O futuro da transição energética nas majors de petróleo passa pelo desenvolvimento das bioenergias

Nathalia Pereira Dias, Rodrigo Leão
Broadcast Energia
O futuro da transição energética nas majors de petróleo passa pelo desenvolvimento das bioenergias

Recente relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), denominado World Energy Transitions Outlook 2022, retrata a importância das bioenergias para conter o aquecimento global no longo prazo. Além de ser uma das mais alternativas mais viáveis para substituir o uso de combustíveis fósseis, os diferentes tipos de bioenergia são vistos como uma forma de aumentar a captura de carbono na produção dos hidrocarbonetos.

 

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Essa fonte energética tem papel central não apenas para apoiar a transição energética, mas também na abertura de novas frentes de negócio para as empresas da indústria de energia, principalmente de petróleo. Há oportunidades em diferentes ramos da indústria que são estratégicos para o posicionamento desses players no longo prazo.

O futuro da transição energética nas majors de petróleo passa pelo desenvolvimento das bioenergias

Foto: Albrecht Fietz / Pixabay.

Não por acaso, algumas majors de petróleo estão desenvolvendo novos negócios em bioenergia em várias frentes, como na produção de biocombustíveis, conversão de plantas de refino em biorrefino, participação no mercado de bioplásticos, entre outros. Esses ativos, cada vez mais, tornam-se estratégicos para essas empresas tanto para sinalizar seu esforço de apoiar a transição energética, como para “sair na frente” na produção de energias que deve gradativamente ter um peso maior na matriz global.

 

Atualmente, segundo o relatório da Irena, a bioenergia corresponde por cerca de 50% do uso de energia renovável e, até 2050, a mesma representaria 25% do fornecimento total de energia primária no cenário de aumento da temperatura de 1,5°C (Cen1,5). Isto exige triplicar o suprimento primário de biomassa em relação aos níveis de 2019. Se alcançar esses resultados, a bioenergia deve fornecer 17% de todo o consumo final de energia até 2050. Além disso, o uso de biomassa associada à captura e armazenamento de carbono na indústria de energia e em outros setores industriais é fundamental para alcançar reduzir as emissões no longo prazo.

 

Apesar disso, há uma grande preocupação por parte da Irena acerca da disponibilidade de bioenergia para alcançar os níveis estabelecidos no Cen1,5, uma vez que a tendência é de um forte crescimento da demanda por bioenergia, em especial para a frente de descarbonização. Isso não significa negligenciar a importância da bioenergia como produtora de biocombustíveis. Segundo a agência, por conta da sua alta capacidade de substituir os derivados fosseis, o fornecimento de matéria-prima para biocombustíveis líquidos e gasosos também deve se expandir.

 

Nesse sentido, diversos desafios para acelerar a produção precisam ser enfrentados, tais como: (i) maior custo de bioenergia em comparação com os combustíveis fósseis, (ii) a sustentabilidade e disponibilidade de matérias-primas bioenergéticas, (iii) a necessidade de desenvolver algumas tecnologias de segunda geração e (iv) o estabelecimento de extensas cadeias de suprimento de biomassa, incluindo as que envolvem o comércio internacional de commodities de biomassa. Além disso, a bioenergia mal implementada pode agravar os riscos relacionados ao clima para a biodiversidade, a segurança da água e dos alimentos e a subsistência (IPCC, 2022a).

 

Embora esses desafios não possam ser negligenciados, há grandes oportunidades para o uso de bioenergia detalhadas no relatório da Irena. Diversos setores que utilizam bioenergia estão na sua fase “nascente”, isto é, ainda são negócios que tem um elevado potencial de crescimento no longo prazo. Entre estes, podem ser citados o uso de biomassa para geração de eletricidade, biomassa na geração de calor para construções, bioenergia para alimentar os processos industriais, biocombustíveis para transportes e no mercado de geração de bioenergia com captura e armazenamento de carbono.

 

Em função dessas oportunidades, várias majors já estão ingressando em diferentes ramos de bioenergia. A anglo-holandesa Royal Dutch Shell anunciou planos para construir uma instalação avançada de biocombustível de 0,82 milhões de toneladas por ano até 2024 na Holanda, produzindo combustível de aviação sustentável e óleo vegetal hidrogenado (HVO) a partir de resíduos e óleos vegetais sustentáveis, de acordo com notícia veiculada pelo Financial Times. A Shell está trabalhando numa parceria com a SkyNRG e a LanzaJet também na produção de combustível de aviação sustentável.

 

A britânica BP, entre outros projetos, possui uma parceria com a start-up da Californa, Fulcrum, pra construir um fabrica para a produção de combustível sintético renovável, a partir de material orgânico que, de outra forma, seria desperdiçado. Além do negócio com a Fulcrum, a BP está participando em outros segmentos em diferentes países, como no Brasil. No país, a major britânica tem três plantas de processamento de cana-de-açúcar empregando mais de 6 mil pessoas.

 

A americana ExxonMobil, por sua vez, adquiriu uma participação de 49,9% no produtor norueguês de biocombustíveis Biojet AS, que estã desenvolvendo a produção de biocombustíveis a partir de 2025.

 

Como pioneira em biocombustíveis e visando concretizar a ambição de se tornar um dos líderes nos mercados de biocombustíveis sustentáveis, a TotalEnergies converteu refinaria La Mède, em França, numa biorefinaria de classe mundial. “Uma das maiores instalações do seu tipo na Europa, a biorefinaria tem uma capacidade de 500.000 toneladas de biocombustíveis do tipo HVO por ano, a fim de continuar a satisfazer a procura crescente”, segundo informou o site da companhia. Além disso, a empresa também tem feito investimentos no mercado dos bioplásticos. O principal negócio é na produção de ácido polilático (PLA), um polímero produzido a partir de culturas de açúcar e amido com uma pegada ambiental de um terço da dos polímeros convencionais. Atualmente, em parceria com a empresa Corbion, a Total possui uma fábrica PLA de classe mundial que é tido com o primeiro passo para tornar a major francesa uma gigante no segmento.

 

Não restam dúvidas que as bioenergias são fundamentais para o futuro da matriz energética global. Em que pesem os inúmeros desafios para o crescimento dessa indústria, estar a frente dos investimentos nessa indústria criam vantagens estratégicas para as majors de petróleo no longo prazo, tanto para liderar esses segmentos no longo prazo, bem como para melhorarem sua imagem junto a sociedade. Isso será crucial para a sustentabilidade de todas essas empresas na era “pós-fósseis”.

 


 

Artigo publicado originalmente no Broadcast Energia.

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