Considerações sobre os recentes aumentos do preço do etanol hidratado no Brasil
CartaCapital
Nos últimos períodos, o consumidor tem sentido um aumento significativo dos preços do etanol hidratado nas bombas dos postos de combustíveis. Isso se deve, em grande medida, à influência dos preços da gasolina, que funcionam como uma referência para o estabelecimento dos preços do etanol.
O etanol hidratado e a gasolina são bens substitutos, o primeiro praticamente só concorre com o segundo. E, assim sendo, o estabelecimento de preços do etanol sofre grande influência dos preços da gasolina praticados. Em função da eficiência energética de cada combustível, para valer a pena usar o etanol, é preciso que o seu preço seja menor do que 70% do preço da gasolina. E, tendo em vista a concorrência restrita entre os dois combustíveis, o preço do etanol acaba acompanhando as variações verificadas no preço da gasolina, de forma a se manter sempre próximo desta relação, na tentativa de manutenção do mercado ao mesmo tempo em que possibilita a maximização dos lucros dos agentes, em sua maioria privados, da cadeia de produção.
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Deste modo, praticamente sempre que o preço da gasolina aumenta, acaba-se por verificar um aumento também nos preços do etanol mesmo que não tenha havido nenhuma alteração significativa nos custos de produção deste biocombustível.
Gráfico 1: Evolução do Preço Médio Mensal de Revenda da Gasolina Comum e do Etanol Hidratado – em R$ – Brasil – 2015-2021.
Em três meses do início de 2021, o preço médio do etanol na bomba manteve-se na proporção de 70% do preço da gasolina (janeiro, 70%, fevereiro, 69%, e abril, 70%), tendo ficado acima nos meses de março (74%) e maio (76%), em razão de, em ambos os casos, o preço médio do etanol ter aumentado em proporção superior ao preço médio da gasolina (Gráfico 1). Em março, o preço médio do etanol aumentou 17,73% em relação a fevereiro, enquanto o preço da gasolina ampliou em 10,77%. Já em maio, o primeiro cresceu 11,08% em relação a abril, chegando a média nacional de R$ 4,25, enquanto o segundo aumentou 2,86%, atingindo R$5,61.
A variação dos preços da gasolina tem sido muito influenciada pela política de preços de paridade de importação (PPI) adotada, desde 2016, pelas últimas gestões da Petrobras. Tal política considera, para formação dos preços dos derivados do petróleo, o preço internacional do barril de petróleo, a taxa de câmbio e os custos de logística para entrega do combustível. A retomada do preço internacional do barril desde a metade de 2020, e a desvalorização cambial pressionaram muito os preços internos da gasolina e, com isso, houve rebatimento nos preços do etanol hidratado.
Além da influência dos preços da gasolina, neste último período, a elevação recente dos preços do etanol hidratado respondeu também a fatores relacionados à sua cadeia de produção, bem como às variáveis macroeconômicas. Períodos de valorização dos preços internacionais do açúcar tornam o mercado externo mais atrativo, o que faz com que as usinas de processamento de cana-de-açúcar – principal matéria-prima utilizada na produção do etanol no Brasil –redirecionem sua produção para açúcar, em detrimento de etanol, mirando o aumento dos ganhos com a exportação. Ademais a desvalorização do real frente ao dólar também pode favorecer as exportações, mas esta é uma variável mais complexa a ser considerada tendo em vista que encarece o etanol importado, o que faz com que o mercado interno também se torne atrativo para os produtores nacionais, diante da possibilidade de preços menos competitivos do etanol norte-americano, principal produtor mundial.
Em relação ao processo de produção do etanol, os baixos níveis de chuvas no último verão prejudicaram a produção de cana-de-açúcar. A estiagem tem levado os analistas a estimar quedas de produção significativas, principalmente em estados da região centro-sul do país – maior produtora – o que podem ter implicações nos preços tanto do açúcar quanto do etanol hidratado.
Por fim, é importante ressaltar que os preços também podem variar muito de um estado para outro em função de fatores como a localização da produção, que, em grande parte está concentrada na região central do país. Assim, maiores custos de transporte do biocombustível podem reverberar no preço final ao consumidor. Além disso, as alíquotas de ICMS sobre os combustíveis diferem muito entre as unidades federativas. Para o etanol hidratado, vão desde 13,3%, aplicada em São Paulo, até 32%, no Rio de Janeiro, o que influencia no preço final específico de cada localidade.
Artigo publicado originalmente na CartaCapital.
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