INEEP analisa os resultados do balanço da Petrobras

Foto: Brasil Energia Petróleo.

 

Ontem (01/08) a Petrobras divulgou os resultados operacionais e financeiros do balanço do segundo trimestre de 2019. Segundo a companhia, o lucro líquido deste período foi de R$ 18,8 bilhões. O INEEP aponta os principais destaques deste resultado e comenta os seus efeitos no presente e futuro da companhia.

 

Destaques do Resultado do segundo trimestre de 2019 da Petrobras [1]:

  • O EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 32,7 bilhões, 19% maior que no 1T19, refletindo o aumento do Brent e câmbio, que resultaram em maiores preços do petróleo. O preço do Brent em reais saltou de câmbio se desvalorizou 11%, entre o 1T19 e o 2T19, de 277,82 para R$ 307,87.

 

  • A Companhia apresentou lucro líquido de R$ 18,9 bilhões, 4,6 vezes o lucro líquido do trimestre anterior, principalmente devido à conclusão da venda da TAG e de outros ativos. Desconsiderando-se os efeitos dos itens não recorrentes o lucro líquido da Companhia foi de R$ 5,2 bilhões;

 

  • Somente neste trimestre, a Petrobras conseguiu aumentar os seus desinvestimentos em US$ 12,7 bilhões a partir da venda de campos maduros, da refinaria de Pasadena, da TAG, da PO&G BV e do complexo de distribuição do Paraguai;

 

  • No 2T19, a dívida líquida continuou sua trajetória decrescente, fechando em US$ 83,7 bilhões, uma redução US$ 11,9 bilhões em relação ao 1T19. Todavia, em relação ao 2T18, a dívida líquida aumentou cerca de US$ 10,0 bilhões;

 

  • No 2T19, o índice dívida líquida/LTM EBITDA ajustado caiu para 2,52x em relação ao de 2,89x registrado no 1T19, aplicando os efeitos do IFRS 16 em todo período do LTM EBITDA ajustado de 2018;

 

  • Ou seja, a queda do índice dívida líquida/LTM EBITDA ajustado respondeu muito mais ao crescimento do EBITDA ajustado de 19% do que à redução da dívida;

 

  • O crescimento do índice EBITDA ajustado do E&P por barril equivalente de óleo (boe) vem melhorando de forma consistente devido, principalmente, à maior participação do pré-sal na nossa produção total, que possui: (i) maior margem, decorrente da melhor qualidade do óleo por ser um óleo mais leve em comparação aos demais óleos disponíveis no Brasil e, portanto, tem menor desconto em relação ao Brent; e (ii) menor lifting cost, tendo em vista a maior produtividade;

 

  • Com relação ao índice EBITDA ajustado do Refino em US$ por barril (bbl) o comportamento é inverso ao do E&P. Em 2016, com a queda do Brent, tivemos maiores margens e, portanto, melhor índice. Todavia, com a retomada do aumento do Brent houve novamente queda da margem;

 

  • No 2T19, os investimentos totalizaram US$ 2,6 bilhões, sendo que 76% correspondem a investimentos de capital e 24% a investimentos correntes. No segmento de Exploração e Produção, os investimentos totalizaram US$ 2,1 bilhões no 2T19, 6,9% acima do 1T19, e concentraram-se principalmente: (i) no desenvolvimento da produção de novos campos de petróleo no polo pré-sal da Bacia de Santos; (ii) na manutenção da produção nos campos maduros; e (iii) na melhoria da eficiência operacional das novas plataformas. No refino, os investimentos cresceram 33% no mesmo período, mas deve haver uma forte reversão desse processo quando iniciado o processo de venda das refinarias;

 

  • Apesar do aumento dos investimentos do 2T19 em relação ao 1T19, a Petrobras revisou seu plano de negócios reduzindo a previsão de US$ 16 bilhões para US$ 11 bilhões. Para alcançar essa queda, a Petrobras pretende postergar as atividades de perfuração, completação e coleta, bem como as de desmobilização, inspeção e reinterligação de gás. Outros fatores que explicam essa redução são a variação cambial e as equalizações de investimento;

 

  • Dessa forma, a entrada de novos projetos de produção não deve cumprir o seu cronograma inicial de operação. As plataformas de Mero 1 e 2, por exemplo, que irão operar a região de Libra leiloada em 2013, devem entrar em operação somente nos anos de 2021 e de 2023;

 

  • O Fluxo de Caixa das atividades operacionais e de investimento cresceram enormemente em 289% saindo de 13,2 bilhões no 1T19 para 51,5 bilhões no 2T19. Essa melhora se deveu basicamente às vendas de ativos, cujos recursos saltaram de US$ 1,1 bilhões para 34,5 bilhões. Desconsiderando a venda de ativos, o crescimento teria sido de pouco menos de 40% em função da melhora do câmbio, do Brent e da produtividade do pré-sal;

 

  • No 2T19, o lifting cost em dólares sem participação governamental no pré-sal se mantém no patamar de US$ 6 por boe de forma consistente ao longo dos trimestres. No comparativo entre trimestres de 2019 destacamos o ramp up de produção das plataformas do campo de Búzios, que contribuíram para a redução do indicador.

 

  • Apesar da melhora do preço e da produtividade, a produção de petróleo e LGN teve uma melhora discreta, saltando de 2,54 milhões de boe para 2,63, um aumento de apenas 3,8%. Possivelmente, a postergação dos investimentos está contribuindo para o lento crescimento da produção de petróleo. A produção de derivados também cresceu timidamente de 0,5%;

 

Como se pode observar, grande parte do resultado financeiro do trimestre está diretamente relacionado com a venda dos ativos da companhia – à exemplo da TAG, da refinaria de Pasadena e do complexo de distribuição do Paraguai.

 

Cabe ressaltar que, excluindo a venda de ativos, o crescimento do EBTIDA seria bem menor influenciado por variáveis externas como o preço e o câmbio. Analisando os resultados operacionais, chama a atenção o lento crescimento da produção e da venda de derivados, a despeito do potencial gigantesco do pré-sal.

 

Em grande medida, isso se deve à redução dos investimentos e, consequentemente, à demora para a entrada de operação de sondas e plataformas de produção.

 

Neste trimestre, mais uma vez, a Petrobras revisou para baixo seu plano de investimentos de US$ 16 bilhões para US$ 11 bilhões, postergando assim as atividades de perfuração, entre outras. A redução do investimento nessas áreas implica retardar a exploração e produção de poços com alto potencial de receita, o que dificulta mais uma vez a possibilidade da Petrobras de gerar fluxo de caixa operacional.

 

A melhora da relação dívida/LTM EBITDA, amplamente divulgada pela companhia, está ancorada na expansão do EBITDA. Todavia, em função do agressivo programa de desinvestimentos, deve-se alertar possíveis dificuldades de manutenção do índice dívida/LTM EBITDA em valores relativamente baixos, principalmente em períodos de retração no preço de petróleo, uma vez que a Petrobras está desfazendo de seus ativos downstream que são aqueles capazes de gerar resultado no ciclo de baixa do barril do petróleo.

 

Isso compromete a flexibilidade e a capacidade da Petrobras de se proteger da volatilidade do mercado internacional do petróleo. A companhia mantém sua estratégia de ficar cada vez mais refém dos movimentos internacionais do barril do petróleo e da produção do pré-sal que, diga-se de passagem, ainda não tem sido capaz de alavancar a produção nacional em função da postergação de novos investimentos e do “abandono” dos campos maduros.

 

[1] Fonte: Resultados da Petrobras 2T2019.

 

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