Gestão Magda começa a mostrar a que veio na Petrobras
CartaCapital
A Petrobras divulgou na quinta-feira (07/11) seus resultados operacionais e financeiros referentes ao terceiro trimestre de 2024, o primeiro completo da gestão Magda Chambriard. Apesar de cenário adverso, a estatal alcançou lucro líquido de R$ 32,5 bilhões, se recuperando do prejuízo registrado no trimestre anterior, e reforçou sua solidez operacional e financeira. A distribuição de dividendos foi de R$ 17,12 bilhões, equivalente a 52,5% do resultado líquido da companhia no trimestre.
Os principais vetores do resultado positivo da Petrobras no 3T24 foram a elevação dos preços dos derivados no mercado interno (5,3%) e do dólar médio de venda (13,7%), que compensaram tanto a queda de 7,6% no preço do petróleo no mercado internacional (brent), quanto a redução da comercialização de derivados no mercado nacional (2,7%) e das exportações de petróleo e derivados (2,4%).
Com isso, a companhia fechou o 3T24 com uma receita de vendas de R$ 129,5 bilhões, volume 3,8% superior ao verificado no 3T23.
Outro elemento importante para explicar o lucro da companhia no 3T24 foi a queda de 13,8% nas despesas operacionais, que saíram de R$ 26,5 bilhões no 2T24 para R$ 19,9 bilhões no presente trimestre. Diferentemente do observado no trimestre anterior, desta vez o resultado não foi impactado significativamente por itens não recorrentes.
A resiliência econômica da Petrobras no 3T24 ficou expressa na manutenção de sua capacidade de geração de caixa operacional, que alcançou montante de R$ 62,7 bilhões, valor 11,0% superior ao observado no mesmo trimestre do ano anterior (R$ 56,5 bilhões).
Essa geração de caixa permitiu que a companhia ampliasse em 31,3% o volume total de investimentos neste trimestre, quando comparado ao 3T23, saindo de R$ 3,3 bilhões, em 2023, para R$ 4,4 bilhões no presente trimestre. No entanto, vale ressaltar que menos de 3,0% do total de recursos destinaram-se a investimentos em energias de baixo carbono.
A Petrobras também anunciou a distribuição de dividendos equivalentes a R$ 17,12 bilhões no 3T24 (R$ 1,3282 por ação ordinária e preferencial). Esse valor está alinhado à fórmula da Política de Remuneração aos Acionistas vigente.
Neste trimestre, diferentemente do observado ao longo de 2023 e no primeiro semestre de 2024, não houve distribuição de dividendos extraordinários, isto é, a companhia não recorreu ao uso da reserva estatuária de remuneração do capital.
Ademais, encerrou, em agosto, seu Programa de Recompra de Ações de Emissão Própria, que em seus 12 meses de vigência desembolsou o equivalente a R$ 5,6 bilhões na recompra de aproximadamente 3,5% do total de ações preferenciais da companhia em circulação (free float).
Dessa forma, do valor adicionado (ou riqueza) total gerado pela Petrobras nos nove primeiros meses de 2024, equivalente a R$ 307,5 bilhões, parte majoritária (49,4% ou R$ 151,7 bilhões) foram distribuídas para a sociedade na forma de tributos (federais, estaduais, municipais e no exterior).
Instituições financeiras e fornecedores da Petrobras ficaram com R$ 66,0 bilhões (ou 21,5%) do total do valor adicionado gerado na forma de juros, variações cambiais e monetárias, ou ainda através do pagamento de despesas de aluguéis e arrendamentos.
Outros R$ 53,9 bilhões (ou 17,6%) da renda petroleira gerada no período destinaram-se a acionistas na forma de dividendos, juros sobre capital próprio ou lucros retidos.
Por fim, apenas R$ 19,2 bilhões (ou 6,2%) da riqueza gerada pela estatal foi distribuída aos trabalhadores na forma de salários, PLR ou outras formas de remuneração variável.
Em síntese, o resultado do 3T24 já reflete decisões e sinaliza caminhos possíveis para Petrobras sob a gestão de Chambriard, dentre os quais destaca-se a ampliação de investimentos, a aceleração do cronograma de implementação de projetos e a preocupação com a segurança energética nacional.
Esses sinais estão expressos, por exemplo, na decisão de recalibragem dos investimentos totais previstos para 2024, que não só jogou luz sobre as incertezas quanto à aprovação, ou não, da licença ambiental para operar na Margem Equatorial Brasileira ainda neste ano, como sobre sua preocupação com ajustes operacionais e ganho de eficiência no curto prazo.
Ao mesmo tempo, sua gestão reforça o apetite da companhia na recomposição de reservas e avanço sobre novas fronteiras, seja por meio da aquisição de 26 novos blocos na Bacia de Pelotas, em parceria com a Shell, seja pelo avanço exploratório no continente africano e na Colômbia.
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A retomada de projetos no segmento de fertilizantes, com a reabertura da ANSA (PR) e continuidade das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados em Três Lagoas (MS) revelam que a segurança energética nacional é uma agenda.
Por fim, sua gestão contribui para fortalecimento da estatal ao encerrar a obrigação de venda da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil, após renegociação com CADE, e retirar a Petrobras Biocombustíveis (PBio) da política de desinvestimentos.
É cedo para uma avaliação mais precisa, ainda que a atual gestão sinalize em direção à recuperação da capacidade operacional e de investimentos da Petrobras. Contudo, vale ressaltar que essa visão deve estar alinhada a um projeto de empresa integrada, capaz de impulsionar o desenvolvimento industrial nacional e a inserção definitiva da Petrobras na promoção da transição energética justa no Brasil, mas para isso é preciso superar os entraves e interesses de curto prazo.
Artigo originalmente publicado na CartaCapital.