Petrobras, plano de negócios e estratégia: é preciso avançar – por Mahatma Ramos, Ticiana Alvares e José Sérgio Gabrielli

Edifício-sede da Petrobras. Foto: Agência Petrobras.

O novo Plano Estratégico (PE) da Petrobras para o período 2024-2028+, aprovado e divulgado em 23/11, segue limitado por preocupações como endividamento, “disciplina de capital” e rentabilidade no curto prazo, a exemplo do que ocorreu no plano anterior (PE 2023-27).

 

Os investimentos totais previstos orientam-se para manutenção dos níveis de produção de óleo e gás – seu driver de geração de valor -, ampliação da infraestrutura de escoamento de gás natural no país e avanço no incremento da capacidade e eficiência do atual parque de refino da estatal.

 

O plano ainda aponta para uma diversificação “gradual” e crescente” de seu portfólio em direção às energias de baixo carbono. Entretanto, os avanços apresentados são insuficientes para responder aos desafios estratégicos e de longo prazo da Petrobras e do Brasil.

 

O PE 2024-28+ projeta um total de US$ 102 bilhões em investimentos, crescimento de 31% em relação ao plano anterior (PE 2023-27). Desse total, US$ 91 bilhões (ou 89,2%) correspondem a projetos em implantação e outros US$ 11 bilhões (ou 10,8%) a projetos em avaliação. Da carteira de investimentos em avaliação, US$ 6 bilhões destinam-se a projetos de energias de baixo carbono e os outros US$ 5 bilhões aos segmentos de Refino, Transporte e Comercialização (RTC).

 

Para o ano de 2024, o volume total de investimentos projetados é de US$ 18,5 bilhões, com 94% do valor já compromissado, o que reflete apenas a atualização monetária do valor previsto no plano anterior (US$ 18 bilhões) e indica que não haverá antecipação de contratos e investimentos.

 

O gradualismo na gestão e diversificação do portfólio no período 2024-2028+ é evidenciado pela concentração, ainda que menor que no plano anterior, de 72% dos investimentos totais no segmento do E&P, core business da companhia.

 

Ganharam espaço no PE 2024-28+ os segmentos de RTC, aos quais serão destinados 16% do CAPEX total, cinco pontos percentuais acima do observado no PE 2023-27, e de Gás & Energia (G&E), cuja participação sai de 2% para 9% dos investimentos projetados. Os “projetos transversais de baixo carbono”, que representavam 6% dos investimentos previstos no PE 2023-27, concentraram em média 11% no atual plano, saindo de 6% em 2024 para 16% em 2028.

 

Tabela comparativa entre os Planos Estratégicos da Petrobras 2023-27 e 2024-28+.

Fonte: Petrobras. Elaboração Ineep.

 

No segmento do E&P, os investimentos projetados no PE 2024-28+ são de US$ 73 bilhões, crescimento de 12,8% em relação ao PE 2023-27. Novamente, os investimentos se concentram nas atividades de desenvolvimento da produção em águas profundas e revitalização de campos maduros, sem antecipação do cronograma de entrada de novas plataformas, o que não altera a curva de produção da companhia projetada até 2027.

 

Além disso, não há qualquer menção de investimentos na produção onshore (em terra), relevante para a região Nordeste do país, tampouco na política de conteúdo local nas plataformas contratadas.

 

Os investimentos no segmento exploratório seguem representando 7% do total e alcançam o montante de US$ 7,5 bilhões, crescimento de 29,3% em relação ao plano anterior. No entanto, mais uma vez, o plano de negócios concentra seus investimentos nas Bacias do Sudeste, área rentável do pré-sal, e na Margem Equatorial, sem especificar a bacia.

 

Dessa forma, a Petrobras segue fechada para estudos exploratórios em áreas alternativas no Brasil, tais como a Margem Leste Brasileira, em continuidade geológica com a Bacia de Sergipe e Alagoas, que já tem grandes descobertas de gás em águas ultra profundas.

 

No segmento do Refino, Transporte e Comércio (RTC), o volume total de investimentos previstos para o quinquênio é de US$ 17 bilhões, dos quais US$ 5 bilhões estão na carteira de avaliação. O objetivo anunciado para esse segmento é de ganho de eficiência operacional e ampliação da capacidade produtiva, sobretudo através da conclusão do Trem 2 da RNEST (PE), “revamps” das unidades atuais e implantação de novas unidades de diesel (HDT) em cinco refinarias (REVAP, REGAP, REPLAN, RNEST E GASLUB).

 

A projeção da companhia é de um incremento de 225 mil barris por dia (bpd) na capacidade de processamento de petróleo e aumento de 290 mil bpd na produção de diesel até 2029. Esse incremento da capacidade de produção de derivados contribui para redução da dependência estrutural de importações e pode ser suficiente para a situação atual de baixo crescimento da demanda por esses derivados, mas não supera os gargalos na oferta doméstica, sobretudo, se o PIB brasileiro acelerar seu crescimento.

 

A Petrobras também reafirmou o seu retorno ao segmento de fertilizantes, tal como anunciado em agosto por seu presidente, destacando os planos de retomada da operação da ANSA, no Paraná, e de conclusão das obras da UFN III, no Mato Grosso do Sul. Porém, não apresentou prazos e metas para essas ações. Na área da petroquímica, sem oferecer detalhes, a Petrobras alterou o plano anterior e admitiu estudos para investimentos e aquisições no setor.

 

O segmento de Gás & Energia (G&E) tem previsão de investimentos totais de US$ 9 bilhões até 2029, dos quais US$ 6 bilhões estão em processo de avaliação. Se concretizados, isso significaria um aumento de 4,7 vezes do CAPEX projetado no PE 2023-27. O foco anunciado pela Petrobras nesse segmento é de ampliar a infraestrutura de escoamento e oferta de gás natural, principalmente, a partir do pré-sal, mantida a sua capacidade produtiva instalada.

 

Dentre os projetos anunciados, destacam-se o gasoduto ROTA 3, na Bacia de Santos, e com previsão de entrar em operação em 2024; o Projeto Raia (BM-C-33), na Bacia de Campos, que deve operar a partir de 2028; e o gasoduto do projeto SEAP (Sergipe Águas Profundas), cuja previsão de operação é para 2029. Juntos esses projetos ampliaram a capacidade de movimentação de gás natural no Brasil em cerca de 52 milhões de m³ por dia até 2029.

 

Em relação aos “projetos transversais de baixo carbono”, o PE 2024-28+ concentra seus investimentos previstos em projetos de geração eólica e solar (US$ 5,5 bilhões), na descarbonização de suas operações (US$ 3,9 bilhões), projetos de P&D (US$ 0,7 bilhão) e apenas US$ 0,3 bilhão na cadeia do Hidrogênio, sem especificar sua tipologia. A robusta parcela destinada aos segmentos eólicos e solar revela que a estatal se antecipa à aprovação do PL 576/2021, que regulamenta a geração de energia eólica offshore no Brasil, a despeito dos problemas e fragilidades da versão atual da proposta.

 

Destaca-se também o baixíssimo montante de investimentos destinados à cadeia do Hidrogênio, à captura e sequestro de carbono e à possibilidade de investimentos em start-ups, fundamentais para que a companhia se posicione nesses segmentos.

 

Em síntese, o PE 2024-28+ expressa o fato de a Petrobras seguir em disputa, entre um plano de negócios míope e curto prazista e a necessidade de avançar na construção de um plano estratégico de longo prazo, preocupado com o futuro operacional e financeiro da companhia e que a reaproxime de um projeto de desenvolvimento nacional soberano do ponto de vista industrial, tecnológico e energético, elementos essenciais para que a Petrobras avance como protagonista de um processo de transição justa no Brasil.

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