Petrobras registra queda na produção de óleo, gás natural e derivados em 2022 e Jean Paul Prates herda legado desafiador da era Bolsonaro

Imagem na cor azul escuro, com o logotipo do Ineep ao centro.

Em um ano marcado pelo estopim da guerra em território ucraniano e pela alta volatilidade dos preços do petróleo e seus derivados no mercado global, o relatório de produção e vendas da Petrobras do 4º trimestre de 2022, divulgado ontem (08/02), registrou estabilidade trimestral na produção de petróleo e gás natural e a segunda redução trimestral consecutiva na produção de derivados. Comercialização de derivados no mercado interno e exportações líquidas também caíram na comparação com mesmo trimestre do ano anterior.

 

A despeito da companhia exaltar o cumprimento de metas de produção em 2022, o relatório aponta legado negativo da era Bolsonaro (2019-2022) e cenário desafiador para o novo presidente da companhia, Jean Paul Prates. A venda de ativos estratégicos da companhia nos segmentos de exploração e produção e do refino foram decisivos para redução anual tanto da produção de óleo, LGN e gás natural quanto da produção de derivados.

 

Em 2022, a produção de óleo, LGN e gás natural da estatal caiu 3,2% em comparação com o ano anterior, registrando a marca de 2,68 milhões de barris equivalente de petróleo por dia (Mboed). Essa queda é explicada, principalmente, pelos desinvestimentos concluídos pela companhia ao longo 2022, tais como a venda de sua participação nos 11 campos terrestres do Polo Carmópolis, em Sergipe; do campo de produção de Papa-Terra, na Bacia de Campos; e a cessão de 5% da participação da Petrobras no Contrato de Partilha da Produção do Volume Excedente da Cessão Onerosa no campo de Búzios. Outros elementos que impactaram negativamente a produção total da empresa foram o declínio natural da produção em alguns campos de petróleo, perdas devidas a manutenções e intervenções, e paradas de descomissionamento.

 

Reflexo da venda da REMAN (Manaus) e da parada programada da REPAR (Araucária-PR), a produção anual de derivados de petróleo também caiu 5,9% em 2022, quando comparado ao ano anterior, saindo de 1,85 milhão de barris por dia (Mbpd), em 2021, para 1,74 milhão de barris por dia no ano passado. Nem mesmo o crescimento do fator de utilização (FUT) do parque de refino de 83%, em 2021, para os atuais 88%, impediu o resultado ruim do ano passado.

 

O volume de vendas de derivados no mercado interno registrou queda de 2,9% no em 2022, quando comparada a 2021, puxada pelas reduções de 5,7% na comercialização do Diesel, 0,5% da Gasolina e 7,5% no GLP (gás de botijão). A conclusão da venda da RLAM (atual Mataripe), em novembro de 2021, é fator central na explicação da redução da produção e comercialização desses derivados em 2022, essa refinaria era a segunda maior do país em capacidade de processamento.

 

O saldo líquido das exportações/importações da Petrobras registrou uma piora na comparação anual, saindo de um saldo de 444 mil barris por dia, em 2021, para 321 mil em 2022, queda de 27,7%. Esse resultado se deveu, sobretudo, ao aumento nas importações de gasolina e petróleo de, respectivamente, 25,0% e 7,1%. O volume de importações de diesel se manteve estável na comparação anual, 118 mil barris por dia em média.

 

Por outro lado, as vendas da Petrobras no mercado externo sofreram uma retração de 12,0% em 2022, caindo de 811 mil barris por dia no ano de 2021 para 714 mil barris por dia no ano passado. Houve uma queda significativa na exportação de Petróleo (10,8%) e de Óleo Combustível (8,1%), na comparação entre 2022 e 2021.

 

No segmento de gás e energia, em virtude da melhora no nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas no país, a Petrobras registrou uma queda de 74,9% na geração de energia elétrica e de 32,9% na venda de gás natural para consumo interno em 2022, quando comparado ao ano anterior.

 

Na comparação trimestral, isto é, do 4T22 com o mesmo trimestre do ano anterior (4T21), o desempenho operacional da Petrobras foi semelhante ao anual. A empresa registrou queda de 2,1% na produção de óleo, LGN e gás natural, com destaque para redução de 22,8% na produção de óleo e LGN nos campos terrestres e de águas rasas, queda de 12,4% nos campos do pós-sal profundo e ultraprofundo e, por fim, diminuição de 2,5% na produção de gás natural. O aumento de 2,4% na produção de óleo e LGN no pré-sal atenuou, mas não impediu o resultado negativo. O pré-sal representou 75% da produção total da Petrobras no 4T22.

 

O volume de produção total de derivados registrou queda ainda maior na comparação trimestral, próxima de 10%, saindo de 1,91 mil barris por dia no 4T21, para 1,72 mil barris por dia no 4T22. O fator de utilização do parque de refino da Petrobras caiu de 88% no 4T21 para 86% no último trimestre. A comercialização de derivados no mercado interno também diminuiu em 2,8% na comparação trimestral, em virtude das quedas nas vendas de diesel (2,7%), gasolina (3,5%), GLP (0,5%) e óleo combustível (47,5) no mercado interno. O querosene de aviação (QAV) foi o único derivado a registrar crescimento em seu volume de vendas no mercado nacional, 13% na comparação trimestral.

 

Em síntese, o atual desempenho operacional da Petrobras com quedas trimestrais e anual na produção de óleo, LGN e gás natural, assim como na produção de derivados evidencia, mais uma vez, os impactos negativos da estratégia de desinvestimentos da empresa. O foco na atividade de E&P (exploração e produção), sobretudo no pré-sal, deixou a empresa ainda mais exposta à volatilidade dos preços internacionais. A definição da geração de valor e ampla distribuição de dividendos no curto prazo como objetivos prioritários, além de elevar os preços médios aos consumidores brasileiros, coloca em risco a sustentabilidade da relação entre produção e reservas da Petrobras no longo prazo.

 

Os desafios colocados para nova gestão de Jean Paul Prates são muitos, mas alterar o Plano Estratégico 2023-2027 ainda vigente herdado das gestões passadas é medida essencial para retomada, no curto prazo, de um robusto plano investimentos e transformação do panorama operacional da empresa nos médio e longo prazos.

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