Petrobras deve apresentar um bom desempenho operacional em 2020, mas novos testes de impairments deixam o resultado imprevisível

Petrobras deve apresentar um bom desempenho operacional em 2020, mas novos testes de impairments deixam o resultado imprevisível
Petrobras deve apresentar um bom desempenho operacional em 2020, mas novos testes de impairments deixam o resultado imprevisível

Rio de Janeiro – O edifício sede da Petrobras, no centro da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

A Petrobras divulga hoje (24/02) o seu balanço anual 2020. Segundo estimativas do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), baseadas no resultado operacional da companhia, a expectativa é de que a empresa registre um prejuízo no ano passado. O resultado negativo seria explicado, principalmente, pela diminuição de vendas para o mercado interno em comparação a 2019.

 

Todavia, esse potencial prejuízo pode ser fortemente afetado por novos testes de impairments. A partir da análise dos resultados de outras petrolíferas, a avaliação do Ineep é que há uma tendência de a Petrobras reverter, ao menos, uma parcela do prejuízo contábil ocorrido no primeiro trimestre de 2020.

 

Considerando os resultados operacionais de 2020 e os impairments realizados no primeiro trimestre de R$ 65,3 bilhões, a estimativa do Ineep é que a estatal deve apresentar um prejuízo contábil de R$ 49,0 bilhões. Esse valor, portanto, refletiria basicamente a baixa contábil realizada pela Petrobras, uma vez que a companhia alcançou bons resultados operacionais ao longo do ano, apesar das dificuldades impostas pela Covid-19. Isso foi fruto principalmente de dois fatores:

  1. expansão de 4,3% na produção de petróleo entre 2019 e 2020 (de 2.172 mil barris por dia para 2.266 mil barris por dia), com a expansão da produção no pré-sal; e
  2. aumento da receita de vendas para o mercado externo de 5% em razão do crescimento das exportações de petróleo e derivados, principalmente do óleo combustível tipo bunker.

 

Tabela 1 – Estimativas do Balanço da Petrobras (em milhões).

*Estimativas do Ineep. Fonte: Ineep

 

Por conta desses resultados, mesmo com o preço do petróleo caindo 35%, o Ineep projeta que o lucro bruto em 2020 deve ser apenas 5% menor do que em 2019. Em relação ao EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), a previsão é de que o resultado positivo chegue a algo próximo a R$ 127,570 bilhões, montante 1% menor ao registrado em 2019.

 

As receitas de vendas, por sua vez, tendem a ser significativamente menores em comparação a 2019. A projeção é que este indicador apresente um valor de R$ 268,5 bilhões, o que deve representar um decréscimo da ordem de 11% frente ao ano anterior, quando as receitas de vendas foram de R$ 302,3 bilhões.

 

Na avaliação do trimestre, os resultados do quarto trimestre devem ser um pouco melhores que os registrados no terceiro trimestre. Se isso ocorrer, deve-se à recuperação das vendas para o mercado interno, que acrescido pelo aumento nos preços dos derivados, devem registrar um aumento de receita de vendas próximo a R$ 71,4 bilhões.

 

No entanto, há a possibilidade de reversão de, pelo menos, parte dos impairments realizados pela companhia no primeiro trimestre de 2020 (US$ 13,4 bilhões). Isso pode afetar significativamente o resultado trimestral e anual da Petrobras.

 

O Ineep, ao analisar o resultado das demais companhias de petróleo, observa que aquelas que realizaram impairments similares ou superiores da Petrobras, desvalorizaram ativos concentrados em áreas de exploração e produção, principalmente de não convencionais. É o caso da petrolífera BP, cujos impairments (US$ 14,9 bilhões) estiveram concentrados nas areias betuminosas do Canadá, em ativos não convencionais nos Estados Unidos e nos campos maduros do Mar do Norte. Tais ativos têm seu custo de extração muito mais elevado em comparação aos da Petrobras e, por isso, preços mais baixos do barril do petróleo tem forte reflexo sobre eles.

 

Tabela 2 – Resultado e impairments de grandes petrolíferas em 2020 (em US$ milhões).

Fonte: Informes financeiros das empresas. Elaboração Ineep.

 

Além disso, as estimativas de preço de petróleo utilizadas por essas companhias para realizar seus testes de impairments foram muito menos conservadoras do que da Petrobras. A mesma BP trabalhou com uma projeção do preço do barril de US$ 50 em 2021 e de US$ 60 depois de 2025. Já a Petrobras considerou o preço de US$ 30 para 2021 e de US$ 50 para depois de 2025.

 

Em termos operacionais e de geração de caixa, a Petrobras deverá apresentar um resultado melhor do que o esperado no início da pandemia em virtude do crescimento da produção de petróleo entre 2019 e 2020 e do crescimento das exportações de petróleo, com o aumento da produção, e dos derivados com a maior utilização do parque de refino da Petrobras, que passou de 77% para 79%, entre 2019 e 2020.

 

Ou seja, o refino da Petrobras teve papel importante para minimizar as perdas durante a pandemia, que deslocou suas vendas para o mercado externo. Em relação a 2019, o volume exportado de petróleo e derivados cresceu 30% (de 735.000 bpd em 2019 para 957.000 bpd em 2020), em boa medida puxado pelo aumento nas vendas do óleo tipo bunker para os mercados da Ásia e Europa.

 

Diferentemente do que aconteceu em outros países, a Petrobras não foi obrigada a reduzir sua produção de petróleo durante a crise da Covid-19. A menor formação de estoques, a recuperação de market share no mercado interno e o crescimento nas exportações de petróleo cru e óleo combustível deverão, portanto, fazer com que a Petrobras alcance um resultado negativo, em decorrência da pandemia, mas que foi mitigado pelas oportunidades de mercado encontradas pela companhia. A depender das decisões contábeis da gestão, esse prejuízo pode ser ainda mais atenuado no resultado que será apresentado na próxima quarta-feira.

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