as fontes de energia se complementando. Lembrou, por exemplo, que entre a primeira revolução industrial e meados do século passado, a fonte de energia mais importante do mundo era o carvão. O petróleo se tornou a principal fonte de energia na década de 1950 e demorou 50 anos para se tornar hegemônico.
Em 1975, informou, os hidrocarbonetos respondiam por 92% da matriz energética mundial. Neste momento, o percentual é de 84%, ou seja, uma variação de apenas oito pontos percentuais. “Isso mostra que as energias renováveis também vão precisar de tempo para se tornarem hegemônicas”, comentou ele, acrescentando que a previsão da Agência Internacional de Energia (AIE) é de que as fontes de energia renováveis, que hoje respondem por 7% a 8% da matriz energética mundial, cheguem a 25% em 2040.
O aumento do consumo de energia nos países em desenvolvimento também foi apontado por Jäger como argumento de que petróleo e gás natural ainda terão vida longa. “Com o processo de desenvolvimento econômico, com a inclusão e a redução da pobreza, será necessário gerar energia, não será possível abrir mão de nenhuma fonte”, disse, exemplificando com a China, país de maior população mundial, que ainda tem mais de 50% de carvão na composição de sua matriz energética. E, apesar de ser o país que mais cresce em energia renovável, terá de aumentar o consumo de petróleo e gás num processo de crescimento e de transição, na avalição de Jäger.
No Brasil, a situação é mais confortável. Balanço recente indica um equilíbrio entre fontes não renováveis (52%) e renováveis (48%) na matriz energética. As fontes fotovoltaica e eólica têm registrado crescimento significativo (de 2019 para 2020 o peso na matriz passou de 4% para 7%) mas têm produção limitada, pois não há incidência de sol e vento por 24 horas. E a expansão da capacidade de geração de energia hidrelétrica, no Brasil, também está comprometida por questões ambientais e geográficas.
“Nós não vamos poder abrir mão de nenhuma fonte de energia”, comentou ele, destacando para a importância do pré-sal como produtor do gás natural, que poderá alimentar as térmicas e gerar energia, compensando a volatilidade de fontes renováveis. “Temos de ter fontes complementares, e as termelétricas a base de gás natural podem e devem exercer este papel: o de estabilidade do sistema elétrico”, disse, apontando a importância do pré-sal e da Petrobras no contexto da transição energética no Brasil.
Jäger lembrou ainda que o uso do petróleo não se limita à geração de energia. Com exemplos, citou o seu papel nas indústrias petroquímica, de fertilizantes e farmacêutica. São segmentos que não só dependem do petróleo como matéria-prima, como geram maior valor agregado.
Assista a participação do Ineep no evento
Comunicação Ineep
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