Petrobras no 1º trimestre: frustração hoje e dúvidas para o amanhã
A Petrobras divulgou nesta terça-feira 7, após o fechamento do mercado, o seu balanço trimestral. O lucro líquido e a receita operacional (antes das despesas com juros, impostos, depreciação e amortização – Ebitda) foram de 4,2 bilhões de reais e de 27,4 bilhões de reais. Esses resultados foram afetados pela nova regulamentação contábil adotada pela Petrobras (IFRS 16). Com isso, apresentaremos aqui os principais resultados excluindo os efeitos dessa mudança contábil.
No primeiro trimestre de 2019, o lucro líquido e a receita operacional caíram 5% e 4%, na comparação com o ano passado, e 36% e 19% em relação ao último trimestre do ano passado.
Essas quedas nas comparações entre os trimestres anuais são basicamente explicadas pela base de comparação, pois no ano passado ocorreu uma receita não recorrente com a venda de campos de petróleo no total de 3,2 bilhões de reais. Esse valor reduziu as despesas operacionais naquele período e, como no 1º trimestre de 2019 não houve vendas de ativos, ocorreu uma elevação nessas despesas. Isso implicou em menores lucros e receitas operacionais para a Petrobras, sobretudo na área para a área de produção e exploração. Cabe observar que nessa comparação ocorreu queda de 6% da produção que foi compensada pelo aumento de 10% dos preços do petróleo em reais em virtude exclusivamente da desvalorização do real.
No caso das expressivas quedas do lucro e do Ebitda (lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações) na comparação com o trimestre imediatamente anterior, verificou-se que esse resultado negativo foi fruto das quedas do preço do petróleo em reais (7%), da produção de petróleo (4%), do volume de venda de derivados (5%) e dos seus preços que acompanham o mercado internacional.
Obstáculos de longo prazo
Esses resultados do trimestre podem ser interpretados como sinais de obstáculos de longo prazo que serão enfrentados pela Petrobras. Esperava-se que a produção de petróleo e LGN da Petrobras já estivesse decolado em 2019, algo próximo a 3 milhões de barris por dia, mas neste 1º trimestre o resultado foi de 2,4 milhões de barris por dia.
A produção de petróleo tem declinado trimestre após trimestre desde 2017. Ao contrário do que alega a gestão da companhia, esse resultado não responde apenas às paradas programadas de produção, mas também a uma estratégia de longo prazo de redução dos investimentos na exploração e produção (E&P).
Desde 2015, pelo menos nove plataformas que já deveriam estar operando nos campos da Petrobras, tiveram seus projetos postergados ou canceladas. Os dois módulos de Marlim, por exemplo, que deveriam ter entrado em operação em 2018 (segundo o Plano de Negócio e Gestão de 2014-2018), foram reprogramados para 2021. As plataformas P-73 e P-72 por seu turno já foram canceladas. Foram esses adiamentos e cancelamentos que impediram a Petrobras a superar a barreira dos 3 milhões de barris por dia. Isso sem conter que a ausência de investimentos em recuperação dos campos maduros faz com que o declínio da sua produção seja muito mais acelerado. Ou seja, a política de desinvestimentos já começou a impactar na produção de petróleo e na geração de caixa operacional da Petrobras.
Outro aspecto que o resultado do balanço aponta é a importância da Petrobras preservar sua condição de empresa integrada. Entre o 4º trimestre 2018 e o 1º trimestre de 2019, a queda do preço do barril internacional do barril R$ 258 para R$ 238 tem efeitos diferentes no abastecimento e no E&P. Enquanto no abastecimento, o resultado entre os dois trimestres melhorou, segundo a companhia fruto das margens maiores com a venda de derivados, no E&P só não houve uma piora dos resultados em função dos impairments realizados no 4º trimestre 2018. Caso contrário, o resultado do E&P teria sido pior. Mas, o que isso significa?
Isso significa que, em momentos de queda do preço, o abastecimento tem uma capacidade de contrabalançar a piora de resultados do E&P. O que coloca em dúvida a atual estratégia da Petrobras, anunciada no último mês, de venda de boa parte do seu parque de refino.
Por fim, cabe observar que pelo lado do endividamento, mesmo com todo o esforço de desavalancagem, com a venda de ativos, inclusive campos do pré-sal, a dívida líquida caiu apenas 4 bilhões de reais entre o trimestre de 2018 e o 1º trimestre de 2019 (de 270 bilhões para 266 bilhões já excluindo os efeitos do IFRS), no entanto a relação dívida/LTM EBITDA caiu de 3,5 para 2,4 em decorrência da ampliação de 46% da geração de receitas operacionais entre o 1º trimestre de 2018 e o 1º trimestre de 2019 (acumulado de 4 trimestres) fruto sobretudo do aumento de 43% do preço do petróleo (em R$) nessa comparação. Em outras palavras, a melhora desse indicador financeiro decorre da geração de receitas operacionais positivas em função do aumento do preço do petróleo, que poderia ter sido ainda melhor se a empresa não tivesse vendido seus ativos.
Artigo publicado na Carta Capital.
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