Balanço da Petrobras deve trazer aumento do lucro antes dos efeitos da pandemia

Foto: Divulgação.

 

A Petrobras divulga nesta quinta-feira (14) seu balanço dos resultados do primeiro trimestre deste ano. Apesar da crise da Covid-19, os números devem ser bastante positivos. Isso porque a pandemia – que provocou forte redução tanto do consumo interno de derivados como dos preços de petróleo em todo planeta – chegou de maneira mais intensa ao Brasil na segunda quinzena do mês de março, ou seja, ao final do período de análise.

Segundo estimativas do Instituto Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), a expectativa é que a empresa registre um lucro líquido em torno dos R$ 4,6 bilhões, o que significaria uma expansão próxima de 8,7% em relação o primeiro trimestre do ano passado. Isso caso não sejam incluídas no balanço elevadas receitas ou despesas extraordinárias, como impairments. Uma eventual desvalorização dos ativos por conta da queda dos preços, por exemplo, pode ter impactos significativos no resultado.

O EBITDA ajustado, que é o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, deve girar próximo dos R$ 29,3 bilhões, segundo o Ineep. Esse montante é 6,7% superior ao registrado no primeiro trimestre no ano anterior. 

Tabela 1 – Estimativas do INEEP do Balanço da Petrobras

 

 

Esse provável resultado positivo é fruto (i) do aumento expressivo na produção de petróleo, que proporcionou a elevação das exportações; e (ii) da ampliação do fator de utilização das refinarias, expandindo a produção de derivados que foram destinados às exportações.

 

A produção de petróleo aumentou de 1,97 milhões de barris por dia (bpd) para 2,32 milhões bpd entre os primeiros trimestres de 2019 e 2020, respectivamente. Crescimento de 17,7%, comparado ao mesmo período em 2019, que representou uma expansão de 31,4 milhões de barris. Esse resultado deveu-se aos ramp-up (crescimento da curva de produção) dos sete sistemas que entraram em produção nos campos de Búzios (P-74, P-75, P-76 e P-77), Lula (P-67 e P-69) e Berbigão/Sururu (P-68).

 

Essa expansão da produção foi, primordialmente, destinada à exportação de petróleo cru, que cresceu 28,1 milhões de barris entre 1T19 e 1T20. Isso deverá gerar um aumento expressivo das receitas de exportação da ordem de 54%. Cabe destacar que o principal destino das exportações de petróleo foi a China.

 

Outra parte desse aumento da produção de petróleo (cerca de 4,8 milhões de barris) foi direcionada para a ampliação da carga fresca processada nas refinarias da Petrobras. O fator de utilização das refinarias de 75% no 1T19 para 79% no 1T20. Com isso, a produção de derivados cresceu 5,5% (de 1,7 milhões bpd no 1T19 para 1,83 milhões bpd no 1T20).

 

Dada a queda nas vendas de derivados no mercado nacional (cerca de – 5,5%), a Petrobras direcionou o aumento da sua produção de derivados para o mercado externos. Segundo estimativas do Ineep, a receita de exportação de derivados deve crescer cerca de 100%, entre 1T19 e 1T20, em decorrência da expansão da quantidade exportadas (de 14,9 milhões de barris para 20,3 bilhões de barris) e dos preços estimados de exportação (de 264 reais por barril para 392 reais por barril).

 

Esse expressivo desempenho na receita estimada das exportações de derivados está associado, principalmente, ao crescimento nas exportações de óleo bunker (combustível marítimo) e óleo combustível com baixo teor de enxofre com destino ao mercado asiático, principalmente em Cingapura, Hong Kong e China. De acordo com a companhia, esse aumento nas exportações está relacionado com a nova especificação mundial para combustíveis marítimos (IMO 2020), que reduziu o limite de teor de enxofre, criando uma vantagem competitiva para a Petrobras no mercado internacional.

 

Segundo dados da Secex sistematizados pelo Ineep, as exportações de óleos combustíveis (diesel, bunker, fuel-oil etc.) cresceram mais de 140% entre 1T19 e o 1T20, saltando de 10,6 milhões de barris para 25,5 milhões de barris. Em valores, as exportações desses produtores aumentaram 168%, o que indica que o preço do barril do óleo combustível também cresceu.

 

O bom desempenho no mercado externo (exportações de petróleo e derivados), portanto, poderá ajudar a compensar os efeitos negativos da crise no cenário brasileiro. É importante ressaltar que a produção do pré-sal, assim como de um amplo parque de refino com capacidade de produzir diferentes tipos de derivados permitem à empresa uma estratégia de vendas no exterior mais “flexível” atendendo diferentes tipos de mercados e diferentes tipos de demanda.

 

O volume de vendas do diesel e da gasolina caiu em comparação ao primeiro trimestre 2019, respectivamente, 13% e 14%, mas o GLP teve um aumento de 3%, em função do maior consumo doméstico.

 

Além do GLP, ocorreu também elevação no volume de vendas de nafta, que registrou uma expansão de 50% em relação ao 1T2019 motivado, por um lado, pelo crescimento da demanda pela Braskem nos dois primeiros meses do ano e, por outro, pelo maior uso do nafta ao invés do gás natural em alguns polos petroquímicos, como o polo Triunfo no Rio Grande do Sul. Segundo o Jornal do Comércio, “no ano passado, a nafta chegou a custar, em média, US$ 500 por tonelada – hoje, o preço está na faixa de US$ 120, com tendência de queda. (…) a rentabilidade das plantas à base nafta deverá se manter enquanto o preço do petróleo permanecer baixo, o que deve durar, pelo menos, até 2021”.

 

No entanto, a expansão das vendas desses dois derivados não compensou a enorme queda das vendas da gasolina e diesel, que juntos representaram, no 4T19, cerca de 41% das receitas totais de vendas da Petrobras.

 

Apesar dos resultados positivos operacionais e financeiros do balanço no primeiro trimestre de 2020, sobretudo na comparação com mesmo período do ano passado, cabe observar que há uma base de comparação deprimida (1T2019) no que diz respeito à produção de petróleo, em virtude de uma maior concentração de manutenções em plataformas no início de 2019. Quando se observam as comparações da produção e das vendas de petróleo e derivados entre 1T20 e 4T19, há sinais dos primeiros impactos da pandemia na estatal. Esses efeitos devem se aprofundar no segundo trimestre de 2020.

 

Cabe ressaltar que parte desse bom resultado no trimestre, associado a expansão das exportações de derivados, está diretamente relacionada à produção das refinarias do Nordeste (RLAM e RNEST, principalmente) que só no primeiro trimestre produziram mais da metade dos óleos combustíveis da Petrobras. Isso evidencia o papel estratégico desses ativos. Atualmente, as refinarias da Bahia e de Pernambuco integram o plano de desinvestimentos da companhia e, se vendidas, podem vir a representar uma significativa perda receitas de vendas da Petrobras frente as novas demandas do mercado internacional, sobretudo no que diz respeito nova regulação IMO 2020.

 

Se, por um lado, as exportações de derivados parecem ser uma alternativa oportuna para a Petrobras, no contexto da redução da demanda no mercado interno, a expansão da exportação de petróleo cru é marcada por incertezas estruturais, dado o atual cenário de crise e seus efeitos baixistas sobre o preço internacional do petróleo. Entre janeiro e março de 2020, por exemplo, enquanto preço do barril caiu significativamente, alguns derivados, como o próprio bunker, tiveram uma valorização nesse período.

 

Os resultados do balanço da Petrobras devem sinalizar os primeiros efeitos dos impactos da pandemia, que tende a se aprofundar no segundo trimestre de 2020, principalmente se ocorrer uma queda global pelos produtos exportados pela Petrobras. Além disso, deve evidenciar a importância da Petrobras ter uma flexibilidade na gestão dos seus ativos, permitindo obter receitas relevantes atreladas as exportações de petróleo cru, bem como de derivados.

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