No Instituto Lula, Nozaki analisa capitalismo, corrupção e Lava Jato
“Capitalismo e Corrupção – Petrobras e operação Lava Jato”, título de um dos capítulos do livro “Lava Jato: crime, devastação econômica e perseguição popular”, foi o tema de palestra do coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) William Nozaki, na terça-feira (29/06), em evento do Instituto Lula. Com fatos, exemplos e números, ele mostrou o quanto a operação foi prejudicial à economia do país, sobretudo à Petrobras, mas revelou acreditar que, há possibilidade, no momento, de se abrir um diálogo com a sociedade para recontar a história do que aconteceu no Brasil, após o golpe de 2016.
Cientista político, Nozaki considera necessário que se construa um caminho adequado de enfrentamento à corrupção para que se atravesse o período de obscurantismo e negacionismo em que vive o país. Entende, porém que “o enfrentamento correto da corrupção no Brasil não passa nem pela construção de mitos eleitorais nem de heróis do judiciário”. Para ele, foi isso que trouxe o Brasil para o pior capítulo da Nova República ou mesmo da República.
Nozaki foi o quinto palestrante do ciclo de debates que está sendo realizado pelo Instituto Lula para a apresentação do livro, editado pela Expressão Popular e lançado em junho último. As palestras, nove no total, tratam de cada um dos capítulos e se encerrarão no dia 27 de julho. A abertura destes encontros foi feita pelo também pesquisador do Ineep José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras.
O capítulo escrito por Nozaki para o livro dividiu-se em cinco blocos, assim como foi o roteiro de sua palestra: Petrocorrupção: a relação entre Estado e grandes empresas petrolíferas; Capitalismo e corrupção: o debate crítico em perspectiva internacional; Capitalismo e corrupção: o debate tradicional na perspectiva brasileira; Impactos econômicos da Operação Lava Jato na economia; e Impactos econômicos da Operação Lava Jato na Petrobras.
Nestes cinco blocos, ele destaca o papel geopolítico, estratégico e de segurança da indústria do petróleo no mundo e como ela tem lidado com a corrupção; mostra a importância assumida neste cenário pelo Brasil e pela Petrobras, após as descobertas de petróleo no pré-sal; e aponta fatos externos que levaram à construção do discurso que acabou por resultar na Lava Jato, suas distorções e seus efeitos sobre a economia nacional.
“A Lava Jato desmontou a indústria de óleo e gás, a indústria naval, a construção civil, a engenharia pesada e afrontou uma série de setores e empresas estratégicas para o desenvolvimento nacional. Arrebentou o capital privado brasileiro, criminalizou o capital púbico e tornou o país refém e muito mais vulnerável aos interesses do capital rentista, do ponto de vista econômico, e aos interesses neoconservadores e protofascitas, do ponto de vista político” […] “o problema da corrupção é sério, precisa ser enfrentado, mas também ser lido com sua devida complexidade.
Exemplos e números
A partir de números levantados pela OCDE e pelo cientista político da Universidade da Califórnia Paasha Mahdavi sobre casos de corrupção na indústria do petróleo, Nozaki mostra que este é um segmento que trabalha com um grande volume de recursos, projetos de maturação de longo prazo, contratos com valores mais significativos do que em outros setores, sendo, portanto, permeável à corrupção. “Não se trata de um problema brasileiro, se trata de um problema internacional”, diz ele.
De acordo com a pesquisa da OCDE (2014) apresentada por Nozaki, 19% dos casos de corrupção no mundo acontecem na indústrias de extração e mineração; 15% na construção civil; e outros 15% na elétrica e gás, ou seja, setores ligados à indústria do petróleo e gás e que trabalham com percentual significativo de recursos e contratos.
Já o estudo realizado por Mahdavi revelou que, do final da década de 1970 até 2013, os principais casos de contenciosos jurídicos provocados por casos de corrupção em grandes empresas tiveram destaque no setor de óleo e gás: foram 41, de 141 casos mapeados, ou seja, quase um terço do total.
Segundo Nozaki, a petrocorrupção é um problema que marca o conjunto da indústria do petróleo, que se insere num processo de disputa geopolítica mais ampla, sobretudo em período mais recente, no qual indústria de petróleo passou a ser objeto de atenção, ainda maior, das forças de defesa de segurança de diversos países e dos Estados Unidos, em particular.
“Os países não olham o petróleo como se fosse apenas uma questão energética, mas estratégica, e que deve mobilizar instrumentos de segurança e defesa nacional”, comentou ele, lembrando que, nos últimos anos, o Brasil passou a ocupar papel fundamental como player na indústria do petróleo, sobretudo, após a descoberta do pré-sal, a partir de 2006.
Assista a aula na íntegra
Comunicação Ineep
Comentar
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.