Petrobras distribui mega dividendos de R$ 43,7 bilhões no 3T22

Imagem na cor azul escuro, com o logotipo do Ineep ao centro.

A Petrobras divulgou na quinta-feira (03/11) os resultados operacionais e financeiros do terceiro trimestre de 2022 (3T22). O lucro líquido da empresa foi de R$ 46,1 bilhões no presente trimestre, decorrente, sobretudo, do forte crescimento das receitas de venda de derivados no mercado interno, a despeito da queda verificada na produção e comercialização de derivados. 

 

O repasse aos consumidores brasileiro das oscilações dos preços do petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio, além de custos logísticos, tal como prevê sua política de preços atual (PPI), segue como potente vetor dos resultados alcançados e da robusta distribuição de dividendos da Petrobras.

 

Quando se compara o resultado da companhia nos primeiros 9 meses de 2022 com mesmo período de 2021, nota-se que o lucro líquido quase duplicou (92,9%) e o pagamento de dividendos praticamente triplicou (184%) no período. Por outro lado, a produção de óleo e gás natural caiu 3,4% e de derivados 4,5%, como consequência da redução sistemática do volume de investimentos nos últimos anos.

 

No terceiro trimestre de 2022, o lucro líquido foi de R$ 46,1 bilhões, valor 48,0% superior aos R$ 31,1 bilhões do 3T21. Esse crescimento do lucro líquido é explicado, em grande parte, pela elevação de 39,9% na receita total de vendas, que saltaram de R$ 121,6 bilhões no 3T21 para cerca de R$ 170,0 bilhões no presente trimestre. Essas receitas se beneficiaram do aumento de 37,3% no preço médio do barril de petróleo (brent) no mercado internacional, mas, principalmente, da subida de 64,2% no preço médio dos derivados no mercado interno nesse período, a despeito das mudanças na gestão da empresa e impactos das reduções de impostos federais e estaduais ainda durante o terceiro trimestre. 

 

Essa explosão dos preços dos derivados no mercado brasileiro permitiu que as receitas de vendas no mercado interno crescessem 48,3%, na comparação do 3T22 com o 3T21, alcançando R$ 135,5 bilhões, o equivalente a 80,0% das receitas totais da companhia no 3T22. A queda de 0,9% na comercialização de derivados no mercado nacional, foi compensada, em especial, pelo aumento das receitas de venda (71,7%) e dos preços (11,6%) do Diesel no mercado interno nesse período. A estratégia de segurar os preços de alguns derivados no período pré-eleitoral teve maior impacto na redução dos preços da gasolina (5,7%) e do GLP (0,9%), aliviando temporariamente a pressão inflacionária, mas não impediram o aumento das receitas da companhia com esses derivados no 3T22, quando comparado ao 3T21.

 

No mercado externo, o bom desempenho da companhia com o aumento de 14,4% das receitas de vendas, na verdade esconde alguns riscos da estratégia de concentrar sua atuação na exportação de petróleo. A companhia registrou queda de 39,9% no volume e 11,8% nas receitas de vendas do petróleo exportado no 3T22, em comparação ao 3T21. Essa estratégia comercial significou tanto uma perda de market share da Petrobras em mercados como o chinês e indiano para Rússia, quanto reforçou ainda mais a exposição da Petrobras a volatilidade do ciclo de preços do petróleo no mercado internacional.

 

Esse lucro líquido proporcionou um fluxo de caixa operacional (FCO) robusto neste trimestre, de R$ 63,2 bilhões (14,7% maior do que no 3T21), resultado das entradas e saídas de caixa relacionadas às atividades operacionais. Esse valor do FCO foi mais de 6 vezes superior aos investimentos realizados pela empresa no mesmo período (R$ 10,2 bilhões). 

 

Esse dado reforça a escolha estratégica da companhia em direcionar sua capacidade de geração de caixa à maior distribuição de dividendo, em detrimento de sua capacidade de investimentos em exploração, produção e refino. Decisão essa que amplia ainda mais a vulnerabilidade da empresa a choques externos. 

 

A distribuição de dividendos no 3T21 foi de R$ 43,6 bilhões, valor 37,2% superior aos já altos R$ 31,8 bilhões pagos no 3T21. Como já observado, quando se compara os nove primeiros meses de 2022 com o mesmo período de 2021, nota-se que os R$ 179,9 bilhões distribuídos ao longo de 2022 são 184% superior aos R$ 63,4 bilhões no ano anterior. Esse montante equivale a cerca de 43,2% do valor de mercado da empresa hoje (03/11), R$ 416,8 bilhões. Ademais, esse valor corresponde ao total de investimentos realizados pela companhia no acumulado dos últimos 16 trimestres, isto é, aos investimentos realizados entre o 3T18 e o 2T22. 

 

O resultado da Petrobras do terceiro trimestre de 2022, reitera que a geração de valor no curto prazo e a distribuição de mega dividendos foram as prioridades da estatal sob a gestão Bolsonaro, que optou por reforçar a dependência da companhia de uma política de preços agressiva (PPI) e do ciclo dos preços internacionais. Com isso, nos últimos anos, a companhia penalizou os consumidores nacionais e fragilizou a sustentabilidade produtiva futura da Petrobras. 

 

A recém nomeada direção da empresa parece seguir, tal como no segundo trimestre, operou seu caixa para atender os interesses imediatos de seu acionista majoritário, que premido por suas necessidades de financiamento de políticas de caráter eleitoral implementadas nos últimos meses, pressionou a Petrobras a elevar ainda mais sua distribuição de dividendos. Em outras palavras, apoiado nos baixos custos e alta produtividade do polígono do Pré-sal, a Petrobras de Bolsonaro priorizou a geração extraordinária de valor para benefício de seus poucos acionistas, ao mesmo tempo em que restringiu seu market share no mercado global e reduziu seus investimentos nos segmentos de exploração, produção e refino.

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