O GNL em pequena escala como uma oportunidade para o mercado de gás natural

Rodrigo Leão
Broadcast
O GNL em pequena escala como uma oportunidade para o mercado de gás natural

A pior estiagem que assolou o Brasil nos últimos 91 anos colocou em xeque o fornecimento de energia elétrica do Brasil, principalmente de maio a outubro deste ano. Para não interromper a geração de energia elétrica, as termelétricas foram despachadas contando com a oferta de gás natural existente tanto no País como no exterior, oriundas do Gasbol e do gás natural liquefeito (GNL) importado.

 

Com a maior disponibilidade de gás natural no mercado interno, além do maior uso de termelétricas, novos negócios têm sido criados para utilizar o produto, como é o caso do GNL em pequena escala. Esse novo mercado permite a distribuição de pequenos volumes de GNL por caminhões, com tanques criogênicos ou cabotagem, para atender consumidores domésticos ou empresariais.

 

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A expansão desse novo mercado se apoia no crescimento das importações de GNL que elevou significativamente sua participação na oferta interna de gás natural no ano passado. Ao longo de 2021, a oferta nacional de gás natural oscilou de 57,2 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia) para 52,3 milhões de m³/dia. No mesmo período, as importações do Gasbol ficaram estáveis num patamar de 20,4 milhões de m³/dia. Dessa forma, o uso do gás brasileiro e boliviano diminuiu quase 5 milhões de m³/dia. Todavia, as importações de GNL garantiram uma expansão da oferta de gás para atender a crescente demanda das termelétricas brasileiras.

O GNL em pequena escala como uma oportunidade para o mercado de gás natural

Esferas de armazenamento de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) da Refinaria Duque de Caxias. Foto: André Motta Souza / Agência Petrobras.

Entre janeiro e outubro de 2021, a aquisição de GNL cresceu 81,7%, saindo de 20,8 milhões de m³/dia para 37,7 milhões de m³/dia. Essas importações foram realizadas pelos três terminais de GNL da Petrobras (Pecém, Baía de Guanabara e Bahia) e mais dois da iniciativa privada que iniciaram suas operações no último biênio (Celse e GNA). Esses dois terminais, em outubro de 2021, foram responsáveis por importar 6,96 milhões de m3/dia, o que corresponde a 18,5% de todo o GNL adquirido do exterior.

 

Além das importações de GNL por terminais, o Brasil também retomou a compra de gás da Argentina para complementar a oferta da commodity no País. Em setembro, “os argentinos anunciaram uma licitação para a compra de GNL em busca de quatro carregamentos para o terminal Escobar, que foram regaseificados e entregues por gasoduto ao Brasil” para abastecer a usina de Uruguaiana, que estava inoperante desde 2009, relatou uma matéria da Bloomberg.

 

Esse quadro mostra que o Brasil conseguiu expandir a diversificação da oferta de gás natural. No curto prazo, esse processo de diversificação está direcionado no aumento do GNL importado. Além dos atuais cinco terminais existentes, mais nove estão em desenvolvimento. Quando começarem a operar, os novos terminais devem adicionar uma capacidade de 141,5 milhões de m³/dia, de acordo com estimativas da EPE e do Ineep. Isso representa quase quatro vezes das importações de GNL realizadas em outubro de 2021.

 

Um dos principais players responsáveis pela expansão é a New Fortress Energy (NFE) que, recentemente, comprou a operação da Golar Power. No primeiro trimestre de 2022, a empresa pretende iniciar a operação de três terminais nos estados do Pará, Pernambuco e Santa Catarina.

 

Em Barcarena, no Pará, o negócio inclui acordo para fornecimento de gás natural para fábrica de alumínio Alunorte, da Norsk Hydro. O terminal de Santa Catarina será flutuante e o negócio é pensado para atender clientes industriais, distribuidoras e a demanda termelétrica na região Sul, que é atendida pelo Gasbol, da TBG. Já em Pernambuco, a empresa aposta no uso do terminal para transportar GNL por caminhão em iso-contêineres do litoral até Petrolina, onde será distribuído pela empresa de gás local Copergás.

 

Além de Pernambuco, a empresa visa outro negócio de GNL em pequena escala utilizando o gás argentino. A NFE pretende importar até 100 mil m3/dia para uma base logística a ser construída no Rio Grande do Sul, a fim de abastecer consumidores industriais, por meio de caminhões, dos estados da região Sul e de São Paulo.

 

A aposta neste novo segmento está associada a um negócio que deve crescer no Brasil nos próximos anos. “A perspectiva é que mais projetos de pequena escala se desenvolvam impulsionados pelo aumento da competitividade do GNL e conforme se intensifiquem as ações para transição energética. A distribuição de GNL em pequena escala é especialmente relevante em países com grande extensão territorial e relevante demanda de energéticos, mas que não é possível viabilizar a construção massiva de rede de gasodutos”, constata a editora da publicação Ensaio Energético, Yanna Prade.

 

De acordo com a especialista, além da New Fortress Energy, a GasLocal, uma joint-venture criada entre a Petrobras e a White Martins, já está estabelecida nesse mercado há alguns anos. Desde 2006, a empresa fornece GNL em pequena escala para várias indústrias, como papel e celulose, automotiva, têxtil e química e farmacêutica que estão num raio de 1 mil quilômetros da sua base em Paulínia.

 

“O GNL em pequena escala também tem potencial na bacia amazônica, que atualmente depende fortemente do diesel de alto custo tanto para combustível de transporte quanto para geração de energia. A empresa de energia local Eneva vê até 8,8 milhões de m3/dia de demanda potencial no Norte do Brasil”, segundo reportagem de Miqueia Santos, da publicação “O Petróleo”. A Eneva está concluindo um projeto reserve-to-wire no campo de Azulão, no estado do Amazonas, onde o gás vai ser liquefeito e transportado por caminhão até uma usina termelétrica de Roraima que é o único estado não conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

 

O negócio de GNL em pequena escala é mais um exemplo de uma nova oportunidade para o uso do gás natural brasileiro. Embora ainda seja uma indústria nascente, esse mercado tem um grande potencial de crescimento, em especial pela inexistente interiorização do uso do gás natural, bem como pela sazonalidade da produção de energia hidrelétrica. Há imensos desafios a serem cumpridos, como a efetivação dos investimentos privados em andamento, a evolução do preço do gás natural, a adequação de infraestrutura de regaseificação nos mercados consumidores entre outros. Por isso, uma visão resiliente e de longo prazo será fundamental para a consolidação desse novo segmento.

 


 

 

Artigo publicado originalmente no Broadcast.

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