Majors se posicionam no setor de gás natural brasileiro

Majors se posicionam no setor de gás natural brasileiro
Majors se posicionam no setor de gás natural brasileiro

Planta de gás natural. Foto: Divulgação.

No final de julho, o Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) manifestou, em nota, seu apoio à aprovação do requerimento de urgência na tramitação do PL 6.407/2013 — conhecido como Lei do Gás — pela Câmara dos Deputados. A expectativa é que a proposta, que dispõe sobre medidas para fomentar a indústria, seja votada em plenário ainda em agosto.

 

 

O instituto representa as grandes petroleiras que atuam no país, incluindo a Petrobras, que é peça central no processo de abertura do mercado de gás natural que a Lei do Gás almeja impulsionar. Para o IBP e outras entidades de classe, como a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) — em linha com a visão do atual governo federal –, o desenvolvimento do setor depende da redução da participação da estatal para que novos agentes o dinamizem, ampliando a concorrência e, assim, baixando os preços do energético.

 

 

Foi com esse intuito que, em 2019, a Petrobras assinou, com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), termo de compromisso de cessação de prática (TCC) para sair das atividades de transporte e distribuição de gás.

 

 

No momento, a petroleira vende suas participações remanescentes na Nova Transportadora do Sudeste (NTS) e Transportadora Associada de Gás (TAG), que operam a maior parte da malha de gasodutos do Brasil, e de suas ações na Gaspetro (holding com participações em diversas distribuidoras do país) e Liquigás (distribuidora de GLP), enquanto planeja desinvestimento na Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG). Além disso, promove licitação para arrendar o Terminal de Regaseificação de GNL da Bahia (TR-BA).

 

 

O IBP também representa gigantes internacionais que estão se posicionando no mercado de gás natural brasileiro, enquanto a Petrobras volta suas atenções ao petróleo do pré-sal. Entre os destaques estão BP Energy, Shell, Total, ExxonMobil e Equinor.

 

 

A primeira delas é parte da joint venture Gás Natural Açu (GNA), com a Prumo Logística e a Siemens, que está construindo um complexo de usinas termelétricas (UTEs) no Porto do Açu (RJ). As plantas poderão ser abastecidas por GNL importado ou por gás produzido na costa brasileira.

 

 

A petroleira também está no projeto da UTE Nossa Senhora de Fátima, que será construída em Macaé (RJ), em parceria com a brasileira Eneva.

 

 

Desde 2017, a BP adquiriu oito blocos exploratórios nas bacias de Campos e Santos. Ou seja, além do insumo produzido no exterior e transportado ao Brasil por navios de sua frota, a britânica poderá fornecer às usinas a partir de campos no país, caso as atividades exploratórias locais resultem em descobertas comerciais. Nesse último caso, porém, terá de construir infraestrutura de escoamento e processamento de gás ou obter acesso à existente, que pertence à Petrobras.

 

 

Já sua compatriota Shell é parte do consórcio Pátria Investimentos, com a Mitsubishi Hitachi Power Systems Americas, responsável pela construção da UTE a gás Marlim Azul, em Macaé (RJ), e tem um termo de compromisso firmado com a Hidrovias do Brasil para fornecer GNL à UTE Vila do Conde, que será instalada em Barcarena, no Pará.

 

 

Além de operadora dos campos do Parque das Conchas e Bijupirá e Salema, na Bacia de Campos, a Shell é parceira da Petrobras em Lula e Sapinhoá, em Santos, escoando sua produção de gás pelo gasoduto Rota 1, que liga o pré-sal a Cabiúnas, em Macaé.

 

 

Nos últimos três anos, a petroleira arrematou 11 blocos nas bacias de Campos, Santos e Potiguar. Além disso, compõe o Consórcio de Libra, operado pela Petrobras, responsável pelo desenvolvimento dos campos de Mero.

 

 

Em 2019, a Total firmou termo de compromisso com a Comercializadora de Gás S.A., controlada da Cosan, para suprir a UTE Imetame I, que será construída em Aracruz (ES). Pela subsidiária Total Gás & Eletricidade, a francesa é acionista na Transportadora Sulbrasileira de Gás — companhia de capital fechado responsável pelo Gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre –, além de participar do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol).

 

 

No upstream, a petroleira é operadora do campo de Lapa, na Bacia de Santos, e sócia da Petrobras em Libra e no cluster de Iara, cujo primeiro óleo foi produzido em junho de 2020, no campo de Atapu. Desde 2017, arrematou um bloco em Campos e um em Santos.

 

 

Já a ExxonMobil é, por meio da Ocean (joint venture com a Qatar Petroleum), fornecedora do GNL que abastece a UTE Porto de Sergipe, em Barra dos Coqueiros (SE) — empreendimento da Centrais Elétricas de Sergipe (Celse) que começou a operar este ano.

 

 

A major vem se posicionando na região, com a aquisição de seis blocos exploratórios na Bacia de Sergipe-Alagoas, que tem grande potencial para produção de gás natural. Os ativos foram adquiridos nos leilões realizados pela ANP desde 2017, em parceria com a brasileira a Enauta e a também norte-americana Murphy Oil.

 

 

No mesmo período, a Exxon ainda arrematou 13 blocos em Campos (cinco deles como operadora) e cinco em Santos (três como operadora) — em alguns deles em parceria com a QPI, subsidiária da Qatar Petroleum.

 

 

Em junho de 2018, a Equinor concluiu a aquisição de parcela de 25% da Petrobras no campo de Roncador, na Bacia de Campos. O objetivo da norueguesa é estender a vida útil do projeto, o que deve passar pelo maior aproveitamento do gás natural: segundo dados mais recentes da ANP, Roncador foi o terceiro campo com maior volume de gás natural queimado no país em junho de 2020 (153 mil m³/d), atrás de Lula e Sapinhoá.

 

 

Pouco mais de um ano depois, a Equinor assinou com a Petrobras acordo para desenvolver projetos de geração termelétrica a gás e estudos de viabilidade sobre ativos de processamento de gás e escoamento de líquidos nas áreas do Terminal de Cabiúnas, em Macaé (Tecab) e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí (Comperj), onde há uma unidade de processamento de gás natural (UPGN) em construção.

 

 

Outro foco de atenção da Equinor no Brasil é o bloco BM-C-33, onde estão os prospectos de Seat, Gávea e a descoberta de gás e condensado de Pão de Açúcar. Recentemente, a companhia firmou parceria com a Repsol — sua sócia no empreendimento — para buscar oportunidades de comercialização da possível produção futura de gás do empreendimento¹.

 

 

Quanto à Petrobras, por ora, a grande iniciativa para ampliar seu aproveitamento de gás natural se restringe basicamente ao projeto da UPGN do Comperj, que será abastecida por gás do pré-sal escoado pelo gasoduto Rota 3, cuja construção está em fase final. No mais, a estatal tem reinjetado boa parte do insumo extraído em seus campos offshore para ampliar a recuperação de seus reservatórios.

 

 

Enquanto isso, a petroleira vende usinas termelétricas e blocos com grandes reservas de gás em Sergipe-Alagoas, além de importantes campos produtores do energético no país, como o de Merluza, na Bacia de Santos, de Manati, em Camamu-Almada, e do Polo Urucu, em Solimões. Entre os potenciais interessados no último desinvestimento estão a russa Rosneft, que tem ativos exploratórios na bacia, e a Eneva, que está replicando o modelo gas-to-wire de seu Complexo do Parnaíba no projeto de gás de Azulão, adquirido da Petrobras no Amazonas.

 


 

Fonte:

  1. EGUES, A. Equinor e Repsol firmam parceria. PetróleoHoje, 3 de ago. 2020. Disponível em <https://petroleohoje.editorabrasilenergia.com.br/equinor-e-repsol-firmam-parceria-por-gas-do-bm-c-33/>. Acesso em 12 de ago. 2020.

 

Análise produzida pelo Ineep.

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