O gás natural como alternativa para descarbonização do setor petroquímico

Erick Sobral Diniz
Revista Digital Oil & Gas
Dutos da unidade de processamento de gás natural no polo industrial de Guamaré/RN (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras.)

A descarbonização de setores industriais é central para o alcance de uma economia de baixo carbono. Contudo, esse processo pode se mostrar excessivamente oneroso, como é o caso do setor petroquímico, tendo em vista a natureza de seus processos produtivos, que demandam grandes quantidades de energia e utilizam matérias-primas derivadas do petróleo e do gás natural.

 

Nesse segmento, o gás natural se mostra como uma rota interessante para a descarbonização, contudo, há um caminho a percorrer até a efetiva competitividade de seus preços.

 

Dutos da unidade de processamento de gás natural no polo industrial de Guamaré/RN (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras.)

Dutos da unidade de processamento de gás natural no polo industrial de Guamaré/RN. (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras.)

 

O setor petroquímico tem um grande potencial para instrumentalizar os recursos naturais em favor de uma economia de baixo carbono. Ele pode servir como uma ponte entre a exploração desses recursos e a construção de uma cadeia de suprimentos descarbonizada.

 

Para isso, é essencial observar não apenas aspectos relacionados às emissões de CO2, mas também à redução de resíduos, à adaptação climática e à preservação dos ativos ambientais.

 

Quanto às matérias-primas, essa indústria é dependente do setor de energia em relação à nafta, líquidos de gás natural, carvão e fontes renováveis. Esses insumos passam por um processo de craqueamento, a partir do qual são produzidos petroquímicos básicos – de 1ª geração (a exemplo do eteno, propeno e aromáticos) e de 2ª geração (como polietileno e polipropileno). Eles podem ser utilizados para produzir commodities, fibras e borrachas, e podem também ser polimerizados com o intuito de produzir resinas termoplásticas.

 

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Em 2016, a nafta foi o insumo responsável por 92% da produção petroquímica no Brasil, tendo como principal consumidora a Braskem. Sua produção foi concentrada em algumas refinarias da Petrobras e foi insuficiente para atender o mercado interno, o que propiciou, à época, a importação como alternativa de fornecimento.

 

Conforme dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), a produção de nafta diminuiu entre 2009 e 2018 devido à preferência do mercado pela gasolina, uma vez que o processo de refino permite produzir tanto nafta quanto gasolina a partir da mesma carga de petróleo, direcionando a produção para a demanda mais alta.

 

De acordo com a revisão de 2020 da Resolução ANP nº 16/2008, entre 2007 e 2017, as condições de comercialização favoreceram a gasolina em relação à nafta, levando as refinarias a priorizarem a produção e a venda de gasolina em detrimento da oferta de nafta.

 

Uma estratégia de descarbonização no setor petroquímico é a utilização do gás natural pelo craqueamento de etano nas unidades de processamento, em substituição da nafta.

 

Essa operação é mais simples, menos intensiva em capital e menos agressiva ao meio ambiente, o que tem fomentado a adoção do etano nas centrais petroquímicas ao redor do mundo. Contudo, o Brasil ainda não seguiu essa tendência, conforme aponta o relatório citado.

 

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no Panorama do Refino e da Petroquímica no Brasil (2018), o ganho de competitividade do gás natural nos EUA permitiu que o país alcançasse 73% de participação desse insumo no abastecimento de seu mercado petroquímico.

 

 No Brasil, apesar da produção expressiva do pré-sal, a indústria petroquímica nacional é baseada majoritariamente na nafta, tal como ocorre na União Europeia e no Japão.

 

Como alternativa para substituir a nafta, o gás natural pode contribuir para a descarbonização do setor petroquímico brasileiro; no entanto, sua baixa competitividade de preços ainda representa um obstáculo para essa transição.

 

O desenvolvimento sustentável e competitivo do setor requer uma abordagem integrada que incorpore o gás natural nas políticas públicas, não apenas para fins energéticos, mas também como matéria-prima, aproveitando as frações pesadas da produção offshore, a exemplo do etano.

 

Nesse sentido, o Decreto 12.153/2024 – que altera a regulamentação da Nova Lei do Gás – trouxe preocupações consumeristas quanto à oferta e aos preços de gás natural, além de destacar a necessidade de planejamento setorial por meio da elaboração do plano integrado para as infraestruturas.

 

Essas estratégias regulatórias reforçam a atuação da ANP e da EPE para ordenação do setor e o uso do gás natural como rota de descarbonização na indústria.

 

 

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A descarbonização industrial, assim como a transição energética, deve ser acompanhada de discussões não apenas ambientais e climáticas, mas também sobre segurança energética, emprego, justiça e equidade social.

 

As metas de mitigação de emissões precisam considerar também a realidade econômica dos setores industriais, como importações, oferta interna de energia e competitividade de preços, além das particularidades regionais e locais e dos impactos sobre o emprego e a renda.

 


 

Artigo publicado originalmente na Revista Digital Oil & Gas.