Múltiplas crises do país impõem debate sobre transição justa
O Brasil está às vésperas de uma crise hidroenergética que precisa ser observada com muita atenção: verifica-se o menor volume de chuvas nos últimos 90 anos, os reservatórios estão operando com 33% da capacidade de armazenamento, e não há perspectivas de preenchimento. Tudo isto coloca em xeque um modelo de desenvolvimento baseado na expansão predatória do agronegócio e da desindustrialização. E a única maneira de enfrentar as múltiplas crises vividas pelo país é com o aprofundando da reflexão e da articulação do conjunto de forças que giram em torno da transição justa.
O alerta foi feito, hoje (28/05), pelo coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) William Nozaki durante o seminário virtual “Diálogos sobre a transição justa”, realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) para debater as bases sociais para a transição justa no Rio Grande do Norte. Durante o evento, ele falou de estudo realizado pelo Instituto para a entidade, com o objetivo de contribuir para a transição econômica e social do estado, que tem como principal característica a redução das atividades na indústria de óleo e gás natural.
Articulação
De acordo com o estudo do Ineep, o envolvimento crescente do governo do Rio Grande do Norte e das lideranças empresariais locais no processo de expansão da geração de energia elétrica a partir do sol e do vento é um passo significativo para a geração de mais e melhores postos de trabalho no estado e para o fortalecimento da representação sindical. No entanto, como destacou Nozaki, embora haja oportunidades para as energias renováveis, elas não ocorrem com velocidade suficiente para suprir a saída da indústria do petróleo.
O segmento de energia, informa o estudo, tem posição de destaque na economia do Rio Grande do Norte, e as transformações em curso têm provocado fortes impactos não só na economia, mas na sociedade potiguar como um todo. De um lado, verificam-se os resultados da contração, nos últimos 30 anos, da atividade de óleo em gás, que, no entanto, se mantém importante, apesar dos desinvestimentos da Petrobras. E de outro, há os reflexos positivos da expansão da energia solar e eólica. O crescimento destes segmentos deverá mais que dobrar a capacidade de geração de eletricidade a partir do vento e do sol nos próximos três ou quatro anos.
O estudo informa ainda que a recuperação dos postos de trabalho fechados, assim como a manutenção da qualidade do emprego são importantes desafios para o movimento sindical petroleiro. No entanto, conforme acrescenta, a capacidade de intervenção dos trabalhadores nesse processo nas atividades de geração eólica e solar tem se mostrado muito limitada. Para tanto, contribuem não só o fato de o número de trabalhadores ser reduzido nas unidades produtivas, mas também por conta da dificuldade de acesso a estes, principalmente em função da localização distante das plantas.
Segundo o trabalho do Ineep, há dois fenômenos que têm pesado nas mudanças do setor energético e com reflexos significativos na estrutura do mercado em escala global: a digitalização e a transição energética. Diz ainda:
“A motivação ambiental e os avanços tecnológicos são vetores importantes, mas a convergência de políticas governamentais e dos interesses de múltiplos agentes para o desenvolvimento de condições econômicas e sociais, que viabilizem esse processo, são essenciais.”
Assista webnário na íntegra
Comunicação Ineep
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