Apesar dos resultados operacionais, despesas não recorrentes forçam novo prejuízo da Petrobras

Rafael Rodrigues da Costa, Rodrigo Leão
CartaCapital
Imagem na cor azul escuro, com o logotipo do Ineep ao centro.

A Petrobras divulgou nesta quarta-feira 28 os resultados operacionais e financeiros do terceiro trimestre de 2020. A empresa teve um prejuízo de R$ 1,55 bilhão, 43% menor do que a perda do segundo trimestre, e muito longe de lucro obtido no mesmo período de 2019 que foi de R$ 9,09 bilhões. Todavia, a companhia informou que o resultado recorrente foi um lucro de R$ 3,17 bilhões. Ou seja, o prejuízo foi explicado por despesas financeiras não recorrentes e cambiais.

 

 

Em termos operacionais, as receitas de vendas no terceiro trimestre foram de R$ 70,73 bilhões, um aumento de 39% em relação ao segundo trimestre de 2020 e apenas 8,2% inferior do valor alcançado no mesmo período de 2019. O Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações), ou seja, o lucro operacional, foi de R$ 33,44 bilhões neste terceiro trimestre, 34% maior do que o trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o crescimento foi de 2,6%. Isso significa que, em termos operacionais, a Petrobras já recuperou o patamar pré-crise.

 

 

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A melhora do resultado neste terceiro trimestre mostra que a companhia conseguiu ser resiliente durante a crise da Covid-19 em função do crescimento da produção de petróleo cru e também do excelente desempenho do refino. A empresa conseguiu, ao mesmo tempo, elevar sua produção de petróleo e de derivados aproveitando-se principalmente da recuperação do consumo interno e da demanda asiática tanto para derivados, como para petróleo cru.

 

 

O crescimento nas receitas de vendas da Petrobras foi explicado principalmente pelo aumento no volume de vendas da companhia para o mercado interno (de 1,74 milhão barris por dia (bpd) no segundo trimestre para 2,04 milhões bpd no terceiro trimestre).

 

 

As receitas no mercado externo também contribuíram para melhor o resultado operacional da Petrobras. O aumento das receitas com exportações de petróleo cru e derivados foi de 40% neste terceiro trimestre em relação ao anterior se deveu ao cenário de recuperação nos preços médios desses produtos no mercado internacional e ao aumento da quantidade das exportações.

 

 

As maiores vendas de petróleo e derivados tanto para o mercado externo, como interno afetaram positivamente os resultados dos segmentos de exploração e produção (E&P) e de refino.

 

 

O E&P teve um lucro de R$ 21,90 bilhões, o que representou um crescimento de 128% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 23%. Esse segmento se aproveitou das oportunidades no mercado internacional, que permitiu elevar suas exportações de petróleo cru em 8% neste trimestre frente ao anterior. Além disso, houve um aumento da demanda interna por petróleo em função de petróleo cru por conta da expansão do fator de utilização das refinarias de 70% para 83%. Mesmo com a redução de 31% do preço do Brent, esses fatores permitiram que o resultado do E&P já fosse superior ao terceiro trimestre de 2019.

 

 

No segmento de refino, a Petrobras também teve uma melhora do seu resultado em relação aos trimestres anteriores. O lucro de R$ 8,65 bilhões no terceiro trimestre foi 93% maior do que no trimestre anterior e 77% na comparação com o mesmo período de 2019.

 

 

Tanto o mercado interno como o externo foram responsáveis pelo melhor resultado do refino: no interno, a recuperação do market share da Petrobras associada à recuperação da demanda interna principalmente da gasolina e diesel e, no externo, a elevação das exportações de derivados, principalmente do óleo combustível marítimo.

 

 

A produção principalmente de diesel e gasolina, que cresceu, respectivamente, 22,3% e 33,1% do segundo para o terceiro trimestre de 2020, fez com que Petrobras elevasse seu market share em sete pontos percentuais em ambos mercados.

 

 

O bom desempenho da companhia no mercado externo aconteceu em decorrência, principalmente, do crescimento nas vendas de óleo combustível, que neste trimestre obteve o seu melhor resultado em dois anos. No terceiro trimestre de 2020, as exportações de óleo combustíveis foram de 204 mil barris por dia, 9 mil barris por dia a mais do que o segundo melhor resultado obtido pela companhia no segundo trimestre de 2020.

 

 

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) revelam que esse desempenho se deveu, em grande medida, às exportações para a Ásia. De janeiro a setembro de 2020, as vendas de óleos combustíveis para Cingapura cresceram 52% em relação ao mesmo período do ano anterior. A Petrobras informou que 65% das suas vendas externas de derivados, no terceiro trimestre, foram para o país asiático. Por se tratar de uma região portuária com grande movimento de navios e de comércio marítimo, é bastante provável que essas exportações continuem associadas ao óleo de combustível marítimo.

 

 

Apesar da estratégia exitosa nas suas operações, despesas não recorrentes afetaram o resultado da companhia. Primeiro, a aprovação da adesão aos programas de anistia fiscal no RJ e ES obrigou a Petrobras a desembolsar R$ 1,93 bilhão para encerrar um passivo contingente de R$ 3,9 bilhões e garantir a alíquota acordada de ICMS a ser usada futuramente. Segundo, o pagamento de ágio na recompra de títulos de dívidas onerou a companhia em mais R$ 2,81 bilhões.

 

 

Em contrapartida, a entrada de recursos com venda de ativos no valor de R$ 3,20 bilhões afetou positivamente os resultados da companhia. Todavia, o excelente resultado operacional não é fruto somente da atual estratégia de ampliar a produção e usar seu parque refino, mas também da gestão de vários desses ativos.

 

 

Mesmo assim, a Petrobras continua os vendendo (inclusive sinalizando a possibilidade de vender áreas do pré-sal) e, além do mais, enxugando investimentos, o que deve afetar a capacidade de reação da companhia em crises futuras. Apesar da crise da Covid-19 explicar parte dessa queda, é importante notar que a redução dos investimentos da companhia ocorre desde meados da década passada. Neste trimestre, a Petrobras fez um investimento de US$ 1,63 bilhão é o valor mais baixo desde 2003.

 


 

 

Rodrigo Leão é coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (Ineep) e pesquisador visitante do Núcleo de Estudos Conjunturais da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

Rafael Rodrigues é mestre em Ciências Sociais pela UNIFESP, pesquisador visitante do NEC/UFBA e pesquisador do Ineep.

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