Debate sobre proibição do fracking esquenta em ano eleitoral nos EUA

Foto: John Locher / AFP Photo.

 

O cenário da política energética dos Estados Unidos mudou na última década devido às inovações tecnológicas de exploração de xisto. Segundo apontam dados da petrolífera British Petroleum (BP), de 2010 até 2018, a produção de petróleo do país mais do que dobrou, saltando de 7,5 milhões de barris por dia para 15,3 milhões de barris por dia. Em função disso, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor mundial de petróleo e maior exportador líquido deste recurso. Atualmente, em meio aos debates da eleição presidencial no país, temas como a extração de petróleo a partir do xisto e a luta contra as mudanças climáticas têm gerado discórdia entre os candidatos, que têm divergências sobre os danos e benefícios do fracking.

 

É fato que a produção de petróleo a partir do xisto consome uma enorme quantidade de energia, causando um impacto ambiental maior do que a exploração do petróleo convencional. A dificuldade reside em extrair o gás e óleo de xisto do subsolo, onde encontram-se armazenados em rochas sedimentares a profundidades de até 1,5 quilômetro. O método tradicional para esse tipo de extração é conhecido como fraturamento hidráulico ou “fracking” – que envolve a perfuração de poços horizontais longos em rochas de xisto. No decorrer desse processo, quantidades maciças de água, areia e produtos químicos são bombeadas em alta pressão sobre os poços, criando fissuras nas rochas, que são mantidas abertas pela areia, permitindo que o gás e o óleo de xisto aprisionados escapem para a superfície e sejam coletados.

 

São diversos os impactos deste tipo de extração, assim como as controvérsias são variadas. Países, como França e Bulgária, já baniram o fracking, e grupos ambientalistas vêm cobrando que os Estados Unidos sigam o mesmo exemplo. No caso, parte do Partido Democrata, como o senador e pré-candidato Bernie Sanders, tem confrontado grandes petrolíferas ao exigir a proibição do fracking e defendido um plano governamental que vise reduzir a zero as emissões de gases do efeito estufa até 2050. Na sua perspectiva, os danos climáticos superam os benefícios possíveis. Contudo, não há consenso neste debate extenso, o que possibilita a construção de diferentes cenários que consideram consequências do a proibição do fraturamento hidráulico.

 

De fato, a princípio, as consequências ambientais negativas chamam à atenção. Por exemplo, um efeito deste tipo de extração é a contaminação de aquíferos próximos ao poço exploratório, já que o fracking exige que milhões de litros de água doce se misturem com uma série de substâncias tóxicas, como o chumbo, formaldeído, benzeno, metanol e outras. A maior parte dessa mistura tóxica fica aprisionada no subsolo, podendo contaminar a água potável próxima, essencial para irrigação das plantações em propriedades rurais e para o abastecimento das cidades. Críticos da exploração de xisto afirmam que cidades, como a de Nova York, podem ter sua água potável envenenada por esse processo.

 

Outro efeito do fracking é justamente a emissão de gases poluentes responsáveis pelo aquecimento global. Os Estados Unidos são o segundo maior emissor desses gases, depois da China. Entretanto, há um grande debate sobre essa questão. Por um lado, grupos ambientalistas afirmam que a indústria petrolífera esconde a quantidade exata de metano – o principal componente do gás natural – emitido na atmosfera durante o fracking. Por outro, estudos afirmam que o fracking reduziu as emissões de gases do efeito estufa, já que o gás de xisto passou a substituir o carvão na produção de eletricidade dos EUA. Esses estudos apontam ainda que a flexibilidade do gás natural facilitou a integração de fontes renováveis de energia, como a eólica e a solar, possibilitando assim a expansão da geração de energia limpa. Contudo, cabe destacar que quando há vazamento de metano, o que geralmente ocorre em certa quantidade durante operações normais de extração de gás, ele se torna um potente gás de efeito estufa.

 

Para além de diversas questões ambientais que mobilizam discussões em torno desse assunto, aspectos relacionados ao impacto econômico evidentemente assumem grande espaço no debate. Nesse sentido, de acordo com o American Petroleum Institute, grupo de lobby do setor de petróleo, a proibição do fracking poderia vir a custar mais de US$ 7 trilhões para a economia estadunidense até 2030, acabar com 7,5 milhões de empregos gerados por esse setor já em 2022, reduzir a renda das famílias em US$ 5.400 por ano e aumentar as contas de energia dos consumidores em US$ 600 por ano. Ao mesmo tempo, por outro lado, por exemplo, há o argumento de que projetos de geração de energia limpa se tornem cada vez mais competitivos, ao passo que perfuradores de xisto começam a diminuir seus sucessos nas operações e declarar falência.

 

No que diz respeito mais especificamente aos efeitos econômicos e geopolíticos para os Estados Unidos em âmbito internacional, é importante salientar que esse tipo de extração tem ajudado a isolar o país de choques econômicos globais, particularmente relacionados aos mercados de petróleo. O óleo de xisto do país forneceu mais da metade do crescimento do suprimento global de petróleo, garantindo um ganho de poder dos Estados Unidos frente à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Ou seja, a proibição desse método de extração no país afetaria enormemente não somente o poder e a segurança energética dos Estados Unidos, mas também o mercado internacional de petróleo.

 

De todo modo, vale considerar que já em 2019, alguns relatórios apontaram uma desaceleração notável no crescimento da produção de petróleo na Bacia do Permiano, considerada a maior produtora de óleo de xisto, colocando em risco a autossuficiência estadunidense no longo prazo. Desse modo, novas alternativas certamente devem estar no escopo dos políticos preocupados com a questão energética do país. Fica evidente, nesse sentido, que os pontos a serem considerados nesse debate são realmente diversos e de toda sorte, certamente envolvendo interesses de diferentes grupos político-econômicos nos Estados Unidos.  

Comentários:

Comentar