Dever de casa cumprido

Petróleo Hoje

Foto: Petróleo Hoje.

Por Ana Luísa Egues – Os resultados da Petrobras no segundo trimestre mostraram que a companhia foi capaz de atravessar, sem grandes sustos, um período crítico, diante dos fortes efeitos da crise da covid-19 sobre o setor de óleo e gás.

 

A petroleira manteve seu upstream resiliente, com aumento da produção em relação ao mesmo período do ano passado, mesmo com a decisão de hibernar 62 plataformas – a maioria em águas rasas – e apesar das paradas programadas de algumas unidades.

 

“A companhia foi muito inteligente ao se concentrar onde é mais rentável, ou seja, em águas profundas. Isso fez com que os resultados, no upstream, fossem positivos, porque houve um aumento da participação do pré-sal no mix energético e também uma demanda forte das exportações de combustível, por ele estar alinhado às especificações do bunker 2020″, analisou o economista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, em entrevista ao PetróleoHoje.

 

A ampliação de sua participação no mercado internacional e os recordes batidos na exportação de óleo combustível deram alívio aos estoques brasileiros, já que a demanda interna por combustíveis caiu consideravelmente durante o período de isolamento social, que foi mais rígido durante o início do segundo trimestre.

 

“De fato, vimos uma resiliência no diesel, mas o choque na demanda por gasolina e por gasolina de aviação (QAV) foi mais forte; não havia como ‘driblar’. Tanto é que, no refino, a Petrobras fez o que pôde, por isso que a taxa de utilização das refinarias no período foi mais fraca em comparação aos outros anos”, completou Ilan.

 

O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) ponderou, em nota divulgada na quarta-feira (22/7), que o resultado positivo nas exportações também está ligado ao preço do óleo combustível tipo bunker, que registrou alta de 22,67% no período em que a Petrobras bateu recordes de exportação.

 

“O fato de a Petrobras ter suavizado a sua estratégia para enfrentamento da crise parece se dar por dois motivos principais. Em primeiro lugar, pela recuperação da demanda de diesel e gasolina no mercado interno entre maio e junho com relação aos dois meses anteriores, o que fez com que a Petrobras aumentasse tanto as vendas bem como o market share nesses produtos. Em segundo lugar, pelo aumento da demanda externa por alguns derivados (óleo combustível, sobretudo), o que pode ter indicado uma janela de oportunidade para a Petrobras expandir e diversificar a sua participação no mercado internacional”, pontuou o Ineep.

 

Na visão dos especialistas, os próximos passos da petroleira terão de levar em conta a possibilidade de uma segunda onda de contaminação por covid-19 e a guerra comercial entre os EUA e a China, que podem mexer com o preço do barril e o humor dos investidores.

 

Já o UBS destacou, em relatório, a maior resiliência da Petrobras de hoje em relação a “quatro ou cinco anos atrás”, com uma estrutura de custos mais baixa, alocação de capital mais inteligente e uma estratégia direcionada ao valor.

 

“Seguimos com uma avaliação positiva [da Petrobras]. Nossa tese de investimentos, baseada na transferência de valor de dívidas para equity pode levar mais tempo que o esperado, mas continua a sustentar nosso rating de compra, e a venda de quase metade de sua capacidade de refino é um importante passo para isso”, escreveu o UBS, que espera que os desinvestimentos em refino gerem de US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões para a Petrobras.

 

Texto originalmente publicado em Petróleo Hoje.

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