Famílias brasileiras usam lenha e carvão como alternativas à alta do preço de botijão de gás
Foto: BBC.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14 milhões de famílias já usam lenha ou carvão para cozinhar desde 2018. Nos últimos dois anos, houve uma expansão de 27% de lares utilizando lenha ou carvão, tendo aumentado mais expressivamente (em 60%) na região sudeste do país. Ainda assim, a pesquisa destaca que a disseminação do uso de combustível mais barato aconteceu em todas as regiões do Brasil.
A mudança no hábito dos brasileiros é reflexo da alta no preço do botijão de gás de cozinha entre 2016 e 2019. A elevação dos preços do gás liquefeito do petróleo (GLP), comercializado em botijões de até 13 kg, resultou de mudança repentina de preços da Petrobras, semelhante ao que ocorreu com o diesel e a gasolina. A mudança da política de preços da Petrobras ocorreu em outubro de 2016, fazendo com que os reajustes no valor dos derivados de petróleo passassem a acompanhar a cotação do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional. Como o GLP também é produzido nas refinarias da Petrobras, esse derivado foi impactado com tal mudança.
Desde 2016, o petróleo Brent tem apresentado grandes oscilações geralmente com tendência altista. Dada a nova política da Petrobras, os preços internos de derivados no Brasil se tornaram voláteis e tiveram uma trajetória expansionista desde aquele ano. No caso do GLP residencial, as variáveis que contribuem para a formação do seu preço são o custo do produtor interno e externo, os tributos federais e estaduais, e as margens de distribuição e revenda. Ao observar a composição dos preços desse derivado, o crescimento do preço do produtor interno e externo é o que mais se destaca desde 2016.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), em outubro daquele ano, o valor do botijão de 13 kg de gás residencial era de R$ 13,06, correspondendo a 23% da formação do preço. Já em abril de 2019, esse valor passou para R$ 25,54, compondo 37% do preço passado ao consumidor. Entre esses dois períodos, o preço médio nacional do botijão de gás subiu de R$ 57,40 para R$ 69,01.
Ao mesmo tempo, tendo em vista que grande parte do gás de cozinha consumido no Brasil é importado, cabe notar que o montante de importações passou de 20 milhões de barris de GLP em 2015 para um total de 27 milhões em 2018, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Tal fato igualmente impactou no preço do gás consumido nos domicílios, uma vez que o produto adquirido no exterior obrigatoriamente segue o preço internacional do petróleo.
Esses dois fatores, portanto, tornaram os preços nacionais do GLP mais alinhados à dinâmica internacional do barril do petróleo, acarretando na alta do preço do botijão de gás de cozinha no país. Esse aumento pesa no bolso das famílias, o que torna necessária a busca por outros combustíveis mais baratos.
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Murray Karpf
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