O fechamento do Edisp é mais um indicador da atual estratégia do refino da Petrobras

O fechamento do Edisp é mais um indicador da atual estratégia do refino da Petrobras

Foto: Sindipetro-SP.

 

A Petrobras informou que deverá desocupar, até junho, a sede administrativa da empresa em São Paulo, a Edisp. Segundo a estatal, o objetivo é a redução de custos administrativos. A medida, no entanto, segue coordenada com o planejamento da atual gestão de retirar a participação da empresa no setor de refino. O INEEP aponta os principais riscos e ameaças dessa nova estratégia da companhia.

 

Em consonância com a estratégia global da companhia de reduzir a presença em alguns setores e focar na geração de valor para os acionistas, a desocupação do escritório em São Paulo é emblemática, especialmente porque nele se concentram a prestação de serviços das unidades operacionais do refino do Sul e Sudeste.

 

A venda das refinarias da Petrobras tem sido tema frequente desde a posse do atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco. Utilizando-se do argumento que o foco da empresa deve ser nos ativos em que é a “dona natural” – aqueles em que é “capaz de extrair o máximo de retorno possível” – o presidente da Petrobras acredita que “a competência principal da companhia é na exploração e produção de petróleo em águas profundas”. Essa contrastaria, segundo a sua visão, de outros ativos da companhia, como a exploração nos campos maduros, e outros setores como o midstream (atividades de logística) e o downstream (atividades de refino e petroquímica).

 

Tal estratégia, contudo, não é necessariamente uma novidade. Sob a gestão de Pedro Parente, a Petrobras já havia tomado posturas semelhantes ao lançar no Plano de Negócios e Gestão 2018-2022 o projeto de vender 60% da participação acionária das refinarias Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, e Alberto Pasqualini (REFAP), no Rio Grande do Sul, e Presidente Getúlio Vargas (REPAR), no Paraná.

 

Interrompida temporiamente após liminar do Supremo, a Petrobras decidiu retomar o processo de venda no início de janeiro. Embora não esteja claro ainda se o modelo será o mesmo da gestão anterior, Castello Branco já deu sinais pela imprensa que acha “tímida” a proposta de venda de ativos apresentada no PNG 2018-2022, e prevê uma participação da Petrobras abaixo dos 50% no mercado brasileiro de refino. Isso significa que outras refinarias podem entrar na venda de ativos, como a Refinaria de Paulínia (Replan), a Refinaria de Capuava (Recap) entre outras.

 

A visão do INEEP

Em nome de uma suposta política de redução de endividamento voltada a uma otimização de portfólio que lhe traga o melhor retorno, a Petrobras mais uma vez assume uma visão míope seja do ponto de vista financeiro como estratégico.

 

Na perspectiva financeira, os setores de Refino, Transporte e Comercialização (RTC) tiveram lucro de R$ 8,3 bilhões em 2018, o que está em linha com as principais margens de refino mundiais. Esse resultado foi alcançado a despeito da empresa manter o uso do seu parque de refino relativamente subutilizado (76% em 2018 contra mais de 90% até 2014) e reduzir a sua participação nas vendas realizadas no mercado interno de 95% em 2017 para 88% em 2018. Ou seja, mesmo que com a Petrobras adotando uma política em que o RTC não é mais prioridade, os resultados alcançados ainda têm um papel importante para contribuir com o lucro da companhia. Somente, em 2018, o RTC foi responsável por 33% do lucro da Petrobras.

 

Como afirmou Marcelo Gauto: “Considerando que as referidas refinarias têm mercado cativo e apresentam bons resultados operacionais e financeiros, é um equívoco por parte da Petrobras se desfazer de qualquer percentual delas. A empresa perderá receita e a venda não é justificável financeiramente para a petroleira”.

 

Uma medida igualmente equivocada do ponto de vista estratégico, uma vez que entre as petrolíferas internacionais o sistema integrado é muito útil para controlar as margens de custo e contrabalançar perdas intrasetoriais num mercado cuja volatilidade nos preços é tão alta como o petróleo.

 

Camuflada por argumentos metafísicos que tornam a Petrobras “dona natural” de ativos como exploração e produção – o que supostamente serve de pretexto para a saída de outros setores integrados – a atual gestão está não apenas reduzindo o tamanho da Petrobras no mercado de combustíveis como também está correndo o risco de diminuir o tamanho da própria economia brasileira como um todo, tendo em vista que lucro das atividades da Petrobras e suas subsidiárias costumam ficar no país e são reinvestidos majoritariamente no mercado interno.