IOCs europeias investem em fontes alternativas de energia no Brasil
A Equinor iniciou, em agosto, processo de licenciamento ambiental de dois parques eólicos offshore na costa dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. A iniciativa no Brasil segue orientação global da companhia norueguesa de diversificar sua atuação para além do setor petróleo — razão pela qual abandonou o nome Statoil em 2018.
Foi no final daquele ano que a Equinor inaugurou, no Ceará, a usina de energia solar Apodi, em parceria com sua compatriota Scatec Solar.
“Isso mostra que estamos bem adiantados em nossa jornada para nos tornarmos uma empresa de energia integrada”, declarou, na ocasião, Pål Eitrheim, vice-presidente executivo de Novas soluções Energéticas da empresa.
Outras grandes petrolíferas europeias têm investido em fontes alternativas de energia no Brasil. Entre os casos mais conhecidos está o da anglo-holandesa Shell, que, em 2011, formou, com a brasileira Cosan, a joint venture Raízen, hoje a maior produtora de etanol de cana de açúcar do país.
Já a britânica BP Energy atua no país por três joint-ventures: a BP Bunge Bioenergia, focada em biocombustíveis e bioenergia; a Lightsource BP, que financia a implantação de usinas solares; e a Opla, que opera terminais de armazenamento e distribuição de etanol.
A francesa Total, por sua vez, opera na distribuição de etanol no Brasil desde 2018, quando adquiriu as operações do Grupo Zema, e desenvolve projetos eólicos e solares pela Total Eren. A subsidiária tinha planos de formar uma joint venture com a Petrobras para desenvolver projetos eólicos e solares no país, mas a iniciativa não foi adiante.
Outra europeia que está investindo na área de fontes de energia alternativas no país é a portuguesa Galp, que, no final de 2019, se tornou acionista integral da produtora de óleo vegetal Belém Bioenergia Brasil, após adquirir os 50% restantes da Petrobras Biocombustíveis (PBio) na empresa.
O movimento dessas companhias por aqui é um reflexo do que vêm fazendo em outras regiões do mundo. Entre as grandes petrolíferas internacionais, as europeias vêm se destacando na transição energética, adquirindo empresas e investindo em projetos na indústria de energia limpa. No entanto, a forma de inserção dessas empresas no segmento de renováveis varia consideravelmente, ou seja, os setores e as escolhas microeconômicas diferem entre as petrolíferas. Além disso, essa mudança ainda terá de contar, pelas próximas décadas, com a segurança das receitas oriundas das atividades de exploração e produção de óleo e gás, que seguirão competindo pelo capex disponível.
“Acredito que manteremos essa tensão saudável, em que diferentes tipos de vetores competem por capital, mas teremos uma visão clara para definir nossa alocação de capital à medida que nos preparamos para o sistema de energia do futuro”, assinalou o CEO da Shell, Ben Beurden, em conferência com investidores no final de julho.
A BP planeja se posicionar como um dos maiores players no setor nos próximos anos, desenvolvendo 50 GW de capacidade instalada de renováveis até 2030, enquanto amplia seus negócios em gás natural, GNL, biocombustíveis, hidrogênio e captura e armazenamento de carbono (CCS).
Em paralelo, a britânica venderá ativos de óleo e gás, reduzindo sua produção para cerca de 1,5 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boed) em seus campos e de 1,2 milhão de boed em suas refinarias nos próximos dez anos.
O petróleo e o gás serão, no entanto, fundamentais para a transformação da companhia, de acordo com a vice-presidente executiva de Estratégia e Sustentabilidade da BP, Giulia Chierchia:
“Os hidrocarbonetos provavelmente serão ainda a principal fonte de receitas e de crescimento e retorno em muitos anos. O que estamos dizendo é que, à medida que a BP se torna uma companhia de energia totalmente integrada, os hidrocarbonetos serão parte de um portfólio mais balanceado”, explicou a executiva a analistas de mercado no início de agosto.
Enquanto se posiciona no segmento de eólicas offshore — com a compra, em março deste ano, de 80% do projeto Erebus, na costa do País de Gales — e aposta na conversão de suas plantas de refino em biorrefinarias (caso de La Mede, na França), a Total não abre mão do crescimento no segmento de GNL:
“Não se faz a transição energética neste planeta saindo do carvão para o gás sem envolver o mercado de GNL”, afirmou o CEO da francesa, Patrick Pouyanne, no final de julho, durante conferência com investidores.
A companhia também possui usinas solares operação no Japão, África do Sul, Emirados Árabes Unidos e Chile e atua no desenvolvimento de baterias pela Saft, fabricante adquirida em 2016 por US$ 1 bilhão.
No último trimestre, a Equinor alcançou importantes marcos associados à transição energética, com as aprovações do projeto de desenvolvimento e operação da eólica offshore Hywind Tampen, da decisão de investimento na eletrificação parcial do campo de gás de Sleipner e do projeto de transporte e armazenamento de CO2 Northern Lights, na Noruega. Entre outras frentes de descarbonização em estudo pela companhia está o uso de hidrogênio para produção de energia:
“Acreditamos que a busca por diferentes oportunidades é uma forma de ampliar nosso entendimento e termos opções para descobrirmos onde queremos realmente apostar no futuro”, declarou o vice-presidente executivo e CFO da companhia, Lars Christian Bacher, durante conferência com analistas no final de julho.
De fato, a Equinor e outras petroleiras estão ainda buscando a melhor forma de inserção na indústria de renováveis, sendo natural que ocorram alterações de estratégias e revisão de modelos de negócios, conforme observou o pesquisador do Ineep, Rodrigo Leão, em texto publicado no último dia 13 de agosto.
O que fica cada vez mais claro é o distanciamento das International Oil Companies (IOCs) europeias ante as demais grandes petroleiras quando o assunto é transição energética, tendo em vista que as majors norte-americanas Chevron, ConocoPhillips e ExxonMobil não apresentaram ainda planos concretos de inserção competitiva no setor de fontes renováveis, ao passo que as National Oil Companies (NOCs) Rosneft, na Rússia, CNOOC e CNPC, na China, e as estatais dos principais países da Opep pouco ou nada flertam com a ideia. E, enquanto a Petrobras reduz sua participação e engaveta projetos na área, o Brasil — país com enorme potencial de desenvolvimento de energia eólica, solar e biocombustíveis — deve seguir como um dos laboratórios para a BP, Equinor, Shell e Total ampliarem sua experiência nos negócios de energia limpa.
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