O reposicionamento da América do Sul na indústria de petróleo global

Foto: Diálogos do Sul.

 

Em 1980, de acordo com dados estatísticos da petrolífera BP, as reservas petrolíferas da América do Sul/Central representavam apenas 3,9% das comprovadas no mundo, ficando na sexta posição entre sete regiões analisadas no relatório, que incluem: América do Norte, Oriente Médio, Europa, África, Ásia e Comunidade dos Estados Independentes (os países que pertenciam à antiga União Soviética). Na época, mais da metade do petróleo no mundo pertencia ao Oriente Médio, região que possuía 53% das reservas mundiais.

 

De lá para cá, muitas mudanças aconteceram na configuração da distribuição das reservas energéticas no mundo. Também segundo a BP, a América do Sul e Central passou a ser a segunda principal região do mundo, acumulando 18,8% das reservas. A região sul e centro americano ficou atrás somente do Oriente Médio, que manteve sua posição de liderança com 48,3% dos estoques de petróleo mundial.

 

A ascensão do continente sul-americano na geopolítica energética mundial se relacionou às gigantescas descobertas de petróleo na Venezuela. Os campos descobertos no cinturão do rio Orinoco transformaram o país no maior detentor de petróleo do mundo, passando a ter reservas de 300,3 bilhões de barris no final de 2018 (17,5% do petróleo mundial). O Brasil também aumentou suas riquezas petrolíferas devido, entre outras descobertas, à do pré-sal, saltando para décimo quinto lugar no ranking mundial com reservas estimadas em 13 bilhões de barris. Esses números podem ser ainda maiores, pois, segundo estimativas de alguns centros de pesquisas, poderia haver até 176 bilhões de barris em todo o polígono do pré-sal brasileiro.

 

As descobertas petrolíferas da América do Sul aumentaram a relevância estratégica do continente no mundo do petróleo, tornando-se uma potencial fornecedor global de longo prazo para as grandes potências. Em um período de acirramento das disputas interestatais, as grandes potências, cuja matriz energética é intensiva em petróleo, preocupam-se cada vez mais com sua segurança energética. Por isso, como diz o professor da UFRJ e pesquisador do Ineep, José Luis Fiori, “o continente americano está se transformando no novo grande foco da geopolítica energética mundial”.

 

Dessa forma, qualquer análise sobre as mudanças regulatórias, institucionais e estratégicas do setor de petróleo e gás natural da América do Sul não pode ignorar essa dimensão geopolítica. O crescente interesse de países como China e Estados Unidos no petróleo sul americano se transforma, na prática, em mecanismos de pressões e barganhas para que os regimes de exploração, articulação industrial e fornecimento de petróleo favoreçam suas empresas e, em última instância, seus Estados Nacionais.

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