Petrobras 2025-2029: crescimento em investimentos, mas foco ainda no curto prazo

Mahatma dos Santos, Ticiana Alvares
CartaCapital
Alta dos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras

A Petrobras divulgou, na última sexta-feira (21/11), seu Plano de Negócios 2025-2029 e seu Plano Estratégico 2050, informes ao mercado que permitem a sociedade compreender o papel projetado para a estatal, para o petróleo e seus derivados na matriz energética brasileira nos próximos anos.

 

Alta dos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil.

 

A retomada de uma visão de longo prazo e a transversalidade do tema da transição energética representam importantes avanços, embora constrangidos e limitados pelos compromissos de curto prazo. 

 

O plano reafirma o compromisso da empresa com geração de valor, rentabilidade e distribuição de dividendos no próximo período, assim como com a manutenção de seu foco operacional na exploração e produção de óleo e gás (E&P) e a expansão das suas atividades nos segmentos do refino, fertilizantes, petroquímico e de bioprodutos.

A descarbonização de suas operações é o centro de sua agenda de mitigação das emissões, enquanto o avanço para novas rotas tecnológicas seguirá gradual. A novidade foi o anúncio da virada da Petrobras para o etanol.

 

No longo prazo (PE2050), ancorada em premissas que consideram as singularidades das mudanças climáticas para segurança energética nacional, a estatal indica diversificação gradual de seu parque industrial, ambição de alcançar neutralidade de emissões até 2050 e sua manutenção como garantidora de 31% da oferta primária de energia no país.

 

Voltar a pensar o longo prazo é uma importante contribuição da atual gestão.

 

A Petrobras é um instrumento-chave para promoção do desenvolvimento industrial de baixo carbono e da agenda da transição energética justa no Brasil, em especial em um cenário global marcado por incertezas geopolíticas, conflitos em torno da segurança energética e pelos efeitos cada vez mais intensos e acelerados da crise climática. A cadeia produtiva do petróleo está no centro dessa agenda.

 

Os avanços e projeções prometidas, no entanto, esbarram, mais uma vez, nos compromissos financeiros de curto prazo da companhia, que por múltiplas vezes afasta a estatal do interesse público.

 

Mesmo com a elevação projetada da geração de caixa operacional na comparação com o plano anterior, saindo do piso de US$ 180 bilhões no Plano Estratégico 2024-28+ para US$ 190 bilhões no Plano Estratégico 2025-29, a companhia aponta uma redução de seu fluxo de investimentos totais e ampliação dos pagamentos de dividendos ordinários no próximo quinquênio, um evidente retrocesso em relação ao último plano.

 

Novamente, na disputa pela apropriação da renda petroleira, vence o rentismo em detrimento de investimentos de longo prazo na transição energética. 

 

A companhia projeta um total de investimentos para o quinquênio 2025-2029 de US$ 111 bilhões, valor 8,8% superior aos US$ 102 bilhões previstos no plano anterior. Do total de investimentos, US$ 98 bilhões estão na carteira de projetos em implantação, e outros US$ 13 bilhões estão ainda em avaliação, sendo que parte majoritária, 72,0% ou US$ 8 bilhões, refere-se à energia de baixo carbono. 

 

O segmento do E&P representa 69,0% do total dos investimentos previstos (US$ 77 bilhões), mantendo-se como foco operacional da companhia.

 

No segmento de Refino, Transporte e Comercialização (RTC), ao qual foram incorporados os segmentos de fertilizantes e petroquímico, são projetados US$ 20 bilhões em investimentos, 18,0% do total.

 

Para o segmento de Gás e Energia de Baixo Carbono (G&E), os investimentos previstos totalizam US$ 11,5 bilhões, dos quais US$ 8,9 bilhões estão na carteira de avaliação.

 

A expansão projetada de 42% nos investimentos em descarbonização, novas rotas tecnológicas e pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), que podem alcançar US$ 16,3 bilhões no quinquênio, validam a preocupação da companhia na diversificação de suas atividades, mas ainda em intensidade inferior ao seu potencial. 

 

Nos nove primeiros meses de 2024, a companhia já anunciou o pagamento de cerca de R$ 64,5 bilhões em dividendos referentes ao exercício 2024, dos quais R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários, também anunciados no último dia 21.  Trata-se de valor cerca de 20,0% superior ao lucro líquido apurado no período, R$ 53,6 bilhões. 

 

Para 2025, a companhia prevê a manutenção dos mesmos US$ 18,5 bilhões de investimentos previsto no plano anterior, mas ampliando a destinação de recursos para o segmento de refino, transporte e comercialização, em especial para ampliação da capacidade produtiva da RNEST, melhorias em refinarias e retomada dos investimentos no segmento de fertilizantes, com objetivo de reduzir a dependência brasileira tanto de derivados quanto de nitrogenados. 

 

A sinalização de avanço mais acelerado em direção à produção de bioprodutos (etanol, biorrefino, biodiesel e biometano), expressos nas falas da presidente da empresa, Magda Chambriard, e do diretor Maurício Tolmasquim, precisa estar alinhada ao fortalecimento da Petrobras Biocombustível, mas também colocará novos desafios à companhia.

 

A agenda da transição energética é uma oportunidade para o Brasil, para a indústria e para a Petrobras avançarem no desenvolvimento de potencialidades nacionais e regionais. A garantia da segurança energética e alimentar do país é essencial e a Petrobras é uma empresa-chave nessa missão. 

 

 

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Essa agenda precisa estar integrada a um projeto nacional de reindustrialização, com destaque para o desenvolvimento de novas rotas tecnológicas que levem em conta as características regionais. 

 

Para além da rota orgânica, a Petrobras deve avançar em investimentos na rota eletrolítica e na diversificação, mirando oportunidades de mercado de longo prazo. 

 

Para isso, a rentabilidade de curto prazo não pode ser um fim em si mesmo.  Para que o Brasil possa desenvolver seu potencial baseado em uma nova indústria de baixo carbono, a construção de uma empresa forte e integrada de energia comprometida com a transição energética justa deve ser a bússola da Petrobras para 2050.

 


 

Artigo originalmente publicado na CartaCapital.