Os projetos industriais devem apoiar a recuperação do gás natural pós-crise da Covid-19

Rodrigo Leão
Broadcast Energia
Os projetos industriais devem apoiar a recuperação do gás natural pós-crise da Covid-19
Os projetos industriais devem apoiar a recuperação do gás natural pós-crise da Covid-19

Foto: Markus Spiske / Pexels.

A pandemia da Covid-19 afetou a indústria de energia global em razão das medidas de isolamento social e da restrição das atividades econômicas. Apesar disso, alguns segmentos sofreram mais do que outros. A demanda por gás natural, por exemplo, deve apresentar uma queda menor do que por petróleo e carvão. Para 2021, por conta principalmente da recuperação na Ásia e no Oriente Médio, o consumo de gás natural já deve ficar acima daquele observado em 2019, algo que não deve ocorrer com as outras duas fontes de energia.

 

As perspectivas dos próximos cinco anos apontam para uma rápida recuperação do consumo de gás natural que deve ser puxada pelo setor industrial, principalmente pela petroquímica, segundo aponta um relatório publicado recentemente pela Agência Internacional de Energia (AIE). O maior uso do gás natural como insumo e projetos industriais explicam a expectativa de crescimento da petroquímica no mundo. Dessa forma, programas de investimentos estruturados por diferentes países e empresas serão decisivos para criar oportunidades para o uso do gás natural no mundo.

 

» Leia também outros artigos sobre Gás e renováveis. Clique aqui.

 

A previsão da AIE é que, em 2020, o consumo de petróleo e de carvão se reduza, respectivamente, 9% e 8% em relação a 2019. O petróleo tem sido afetado pela redução do uso de meio de transporte movido a combustíveis fosseis, enquanto o carvão tem sofrido com a concorrência de outras fontes utilizadas para geração de energia elétrica, como eólica e solar.
Já a demanda por gás natural deve diminuir apenas 4% no mesmo período. Mais importante é que, já em 2021, o consumo deve retomar o patamar de 2019. Ainda assim, a crise da Covid-19 deve ter repercussões no potencial de crescimento de médio prazo. No período de 2019 a 2025, a AIE revisou a taxa média de expansão do consumo anual de gás natural para 1,5% por ano, um percentual inferior em comparação com a previsão inicial que projetava uma taxa anual de crescimento de 1,8%.

 

Apesar disso, o desempenho do gás natural deve ser melhor do que de outros segmentos energéticos não renováveis. No caso do petróleo, por exemplo, a recuperação da demanda para o patamar observado em 2019 deve demorar entre três e quatro anos.

 

A maior parte da recuperação da demanda por gás natural em 2021 deve vir da região Ásia-Pacífico, à medida que a China e os mercados emergentes asiáticos se recuperam economicamente e beneficiam de preços atrativos do gás. Além da recuperação econômica, vários projetos de integração de infraestrutura, liderados pelos chineses, envolvem o segmento de gás natural. O gigante asiático tem executado investimentos em exploração de gás natural, construção de termoelétricas e infraestrutura logística junto com vários de seus vizinhos, como Mianmar, Vietnã e Indonésia. A maior demanda no Oriente Médio também deve influenciar a recuperação do consumo de gás natural no curto prazo uma vez que alguns grandes produtores, como a Arábia Saudita e o Irã, estão desenvolvendo projetos para explorar seus gigantescos mercados internos.

 

Além do crescimento asiático e do Oriente Médio, alguns setores devem se beneficiar com a mudança da matriz energética de carvão para gás, em função dos preços mais baixos e da oferta crescente em especial do gás natural liquefeito (GNL).
Quando se observa os próximos seis anos, esses mercados também serão chaves para preservar o aumento do consumo de gás natural. Todavia, o que mais chama atenção no relatório divulgado pela AIE sobre o gás é o papel do setor industrial para sustentar esse crescimento:

 

“O uso do gás natural pelo setor industrial, que deve crescer a uma taxa média de 2,5% por ano nos próximos cinco anos, é o principal contribuinte para o aumento da demanda até 2025, representando 40% do consumo incremental”.

 

 

Vários segmentos industriais devem contribuir para elevar a demanda de gás natural. Na Ásia, destaca-se a utilização do gás como combustível para processos industriais da China. Em alguns grandes produtores, como Estados Unidos, a Rússia, Norte da África e Oriente Médio, a fabricação de fertilizantes e petroquímicos, tanto para exportação como para o mercado interno, deve impulsionar o maior consumo de gás como matéria-prima.

 

Embora não seja considerada uma energia renovável, o gás natural deve se beneficiar da sua possibilidade de substituir energias mais sujas como petróleo e carvão, principalmente na indústria petroquímica. Essas três fontes energéticas podem ser usadas como matéria-prima para a produção de petroquímicos básicos (1ª geração) e petroquímicos finais (2ª geração). Em vários países, por exemplo, a nafta – derivado do petróleo – ainda é o principal insumo para a fabricação desses produtores petroquímicos.

 

Dados de um estudo do Banco do Nordeste, coordenado por Fernando Luiz Viana e publicado em 2019, mostram que há um potencial para o maior uso do gás natural na indústria petroquímica de vários países:

 

“No Brasil, a nafta (92%) é a principal matéria-prima da cadeia petroquímica, seguida pelo gás natural (8%), (…). Na União Europeia (81% nafta, 19% gás natural) e no Japão (97% nafta, 3% gás natural) há certa similaridade com o Brasil”.

 

De acordo com a AIE, o consumo industrial de gás para aplicação de matéria-prima química tem uma previsão de aumentar a uma taxa anual de 3,4% até 2025, devido sobretudo a novos projetos de fertilizantes e metanol. Os fertilizantes, cuja utilização deve se expandir a 3,5% no período 2019-2025, representam o setor de maior expectativa de crescimento. Para se consolidar, serão decisivos os investimentos em plantas de ureia na Índia, no Paquistão e Bangladesh. Os Estados Unidos serão o principal responsável pela expansão da utilização do gás de matéria-prima para o metanol.

 

O aumento da demanda do gás natural nos próximos anos, portanto, não passa apenas por uma simples recuperação da economia, mas envolve também o desenvolvimento de inúmeros projetos de expansão de várias indústrias, principalmente a petroquímica.

Comentários:

Comentar