Alta dos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras

Mahatma dos Santos, Rafael Rodrigues da Costa
CartaCapital
Alta dos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras

A Petrobras divulgou na quinta-feira (05/05) os resultados operacionais e financeiros do primeiro trimestre de 2022 (1T22). O lucro líquido da empresa foi de R$ 44,5 bilhões, resultado do aumento das vendas de petróleo e derivados. Esse aumento é fruto da explosão dos preços dos derivados e da elevação da demanda por combustíveis e petróleo no mercado interno. A surpresa, porém, foi o anúncio da distribuição de dividendos no total de R$ 48,4 bilhões.

 

O lucro pode ser explicado, em boa medida, pela elevação de 64,4% no faturamento total de vendas em comparação ao mesmo período do ano passado, contabilizando R$ 141,6 bilhões. Esse resultado positivo decorreu, principalmente, do expressivo aumento das receitas de vendas no mercado interno e externo.

 

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Alta dos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras

Edifício sede da Petrobras no Rio. Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil.

Essas receitas se beneficiaram, de um lado, da expansão de 55,5% dos preços derivados, que acompanharam as cotações internacionais e, de outro, da maior demanda interna de alguns derivados, como QAV e gasolina, e principalmente de petróleo (aumento de 2100% em relação ao 1T21) para abastecer a RLAM (atual Refinaria Mataripe) que agora está nas mãos do Grupo Mubadala. A venda de petróleo, que foi de apenas 9 mil barris por dia no 1T21 para atender o consumo das pequenas refinarias privadas, saltou para 198 mil barris por dia no 1T22 por conta da demanda da Mataripe.

 

O resultado poderia ter sido ainda melhor não fossem os efeitos negativos da venda da RLAM. Ao vender sua 2° maior refinaria em capacidade de processamento, a Petrobras registrou uma queda anual na produção de derivados de 5,3% no 1T22, o que resultou no crescimento de 7,5% nas importações de derivados no mesmo período. Nem mesmo o aumento em 5 pontos percentuais do fator de utilização (FUT) de seu parque de refino, para em média 87%, foram suficientes para restringir as importações. Além disso, ao optar por vender petróleo cru em vez de derivados, a Petrobras abriu mão da margem que pode capturar com a venda de derivados no mercado interno.

 

No mercado externo, as receitas da Petrobras também registraram resultados positivos, com crescimento de 60,8% em comparação a 1T21, sobretudo, pela expansão das exportações de petróleo (6,3%) e óleo combustíveis (6,5%).

 

O volume de dividendos distribuídos aos acionistas neste trimestre será de R$ 48,4 bilhões, recorde histórico para um primeiro trimestre. Esse montante equivale a cerca de 48% do volume total distribuído no ano de 2021. Contudo, segundo comunicado da Petrobras de hoje (05/05), esse montante refere-se, em parte (R$ 40,9 bilhões), a antecipação da remuneração relativa ao exercício de 2022 e, outra parte, no valor de R$ 7,5 bilhões, refere-se a “conta de reservas de retenção de lucros constantes no balanço do exercício social de 2021”.

 

As despesas operacionais mantiveram-se estáveis na comparação com o 1T21, embora as despesas com vendas tenham subido 15,3% neste 1T22.

 

O resultado foi potencializado pela melhora dos resultados financeiros da Petrobras, que no 1T22 foi positivo em R$ 3 bilhões, ante o resultado negativo de R$ 30,7 bilhões no 1T21, refletindo principalmente a apreciação do real frente ao dólar.  As receitas financeiras cresceram 101,2% nesse período, puxadas pelo aumento das receitas com aplicações financeiras e títulos públicos. As despesas financeiras, por sua vez, registraram queda de 40% neste trimestre em relação ao 1T21.

 

Ainda sobre os resultados financeiros, no 1T22 a Petrobras reduziu consideravelmente o seu nível de endividamento, alcançando uma relação dívida líquida/EBITDA de 0,81 no 1T22 (ante 2,03 no 1T21), valor muito inferior a meta de 2,5 que a empresa havia sinalizado em 2017 como principal motivo para a venda de seus ativos. Essa questão coloca em xeque, cada vez mais, a estratégia da companhia de continuar vendendo suas refinarias, campos terrestres entre outros.

 

Além disso, a companhia continua ampliando o seu fluxo de caixa operacional, que no 1T22 cresceu 31,8%, em comparação ao 1T21, alcançando valor de R$ 52, 8 bilhões. Esse valor foi mais de 30 vezes superior aos investimentos realizados pela empresa no mesmo período (R$ 1,7 bilhões), que caíram 7,6%. Esse dado reforça que a estratégia da companhia está ancorada na geração de caixa com objetivo de ampliar a distribuição de dividendo e os investimentos para geração de caixa no futuro estão cada vez mais em segundo plano.

 

Apesar das mudanças recentes nos quadros diretivos da Petrobras, o que se observa é a manutenção de uma estratégia de negócios centrada na geração de valor no curto prazo e dirigida aos seus acionistas. A companhia tem aproveitado a volatilidade dos preços internacionais para obter lucros extraordinários em detrimento dos consumidores e da sociedade brasileira, que tem sofrido com os efeitos perversos da inflação, enquanto os acionistas da estatal recebem dividendos recordes.

 


 

Artigo publicado originalmente CartaCapital.

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