Ineep no Estadão: Queda nos preços abre oportunidade para Petrobras recuperar mercado de derivados

Rodrigo Leão
O Estado de S.Paulo

Ouvido sobre o assunto, Rodrigo Leão disse ao Estadão que a indústria vai sofrer em todo o planeta, e isso não mudará mesmo que o preço suba aos US$ 30. Foto: Life Of Pix / Pexels.

O economista Rodrigo Leão, pesquisador do Ineep, foi ouvido pelo Estadão sobre o corte na produção de petróleo anunciado pela Petrobras. A estatal brasileira acenou com a diminuição de sua produção para reduzir prejuízos.

 

A guerra de preços entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia se arrasta desde fevereiro. Nos últimos dias, a commodity caiu ao patamar de US$ 20. Mesmo com uma recuperação no final da semana, a alta nos preços não foi suficiente para que o barril ultrapassasse a marca dos US$ 30. Tampouco foi suficiente para reverter a estratégia da Petrobras.

 

Ouvido sobre o assunto, Rodrigo Leão disse ao Estadão que a indústria vai sofrer em todo o planeta, e isso não mudará mesmo que o preço suba aos US$ 30. Essa pequena alta não deve alterar a estratégia de curto prazo da Petrobras, que escolheu diminuir a produção e congelar alguns poços. Segundo Leão, a petrolífera brasileira, teria alternativas para reduzir seus prejuízos. Entre elas, Leão destaca a retomada do refino, que tem sido deixado em segundo plano nos atuais planos da empresa. Com isso, a Petrobras importaria menos, e usaria sua produção para fabricar combustíveis e derivados para venda no mercado interno.

 

O uso das refinarias que possui, produzindo mais combustíveis e derivados para venda no mercado interno, que terá um papel muito relevante no curto prazo.

 

“A situação do Brasil [com o petróleo abaixo dos US$ 30] continua desconfortável. Uma alternativa vai ser vender petróleo cru no mercado interno, para as refinarias. O papel do mercado interno vai ser muito relevante no curto prazo”, afirma o coordenador Técnico do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep), Rodrigo Leão.”

 

 

O especialista explica:

Com a perspectiva de preços estruturalmente mais baixos – um benchmark entre as principais agências internacionais avalia que o preço médio do barril do petróleo tipo Brent em 2020 deve ficar em US$ 31 – a Petrobras deve se aproveitar dos custos de extração bastante favoráveis do pré-sal a fim de contornar essa situação.

 

O cenário de menor consumo de derivados abre uma oportunidade para a Petrobras recuperar seu market share sem elevar o fator de utilização das refinarias. No último trimestre de 2018, as importações foram responsáveis por 25,2% (590 mil barris por dia) de todas as vendas de derivados no mercado brasileiro que, naquele mês, totalizaram 2,1 milhões de barris equivalentes por dia. Neste momento, seria adequado que a Petrobras mantivesse seu volume de petróleo refinado ou fosse capaz de adequá-lo a um patamar que pudesse absorver a participação dos importadores nas vendas de derivados realizados no mercado interno.

 

“A Opep e os russos deram um recado para a América. Pressionados pelos dois países, Canadá e Brasil já anunciaram cortes na produção e a estimativa é de queda da produção americana já em 2020. Isso está abrindo um caminho para uma conversa entre russos, árabes e americanos para tentar jogar o preço mais para o alto”, disse Leão, acrescentando que uma possível sustentação da alta do petróleo, portanto, está diretamente ligada a cortes de produção no continente americano, incluindo o Brasil.

 

Em sua análise, considera também um outro lado, o da demanda. O coordenador do Ineep cita relatório da consultoria IHS Markit divulgado em seu site na última terça-feira. O texto destaca uma projeção de queda da demanda ainda no segundo trimestre de 16,4 milhões de barris por dia (bpd), o equivalente a mais de seis vezes a queda recorde de 2009.

 

Fontes: Baseado em reportagens publicadas no jornal O Estado de S.Paulo em 3 de abril de 2020 e na coluna Broadcast, do Estadão online.

 

Comunicação Ineep

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