O potencial energético de Sergipe e a Petrobras

Mahatma dos Santos, Ticiana Alvares
Jornal da Cidade
Imagem da plataforma no litoral de Sergipe. Ao fundo, o mar, o céu claro com algumas nuvens e, à direita, um helicóptero. Foto: ASN.

O setor energético é um importante vetor para o futuro industrial e econômico de Sergipe, tanto pelo potencial de diversificação da matriz energética local, quanto pela necessária recuperação de dinâmicas econômicas tradicionais no estado.

 

Imagem da plataforma no litoral de Sergipe. Ao fundo, o mar, o céu claro com algumas nuvens e, à direita, um helicóptero. Foto: ASN.

Retomada dos investimentos da Petrobras no setor de óleo e gás em Sergipe pode potencializar a dinâmica industrial e econômica do estado. (Foto: ASN.)

 

A Petrobras e o setor de óleo e gás (O&G) foram centrais no desenvolvimento da indústria sergipana. Ao menos desde os anos 1960, a estatal liderou os investimentos na exploração e produção de petróleo no estado, contribuindo decisivamente para o fortalecimento da economia local, geração de emprego e renda, e expansão das receitas e investimentos públicos no estado.

 

Declínio da produção e dos investimentos da Petrobras em Sergipe

Entretanto, mudanças na estratégia da empresa impactaram negativamente o desenvolvimento do segmento de óleo e gás e de fertilizantes em Sergipe. Esse cenário foi agravado pela recessão econômica e pela pandemia.

 

A análise técnica revela que, desde 2014, há um contínuo declínio da produção e dos investimentos da Petrobras na região, que, associados aos desinvestimentos realizados a partir de 2018, estão alterando o panorama socioeconômico do estado. Recuperar esse segmento econômico é vital para o estado de Sergipe.

 

A produção de petróleo declinou, em média, 23,3% ao ano de 2014 a 2022, enquanto a produção de gás natural teve uma redução ainda mais expressiva, com uma taxa anual de cerca de 41%. A queda acentuada na produção é atribuída a quatro principais fatores:

 

  1. o amadurecimento da bacia, que afeta diretamente a produtividade dos poços; 
  2. a redução sistemática dos investimentos da Petrobras no setor de exploração e produção (E&P) no estado, inviabilizando projetos de revitalização e perfuração; 
  3. a privatização de 37 ativos de upstream da Petrobras na Bacia de Sergipe, razão pela qual a empresa não opera mais nenhum campo de produção de petróleo em terra no estado; e, por fim, 
  4. a hibernação da FAFEN-SE em 2018.

 

Petrobras pode ir além em Sergipe

Os impactos na economia sergipana são substanciais, tanto em redução de empregos, quanto na queda brusca na arrecadação do estado. Tal situação vem mobilizando atores políticos e sociais de Sergipe, que reivindicam uma revitalização do setor no estado.

 

No início de 2023, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), ex-petroleiros e pesquisadores entregaram à atual gestão da Petrobras a “Carta de Sergipe”, documento que reforçou a importância da suspensão e reavaliação das privatizações e hibernação de ativos da Petrobras, incluindo o Polo de Carmópolis. Em janeiro de 2024, o Senador Rogério de Carvalho, em parceria com esses atores, deu voz à campanha “Volta, Petrobras”, em defesa do retorno da empresa a Sergipe.

 

A descoberta de 7 campos em águas profundas na bacia Sergipe-Alagoas reacendeu as expectativas de reversão desse cenário. O Projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP), liderado pela Petrobras, já registra o recorde de profundidade alcançado pela companhia, apresenta resiliência econômica e ambiental, e tem potencial para superar uma produção diária de cerca de 120 mil barris de petróleo e 18 mil m³ de gás.

 

Além das expressivas reservas de óleo leve, estimadas em até 1,2 bilhão de barris equivalentes de petróleo (boe), a bacia tem um potencial significativo para produção e escoamento de gás natural, com a previsão de construção de novo gasoduto pela Petrobras até 2028.

 

» Leia também outros artigos sobre Estratégias nacionais e empresariaisClique aqui.

 

Dessa forma, o Projeto SEAP deve contribuir para a viabilização de duas importantes metas do Plano Estratégico da Petrobras: ampliar suas reservas, concentrando investimentos em ativos de alto potencial de produção e valor agregado; e aumentar a disponibilidade do gás no mercado nacional. Com isso, espera-se diminuir a dependência do Brasil da importação de gás e proporcionar avanços em direção à transição energética.

 

Contudo, a Petrobras pode ir além em Sergipe: retomar o protagonismo na produção de fertilizantes e a participação na exploração e produção em campos terrestres podem potencializar a dinâmica industrial e econômica do estado. Além disso, a empresa deve impulsionar investimentos em novas rotas tecnológicas, como os segmentos eólico e solar na região.

 

O futuro da produção de petróleo e gás natural em Sergipe se apresenta bastante promissor. A ANP estima que o setor de E&P possibilitará que Sergipe se beneficie anualmente com R$7,6 bilhões em receitas provenientes de royalties, solidificando assim a relevância econômica e estratégica deste setor para o estado.

 

No entanto, essas potencialidades só ganharão materialidade através da mobilização dos múltiplos atores e qualificação dos instrumentos regulatórios e institucionais, como, por exemplo, o Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial – PSDI.

 


 

Artigo publicado originalmente no Jornal da Cidade.

Comentar