Shell foca em diversificação e operações integradas no Brasil

Com os cinco blocos arrematados na 17ª rodada de concessões da ANP, a Shell se tornou a empresa com o maior número de ativos exploratórios adquiridos na bacia de Santos desde 2017 – ano em que o Brasil retomou um calendário fixo de leilões em meio a uma série de flexibilizações regulatórias.

Nesse período, a anglo-holandesa garantiu acesso a dez blocos na região, oito dos quais como operadora (Sul de Gato do Mato, Alto de Cabo Frio Oeste, Saturno, S-M-1707, S-M-1709, S-M-1715, S-M-1717 e S-M-1719) e dois como sócia da Petrobras (Entorno de Sapinhoá e Três Marias).

A petroleira brasileira, que não apresentou lances na última rodada da ANP, se manteve com oito blocos exploratórios adquiridos em Santos nos últimos quatro anos – em todos os casos como operadora (panorama que poderá se alterar após leilão de Sépia e Atapu, em dezembro, já que a Petrobras exerceu direito de preferência sobre as áreas).

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A bacia de Santos se tornou um ativo estratégico de exploração e produção de petróleo e gás natural para o Brasil, respondendo por cerca de 60% das reservas provadas nacionais de petróleo e gás natural e por 70% da produção total dos hidrocarbonetos no país.

Foto: Elise Aldram / Pixabay.

É nela que reside a maior parte do chamado polígono do pré-sal, uma área de aproximadamente 149 mil km² entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo que abriga algumas das mais importantes descobertas de petróleo e gás natural feitas nos últimos anos.

Dentre os ativos arrematados pela Shell em Santos, cinco – Sul de Gato do Mato, Alto de Cabo Frio Oeste, Saturno, Entorno de Sapinhoá e Três Marias – estão dentro do polígono do pré-sal.

Já os cinco ativos adquiridos na 17ª rodada estão a sudoeste do polígono. Dois deles – o S-M-1707 e o S-M-1709, no setor SS-AP4 – estão relativamente mais afastados da borda em relação aos outros três, no setor SS-AUP4.

A Shell é, hoje, a segunda maior produtora de óleo e gás no país, tendo extraído 466 mil boe/d em agosto. Do total, cerca de 50 mil boe/d são provenientes do Parque das Conchas, na bacia de Campos, onde atua como operadora, com o restante vindo de parcerias em ativos operados pela Petrobras (Tupi, Sapinhoá, Berbigão, Sururu, Atapu e Teste de Longa Duração de Libra) e Total (Lapa), no pré-sal de Santos.

Até 2025, a produção da Shell no Brasil poderá ser elevada em até 189 mil b/d de petróleo e 13,85 milhões de m3/d de gás natural (total de 276 mil boe/d), considerando-se suas participações em cinco FPSOs que começarão a operar no período: Guanabara, Sepetiba, Duque de Caxias e Alexandre de Gusmão, no campo de Mero (Libra), e a plataforma do campo de Gato do Mato, que a Shell opera em Santos¹.

No longo prazo, a curva de produção da companhia poderá subir ainda mais com eventuais descobertas em seus diversos blocos (operados ou em que detém participação) no país, entre os quais estão também ativos nas bacias de Barreirinhas, Potiguar e Campos.

O aumento da produção de gás da Shell será em parte aproveitado pela usina termelétrica Marlim Azul, que está sendo construída em Macaé, no estado do Rio de Janeiro. O empreendimento pertence ao consórcio formado pela major europeia, em parceria com o grupo Pátria Investimento e a Mitsubishi Hitachi.

Nesse projeto, a atuação da Shell se dá de maneira verticalizada, com a companhia respondendo pela produção, escoamento (pelo gasoduto Rota 2, ao qual tem acesso, segundo acordo com a Petrobras), geração e comercialização de energia pela Shell Energy Brasil – empresa lançada em 2020².

Nos próximos quatro anos, a Shell planeja investir 3 bilhões de reais em projetos no setor elétrico brasileiro, incluindo fontes renováveis, como solar e eólica, e termelétricas abastecidas com gás produzido no país ou importado (GNL).

Em paralelo, a empresa desenvolve negócios na área de biocombustíveis por meio da Raízen. Segunda maior distribuidora de combustíveis do Brasil, a joint venture com a Cosan – cuja expansão no mid / downstream já desperta preocupações de ameaça à concorrência³ – está entre as potenciais interessadas nas refinarias colocadas à venda pela Petrobras.

Enquanto a estatal brasileira segue com um agressivo processo de desverticalização, focando na exploração e produção de óleo cru, grandes grupos privados ganham cada vez mais espaço no mercado nacional, inclusive de maneira integrada, como visto no caso da Shell.

O novo cenário imporá desafios às autoridades brasileiras no sentido de garantir a segurança do abastecimento, evitando a formação de oligopólios privados e propiciando preços ao consumidor final compatíveis com a realidade do país – o que, mantida a estratégia atual, abriu mão de fazer por meio da Petrobras.

Fonte:

^[1] A Shell detém participação de 20% em Mero, cujos FPSOs terão capacidade para produzir 180 mil b/d de óleo e 12 milhões de m³/d de gás, e de 50% em Gato do Mato. Nesse último caso, o FPSO, que ainda não foi contratado, deve ter capacidade para extrair 90 mil b/d de óleo e 8,5 milhões de m3/d de gás.

^[2] Disponível em:<https://www.shell.com.br/imprensa/comunicados-para-a-imprensa-2020/shell-brasil-anuncia-nova-estrutura-em-comercializacao-e-novas-energias-no-pais.html>. Acesso em: 17 de out. 2021.

^[3] Entre os exemplos estão a aquisição, pela Cosan, da holding de distribuição da Petrobras Gaspetro e a possibilidade de assumir a construção do gasoduto Subida da Serra, em São Paulo, onde atua na distribuição de gás pela Comgás.