Quais são as consequências das sanções ao petróleo russo?

André Leão
Brasil 247
Imagem da plataforma de petróleo russa SCF Timmerman, da Sovcomflot. Foto: Divulgação/Sovcomflot.

Em fevereiro de 2025, a União Europeia (UE) anunciou a imposição de sanções contra a Rússia pela 16ª vez. Esse movimento já tinha sido acompanhado pelo governo dos Estados Unidos (EUA), que, em janeiro – ainda sob a administração de Joe Biden – também intensificou as sanções.

 

Imagem do navio de petróleo russo SCF Timmerman, da Sovcomflot. Foto: Divulgação/Sovcomflot.

Com a ampliação do grupo de países emergentes, vislumbra-se um futuro em que a cooperação energética pode ser aprofundada, de modo a fazer frente à aliança entre UE e EUA. (Na imagem, o navio petroleiro russo SCF Timmerman, da Sovcomflot, carregando GNL. Foto: Divulgação/Sovcomflot.)

 

Embora o atual presidente dos EUA, Donald Trump, já tenha manifestado ceticismo em relação à aplicação desse tipo de medida, ele afirmou que pode seguir impondo sanções caso o presidente russo, Vladimir Putin, se recuse a negociar o processo de paz no conflito contra a Ucrânia.

 

Ressalta-se que o objetivo das sanções é minar continuamente a capacidade russa de seguir financiando suas ações de guerra, exercendo pressão especialmente sobre o setor petrolífero. Diante desse cenário, é preciso analisar quais são os desdobramentos dessa empreitada no âmbito geopolítico.

 

Busca-se, com a imposição de sanções econômicas, limitar a renda advinda da atividade de exportação de petróleo e de seus produtos derivados. Até o momento, a Rússia tem contornado as sanções ao escoar a produção para países do Sul Global, sobretudo Brasil, Índia e China – integrantes do Brics+, grupo de cooperação entre países de economias emergentes –, que têm absorvido grande parte do petróleo e do óleo diesel.

 

Imagem retangular com fundo branco e bordas azuis; o texto chama o público a se inscrever na lista de transmissão do Ineep no WhatsApp.

 

Nesse sentido, o reforço das ações promovidas pela UE e pelos EUA pretende combater uma certa ineficácia na tentativa de estrangular as exportações russas de combustíveis fósseis.

 

Por um lado, os pacotes de sanções alijam a presença russa na Europa e fortalecem a posição estadunidense no continente; por outro, também podem atentar para a necessidade de cooperação energética entre os aliados do Brics+, culminando em um estreitamento ainda maior das relações e, consequentemente, em um contraponto à parceria entre UE e EUA.

 

Desde o fim de 2022, quando eclodiu a Guerra entre Ucrânia e Rússia, o bloco europeu já havia proibido a entrada de petróleo cru russo. A partir de fevereiro de 2023, os produtos derivados, como o diesel, também tiveram seu ingresso vetado na Europa.

 

Em um movimento coordenado no âmbito do G7, a UE, em dezembro de 2024, e os EUA, em janeiro de 2025, escolheram como alvo das sanções os navios de petróleo e produtos derivados, tendo como meta o encarecimento dos custos logísticos e de transporte, bem como a manutenção do sistema de price cap, que estabelece um teto para os preços dos combustíveis russos.

 

A restrição às exportações russas não atende apenas ao objetivo de restringir o financiamento das atividades de guerra. Do ponto de vista estratégico, os EUA afastam a influência da Rússia no continente europeu ao contribuir para a redução da dependência europeia de fontes energéticas russas.

 

Desse modo, não só debilita sua condição de potência energética – porque a energia perde força como recurso de poder que pode ser utilizado como instrumento de pressão russa na Europa – como também abre espaço à entrada de produtos de empresas estadunidenses no mercado europeu.

 

Devido aos impedimentos à Rússia, segundo dados da U.S. Energy Information Administration (EIA), a Europa tornou-se o principal destino das exportações de petróleo dos EUA a partir de dezembro de 2022. E Trump já declarou que pretende aprofundar essa relação comercial com a UE.

 

Paralelamente à estratégia dos EUA, a Rússia tem estreitado laços com seus parceiros de Brics+, ao ampliar as exportações para a China, a Índia e o Brasil.

 

Em 2024, do volume total de petróleo importado pela Índia, 36% tiveram como origem a Rússia. No caso da China, esse percentual foi de quase 20%. Em 2023, o governo de Putin declarou que aproximadamente 90% do petróleo havia sido exportado para ambos os países.

 

O caso indiano é emblemático, tendo em vista que o país serve como rota de “fuga” para que o combustível russo volte a ser inserido na Europa, cuja operação envolve a compra de petróleo cru e sua reexportação em forma de produtos derivados após ser refinado, escapando do sistema de price cap.

 

O Brasil também aparece como um destino importante para a absorção de derivados russos, especialmente o diesel.

 

Nos últimos anos, de acordo com dados de publicados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as importações de diesel pelo Brasil têm se mantido em níveis elevados, tanto nos valores quanto nos volumes.

 

De 2021 para 2022, o valor total praticamente dobrou. Houve um salto de US$ 7,07 bilhões para 13,95 bilhões. Embora esses valores tenham diminuído em 2023 e 2024, correspondendo, respectivamente, a US$ 9,6 bilhões e US$ 8,3 bilhões, deve-se destacar a alta representatividade da fatia russa de diesel nesses montantes.

 

Nos anos de 2021 e 2022, o percentual de participação do diesel russo no volume total de importações brasileiras do combustível era ínfimo.

 

Em 2021, as importações do combustível alcançaram apenas US$ 16 milhões (0,22% do total), aumentando para US$ 95 milhões em 2022 (0,67%). De 2023 em diante, o aumento foi muito expressivo. Nesse ano, a entrada de diesel russo em solo brasileiro atingiu o valor de US$ 4,5 bilhões, o que representou quase metade do total importado (46,7%).

 

Em 2024, houve um novo incremento considerável, passando a US$ 5,4 bilhões, ampliando a participação do diesel russo para 64%.

 

No caso dos volumes de diesel importados, também se observa uma curva ascendente. Em 2021, foram importadas somente 25 mil toneladas; no ano seguinte, houve um salto para 102 mil toneladas; em 2023, o crescimento foi ainda maior, perfazendo 6,1 milhões de toneladas; e, em 2024, o volume totalizou 7,8 milhões de toneladas.

 

Embora as últimas sanções econômicas impostas pela UE e pelos EUA possam reduzir a demanda da Índia e da China por petróleo, levando em consideração a elevação dos preços de transporte e frete marítimo, é preciso relativizar os efeitos de sua implementação. 

 

 

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Se, por um lado, têm sido eficazes em conter a influência russa no setor energético europeu e ampliado a parceria entre UE e EUA, por outro, têm tido como consequência uma aproximação significativa dos países do Brics+ no setor, o que ajuda a compensar a perda de espaço da Rússia na Europa.

 

Com a ampliação do grupo de países emergentes, vislumbra-se um futuro em que a cooperação energética pode ser aprofundada, de modo a fazer frente à aliança entre UE e EUA.

 


 

Artigo publicado originalmente no Brasil 247.