Após década dourada, produção de xisto nos EUA dá sinais de cansaço

Foto: Bloomberg.

 

O cenário da política energética dos Estados Unidos mudou fundamentalmente na última década. Nesse período, as inovações na extração de petróleo e gás com os métodos de perfuração horizontal e fraturamento hidráulico transformaram o xisto num dos pilares da autossuficiência energética americana. Em parte graças a isso, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor mundial de petróleo, ultrapassando a Rússia e a Árabia Saudita. Segundo os dados da petrolífera BP, de 2010 até 2018, a produção de petróleo mais do que dobrou, saltando de 7.5 milhões de barris por dia para 15.3 milhões de barris por dia.

 

O crescimento da produção americana fez com que a administração de Barack Obama alterasse a jurisdição sobre o comércio de petróleo no país, que estava em vigor desde a década de 1970. Em dezembro de 2015, a lei que proibia a exportação de petróleo bruto foi revogada, e mais recentemente, em novembro de 2019, os Estados Unidos se tornaram um exportador líquido de petróleo, termo designado aos países cujas exportações de petróleo bruto superam as importações. O presidente Donald Trump elogiou a conquista energética americana, dizendo que o país está se afastando da dependência de petróleo estrangeiro.

 

A produção crescente está localizada principalmente na Bacia do Permiano, localizada nos estados do Texas e do Novo México. Os altos investimentos e as inovações tecnológicas permitiram que as empresas petrolíferas pudessem explorar as abundantes camadas de óleo de xisto da região, outrora consideradas esgotadas. Entre 2011 e 2019, a produção de petróleo da Bacia do Permiano quadruplicou, com a produção de petróleo superando a marca de 4 milhões de barris por dia, segundo Agência de Informação de Energia dos Estados Unidos (U.S. Energy Information Administration – EIA).

 

No entanto, vários relatórios destacaram uma desaceleração no crescimento do petróleo de xisto nos EUA. Segundo matéria de Javier Blas, o cartel da Opep, “além de traders e executivos de petróleo, acreditam que a produção nos Estados Unidos crescerá menos em 2020 do que este ano e a uma taxa significativamente mais lenta do que em 2018. Em teoria, o cartel tem o mercado de petróleo sob controle”.

 

Em 2019 houve uma desaceleração notável no crescimento da produção de petróleo na Bacia do Permiano. Se essa tendência continuar, a produção norte-americana deverá entrar em declínio já nos próximos anos. Convém lembrar que a produção dos poços de xisto diminui num ritmo muito mais veloz do que a dos poços convencionais.

 

Todavia, é importante ressaltar que essas previsões são parte de uma disputa geopolítica que envolve uma perda de poder relativo da Opep frente aos Estados Unidos, num cenário que a produção de petróleo fora do cartel tem crescido, como no Brasil e no Canadá. Embora o declínio da produção de xisto seja bem mais rápido do que a produção tradicional, ainda é cedo “concluir” que a produção de xisto está num declínio irreversível. O ponto mais importante, porém, é que o óleo de xisto não será capaz de garantir a autossuficiência energética americana de longo prazo.

 

Não é por outra razão que o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani reafirmou a importância do Oriente Médio na política externa americana, nação que possui ambições imperiais e hegemônicas. O Oriente Médio continua e continuará sendo uma região-chave para o fornecimento energético e, consequentemente, para o funcionamento do complexo econômico e de poder do Estados Unidos.